Segundo o município, as amostras de secreções do paciente foram analisadas pelo Laboratório de Fronteira (Lafron), que fica em Tabatinga.

Na imagem, profissionais do Pará são capacitados para os exames de diagnóstico da Covid-19 (Foto:Hugo Tomkiwitz/Agência Belém)

Manaus (AM) – A Prefeitura de Atalaia do Norte informou nesta quarta-feira (25) que o indígena Marubo, com suspeita de novo coronavírus, testou negativo para a doença infecciosa Covid-19, após análises do Laboratório de Fronteira (Lafron) da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS). Com isso, a Secretaria Municipal de Saúde retirou o caso da lista de suspeita e o incluiu na tabela de monitoramento, o que significa que até o momento não há confirmação de indígenas com a doença na Amazônia.

A suspeita de coronavírus no indígena foi anunciada na última sexta-feira (20) pela secretária municipal de Saúde de Atalaia do Norte, Jucelia Graça à reportagem. Ela disse que o indígena apresentou sintomas de febre, tosse e dores no corpo quando foi atendido no Hospital Robson Moss.

À agência Amazônia Real, o coordenador de comunicação da prefeitura de Atalaia, Wellington Carvalho disse que, no sábado (21), funcionários da saúde do município transportaram em um recipiente as amostras de secreção do indígena para o laboratório público Lafron, que fica em Tabatinga, distante a 32 quilômetros do município em viagem de embarcação pelo Rio Solimões.

“O caso (do indígena Marubo) foi descartado nesta segunda-feira (23), através de exame realizado por técnicos da Prefeitura de Atalaia do Norte no Lafron”, afirmou Carvalho, que não explicou como está sendo realizado o monitoramento do indígena e de sua família.

Quando divulgou a suspeita de coronavírus, a secretária Jucelia Graça disse à reportagem que, durante o atendimento, o indígena relatou que apresentava os sintomas há uma semana e que havia tido contato, como guia turístico, com um grupo de cinco estrangeiros norte-americanos que visitavam a cidade. “Os norte-americanos disseram à equipe de saúde que não apresentam sintomas da doença”, contou a secretária na ocasião.

Jucélia afirmou ainda que duas filhas do indígena tinham sintomas de gripe. Disse que a família mora na cidade em maloca, onde vivem 14 pessoas, mas que ele não precisou de internação e estava no isolamento domiciliar.

Em Atalaia do Norte um protesta por melhorias no Dsei Vale do Javari (Foto: Shapu Matís/2016)

A suspeita de coronavírus no indígena provocou uma grande comoção na cidade de Atalaia do Norte, que tem pouco mais de 20 mil pessoas e fica na tríplice fronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru, e distante 1.138 quilômetros da capital, Manaus. É na região que está situada a Terra Indígena Vale do Javari, onde vivem populações de indígenas de recente contato e isolados.

A comoção aconteceu após a secretária Jucelia Graça postar em sua rede social a primeira suspeita da doença. Na postagem ela disse que estava alertando a população, mas acabou provocando medo e insegurança. Depois deste fato, a secretária não falou mais com a imprensa e não atendeu as solicitações de entrevistas da reportagem.

A Amazônia Real apurou, junto as lideranças da região, que o indígena Marubo, que fala pouco o português, ficou incomodado com a divulgação sobre seu estado de sua saúde pela secretaria Jucelia Graça, pois na cidade ele foi rotulado de “suspeito de coronavírus”.

Jucelia Graça é ex-funcionária da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde. No entanto, ela não notificou a Sesai, nem a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS) e a Secretaria de Saúde do Amazonas (Susam), órgãos responsáveis pelo monitoramento da evolução da pandemia de Covid-19 no estado.

Em coletiva de imprensa on-line realizada na segunda-feira (23), a diretora-presidente da FVS, Rosemary Pinto disse que não foi noticiada da suspeita de coronavírus de Atalaia do Norte.  “Nós não recebemos amostras e nem notificação, não temos casos suspeitos ou confirmados do novo coronavírus em indígenas”, concluiu.

O Distrito Sanitária Especial Indígena (Dsei) de Atalaia do Norte, por exemplo, enviou 11 perguntas e solicitou formalmente as informações sobre o procedimento com o indígena Marubo à Jucelia. Ele resumiu as informações em uma única postagem pelo Whatsapp: “após análise da notificação de caso suspeito, e diante da melhora do quadro clínico do paciente, o caso segue em monitoramento”, disse a secretária para os seus amigos da rede social, postando um novo quadro.

Procurado pela reportagem para comentar o resultado negativo para Covid-19 no indígena Marubo, secretário Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Robson Silva dos Santos, disse que acompanha a situação. “Continuamos trabalhando para fortalecer a saúde indígena. Sabemos das dificuldades que as comunidades passam, ainda temos uma grande dificuldade quanto ao suprimento de insumos, tanto para comunidades como para profissionais. Mas essa situação está atingindo a todos devido à grande demanda por esses insumos. Estamos trabalhando para solucionar essa situação e, também, esperamos que os testes se tornem cada vez mais acessíveis e rápidos”.

Rodrigo Tobias, secretário de Saúde do Amazonas salientou que qualquer caso da Covid-19 notificado no interior do estado e que necessitem de internação serão encaminhados a Manaus. “É importante dizer também que o subsistema de saúde indígena,  que é organizado por meio dos distritos de sanitários especiais indígenas,  atendem no nível da atenção básica. Uma vez identificado e comprovado que aquele indígena tem o novo coronavírus, e que necessite de atenção especializada, ele será encaminhado ao Hospital e Pronto Socorro Delphina Rinaldi Abdel Aziz”, afirmou em coletiva na online na segunda-feira (23).

Laboratório faz teste em Tabatinga

O Laboratório de Fronteiras (Lafron) da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), que segundo a Prefeitura de Atalaia do Norte fez o teste de coronavírus nas amostras do indígena Marubo, é o único fora de Manaus. O Lafron) tem parceria com o Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia) para o diagnóstico de arboviroses, como dengue, Zika, Chikungunya e Malária. A reportagem procurou a direção do laboratório para saber como a instituição está preparada para receber a demanda de testes para Covid-19, mas o órgão não atendeu à solicitação de entrevistas.

Ainda na coletiva à imprensa, a diretora-presidente da FVS, Rosemary Pinto, disse que o Lafron não estava está apto para realização de diagnóstico do novo coronavírus. “O Lacen é o único laboratório no estado credenciado para a realização desses exames. Como se trata de um novo vírus, os insumos de laboratório são muito raros. Não existe insumos de laboratório para nós fazermos testes em toda a população brasileira. Então, é necessário o uso racional desses exames. Portanto, todos os casos suspeitos, cujas amostras forem coletadas necessariamente deverão ser encaminhadas a Manaus para que o Lacen processe”.  

Mortes são confirmadas no Norte e Nordeste

O Ministério da Saúde anunciou nesta quarta-feira (15) as primeiras mortes pelo novo coronavírus nas regiões Norte, Nordeste e Sul. Dos 58 casos registrados no país, 48 são em São Paulo e seis no Rio de Janeiro, estados que são o epicentro da epidemia na região Sudeste. Nas últimas horas foram registrados um óbito em cada estado: Amazonas, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

A morte do Amazonas foi anunciada na terça-feira (24) pela Secretaria de Saúde. O empresário Geraldo Sávio, de 49 anos, morador de Parintins, aprestou os sintomas no dia 20 de março e foi transferido da cidade para Manaus em uma UTI aérea com quadro de insuficiência respiratória com grave comprometimento pulmonar.

No Brasil, o total de casos confirmados do coronavírus chega a 2.433. São Paulo lidera o número de casos com 862 confirmados. Em seguida, o Rio de Janeiro (370), Ceará (200), Distrito Federal (160), Minas Gerais (133) e Rio Grande do Sul (123).

Também registram casos confirmados Santa Catarina (109), Bahia (84), Paraná (81), Amazonas (54), Pernambuco (46), Espírito Santo (39), Goiás (29), Mato Grosso do Sul (24), Acre (23), Sergipe (16), Rio Grande do Norte (14), Alagoas (11), Mato Grosso (oito), Maranhão (oito), Piauí (oito), Roraima (oito), Tocantins (sete), Pará (sete), Rondônia (cinco), Paraíba (três), e Amapá (um).

Veja como são os sintomas da Covid-19

Ruas de Manaus estão vazias por causa da quarentena contra a Covid-19 (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o novo coronavírus, o SARS-CoV-2, faz parte de uma família de vírus que causa infecções respiratórias e foi identificado em 31/12/19, após casos registrados na China. Ele provoca a doença Covid-19.

A contaminação pela Covid-19 se espalha de maneira semelhante à gripe, pelo ar após a tosse, coriza e a liberação de gotículas de quem está infectado.

Os sintomas são: febre, tosse, coriza e dificuldade para respirar. Procurar uma unidade de saúde é a primeira atitude a tomar neste caso.

O quadro da pessoa infectada com o coronavírus pode se agravar para uma pneumonia, o que exige a internação do paciente.

Pessoas com mais de 50 anos de idade estão mais vulneráveis, principalmente os idosos.

Quem está com o sistema imunológico debilitado e possui doenças crônicas, como as cardiovasculares, diabetes ou infecções pulmonares também pode adoecer gravemente.

Medidas como fazer uma quarentena voluntária em casa tem sido a melhor forma de combater a disseminação da doença no mundo.

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PUBLICADO EM: AMAZÔNIA REAL