No início do ano, pudemos acompanhar uma grande cobertura e divulgação de órgãos de imprensa acerca de uma reunião de indígenas na aldeia de Piaraçu, no Norte de Mato Grosso.
A reunião, promovida pelo cacique Raoni Metuktire, estrela das organizações-não governamentais que atuam na região, teve a participação de 47 etnias (segundo reportagem da alemã DW Brasil) das 305 existentes no país.
Ali, o cacique “pop star” e a mídia, de uma maneira geral, deixaram claro que a maioria dos presentes seria avessa à política indigenista do governo do presidente Jair Bolsonaro, cujo contexto está aliado com a atual gestão da Funai, que tem falado em melhoria da qualidade de vida dos povos indígenas através do trabalho, aproveitando as características e peculiaridades de cada povo e de suas terras.
Ainda conforme a DW Brasil, a assembleia, que era composta por representantes de menos de 15% das etnias existentes no Brasil, denunciara a invasão de terras indígenas, com o desmatamento por madeireiros; o garimpo ilegal; as queimadas e a expansão da fronteira agrícola.
Raoni reforçou a mensagem de que os indígenas querem paz e respeito ao modo de vida que escolheram: “Índio tem que respeitar o branco, branco tem que respeitar o índio. Todos que vieram até aqui disseram que não querem a destruição, não querem garimpeiros, madeireiros em nossas terras. Isso traz violência, nós não aceitamos isso”.
O que ele esqueceu de dizer é que a maioria dos casos de invasão das terras indígenas por madeireiros, garimpeiros e outros, tem quase sempre um grupo de indígenas que patrocina essas invasões por interesses diversos. Esqueceu de dizer também que, junto a essa minoria de etnias que ele reuniu, está a influência de ONGs como o Instituto Socioambiental (ISA) e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI).
E mais: que ele trouxe cerca de R$ 450 mil do exterior, onde passa a maior parte de seu tempo para patrocinar críticas infundadas ao governo brasileiro. Infundadas porque o que ele pregou, o “respeito ao modo de vida que escolheram”, é exatamente a atual política da Funai. Infundadas porque o que a política indigenista do governo Bolsonaro quer é dar ao índio dignidade por intermédio do uso de uma terra que é rica e que, via trabalho, poderá dar a ele a independência de que tanto precisa e merece.
Ninguém quer excluir os indígenas das decisões sobre seu modo de vida. Deixá-los usar aquilo que possuem não é, como querem passar à população, uma maneira de retirar dos povos originários sua paz e respeito. Muito pelo contrário. Diversas comunidades já se utilizam desse expediente para uma melhora significativa do estilo de vida de suas comunidades.
Exemplos podem ser vistos na Terra Indígena Paresi, em Mato Grosso, que movimenta mais de R$ 20 milhões por ano com o cultivo de grãos em parte de suas terras, com 1,7%, executado pela própria comunidade.
Finalmente, a política que se quer implantar tem por finalidade dar aos índios o que lhes negaram nos últimos anos. Tirar dos invasores, dos madeireiros e garimpeiros a oportunidade de se infiltrarem em terras indígenas com a aquiescência de parte da comunidade em detrimento da maioria.
Retirar das ONGs a possibilidade de explorar a miséria e a falta de oportunidade dos índios brasileiros. O que se quer, de fato, é dar aos indígenas a chance de caminharem sozinhos e de construírem um futuro virtuoso.
*Ricardo Almeida Pinto, ouvidor da Fundação Nacional do Índio (Funai)
PUBLICADO EM: ARTIGO_FUNAI
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