Médico que trabalha com a saúde indígena testou positivo para Covid-19. Durante atendimento clínico, ele teve contato com 15 pessoas.

Na imagem acima, equipe da Sesai enviada para acompanhar indígenas na aldeia Lago Grande (Foto: Secretaria de Saúde de Santo Antônio do Içá)

Uma equipe de profissionais da saúde do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) do Alto Solimões, administrado pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), seguiu de helicóptero na tarde desta quinta-feira (26) do município de Tabatinga, na fronteira do Amazonas com a Colômbia, à aldeia Lago Grande, no município de Santo Antônio do Içá, para monitorar 10 indígenas da etnia Tikuna que foram atendidos pelo médico Matheus Feitosa no dia 19 de março. Ele testou positivo para o novo coronavírus em diagnóstico feito no Laboratório Central de Saúde (Lacen), do governo do estado.

Outros três indígenas Tikuna da aldeia Lago Grande que trabalham como agentes de saúde também estão sendo monitorados. No total, são 13 indígenas Tikuna monitorados pela Sesai. Uma enfermeira e um técnico de enfermagem, que não são indígenas, e que tiveram contato com o médico durante os serviços clínicos na unidade de saúde localizada na aldeia, também são monitorados, mas estão suas residências, na sede de Santo Antônio do Içá. Nesta quinta-feira, o Dsei do Alto Solimões estabeleceu um isolamento dos cerca de 840 moradores da aldeia Lago Grande por 14 dias.

Na coletiva online realizada nesta quinta-feira (26), a presidente da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), Rosemary Costa Pinto, disse que a notificação do teste do médico “foi feita em tempo hábil”, assim como a coleta encaminhada para o Lacen, que processou a amostra com resultado divulgado nesta quarta-feira (25).

“Realmente o caso é positivo. Em função disso, há a necessidade desse deslocamento até a área [Santo Antônio do Içá] para fazer a busca de novos casos; a investigação desses casos. Estão indo profissionais para realizar a coleta e esses exames serão feitos em Manaus no Lacen”, disse a presidente da FVS, destacando que “o médico está com saúde estável, em isolamento domiciliar, e não será trazido para atendimento em Manaus”.

Segundo o biomédico Henoc Neves, que é indígena Tikuna e trabalha na Secretaria Municipal de Saúde de Santo Antônio do Içá, o município tem três casos suspeitos de pessoas que apresentam sintomas de coronavírus. Outras 116 pessoas, que não apresentam sintomas, são monitoradas. Entre eles, os 13 indígenas Tikuna.

Henoc Neves espera que a coleta de amostras feita nesta sexta-feira pela FVS inclua os indígenas, mesmo que eles estejam assintomáticos.

“Dependendo de mim, os primeiros serão os indígenas de Lago Grande e depois aqui na sede do município onde tem sintomáticos isolados. Se eles trouxerem realmente os testes rápido para Covid-19 amanhã (27) mesmo teremos os resultados”, disse Neves.

Aldeia está isolada como prevenção

Aldeia Lago Grande, no Alto Solimões (Foto Secretaria Municipal de Saúde de Santo Antônio do Içá)

A notícia do teste positivo do médico do Dsei do Alto Solimões repercutiu na aldeia Lago Grande e causou apreensão.

O conselheiro de saúde e liderança da Aldeia Lago Grande, José Francisco Pinto dos Santos, falou com a Amazônia Real, via WhatsApp, sobre como os moradores receberam a notícia.

“Agora está um pouco mais calmo e tranquilo, sem apavoro. Mas quando ficamos sabendo que o médico era suspeito de estar com a doença, ficamos meio chocados, apesar de ele ter feito atendimento com máscara. A gente só foi saber há alguns dias, quando ele aguardava os exames. Quando soubemos, logo proibimos o pessoal de sair daqui. Também não estamos deixando ninguém de Santo Antônio do Içá entrar. Até mesmo os Tikuna que moram na cidade”, disse ele.

Segundo Santos, os indígenas que tiveram contato com o médico estão sendo monitorados e a equipe do Dsei que chegou na aldeia nesta quinta-feira está dando segurança aos moradores.

“Evitamos agora ficarmos próximos, falarmos perto. Vamos também proibir aqueles que vão na cidade receber aposentadoria de sair daqui agora. Outra preocupação é com as divisões das casas. Tem casas aqui que têm divisões, tem quartos, mas outras não. Há casas em que a família mora em um só espaço. Vamos ver como resolver para encontrar uma forma de ficarmos separados”, disse ele.

O coordenador do Dsei Alto Solimões, Weydson Pereira, disse que a aldeia Lago Grande terá a presença de uma equipe de cinco profissionais de saúde da Sesai. Segundo Pereira, o médico Matheus Feitosa está em isolamento na casa dele, na sede de município.

Santo Antônio do Içá também fica na região do Alto Solimões, distante 878 quilômetros de Manaus em linha reta. Pereira disse que no município há 237 aldeias do Alto Solimões e todas foram informadas sobre o caso de Covid-19.

“Foi feito isolamento do Lago Grande. Levamos uma equipe da Sesai. Os indígenas foram orientados a não saírem de suas comunidades e evitar ter contato social, aglomeração. Mas nenhum dos indígenas que tiveram contato com o médico apresentou sintomas”, disse Pereira, que informou ainda que no dia 15 de abril deverá chegar uma carga adquiridas pela Sesai com 100 kits rápidos para testar o Covid-19 nos indígenas.

Mas ele acredita que, com a ida da equipe do Lacen nesta sexta-feira a Santo Antônio do Içá, os exames já podem ser feitos antes do dia 15.

“Não sei se eles [FVS] trazem testes rápidos. Se sim, então tem que fazer com os indígenas também, eles são munícipes. O fato da Sesai entrar em ação, isolar e acompanhar é porque nós cuidamos da atenção básica. Se eles [FVS] farão esse serviço, tem que ir na aldeia Lago Grande. Se eles trouxerem kits para coletar amostra e levar, ótimo”, afirmou.

O coordenador do Dsei do Alto Solimões afirmou que Matheus Feitosa integra o quadro de profissionais da Sesai, ligada ao Ministério da Saúde. O médico aproveitou uma folga do trabalho e viajou para os estados de Santa Catarina e Paraná e, durante o itinerário, passou por Manaus. No último dia 18 de março, voltou para Santo Antônio do Içá em uma embarcação pelo rio Solimões. No seguinte (19), tomou medidas de higiene protetiva com uso de máscara, luva e foi para o local de trabalho, onde atendeu dez pacientes Tikuna da aldeia Lago Grande. Depois do almoço, começou a sentir febre e tosse e comunicou os sintomas à coordenação do Dsei.

“Depois que ele [o médico] comunicou para a gente, foi isolado e colocado como suspeito [do novo coronavírus]. Nesta quarta-feira (25) o exame foi confirmado. Ele está na casa dele, aqui em Santo Antonio do Iça”, disse o coordenador do Dsei do Alto Solimões.

Equipe do Dsei chega no porto da aldeia (Foto: Secretaria Municipal de Saúde de Santo Antônio do Içá)

Na rede social Whatsapp, o médico Matheus Feitosa divulgou uma mensagem de texto no mesmo dia em que recebeu o resultado do exame, dizendo que testou positivo para o novo coronavírus. “Acredito ter contraído o vírus durante minha viagem aos estados de Santa Catarina e Paraná, ou ainda durante minha viagem de lancha até Santo Antônio do Içá”, disse na mensagem.

Em outro trecho da mensagem, o médico diz que tomou cuidado para evitar o contágio da gripe. “No dia 18 de março de 2020, onde até então estava assintomático, tive um pouco de tosse, onde prontamente fiz o uso de máscara e todos os protocolos de higienização durante meus atendimentos a fim de evitar qualquer contaminação aos meus pacientes. No dia 19 pela manhã, senti febre. E prontamente me isolei em casa. Onde estou até hoje 25 de março de 2020, data do resultado positivo do teste”, relatou o médico Matheus Feitosa.

A confirmação do primeiro caso de CoEm outro trecho da mensagem, o médico diz que tomou cuidado para evitar o contágio da gripe. “No dia 18 de março de 2020, onde até então estava assintomático, tive um pouco de tosse, onde prontamente fiz o uso de máscara e todos os protocolos de higienização durante meus atendimentos a fim de evitar qualquer contaminação aos meus pacientes. No dia 19 pela manhã, senti febre. E prontamente me isolei em casa. Onde estou até hoje 25 de março de 2020, data do resultado positivo do teste”, relatou o médico Matheus Feitosa.vid-19 em Santo Antônio do Içá levou o prefeito Abrahão Magalhães Lasmar (PSD) a decretar toque de recolher à população, que tem 32 mil pessoas. A medida prevê que todos fiquem em casa das 22h às 6h, sob pena de multa de R$ 300. Durante o dia, diz o prefeito, os moradores serão obrigados a usar máscara cirúrgica. “Com o toque de recolher, vamos evitar que ele se propague. Ninguém vai sair de casa a noite durante os próximos 15 dias”, disse.

Susam pede calma

Vista aérea da aldeia Lago Grande (Foto: Secretaria Municipal de Saúde de Santo Antônio do Içá)

O secretário executivo do interior da Secretaria Estadual de Saúde (Susam), Cássio Roberto do Espírito Santo, afirmou, na coletiva de imprensa desta quinta-feira, que todo o trajeto por onde o médico Matheus Feitosa se deslocou está sendo monitorado: desde seu retorno de Santa Catarina e Paraná, passando pelo bairro onde mora em Manaus até à embarcação que ele pegou para retornar a Santo Antônio do Içá.

“Estamos monitorando passageiros que estavam em contato com esse médico e no município já estão vendo as pessoas que tiveram contato com ele para que a gente faça um trabalho e identifique as possíveis situações e soluções. Eu acho que o mais importante nesse momento é a população se manter calma, seguir as orientações dos profissionais de saúde”, disse.

Indígenas em alerta

Equipe da Sesai reúne-se na escola da aldeia com indígenas (Foto: Secretaria Municipal de Saúde de Santo Antônio do Içá)

O povo Tikuna tem a maior população indígena do país, com cerca de 40 mil pessoas, segundo o Censo do IBGE de 2010. Mas um levantamento de 2014, feito pela Sesai, atesta que são cerca de 54 mil. Os Tikuna formam uma população que habita a fronteira do Brasil com Colômbia e Peru, países onde também estão habitantes desta etnia. Eles falam uma língua de tronco único e se autodenominam povo Magüta.

A região do Alto Solimões tem outros povos indígenas, notadamente os Kokama e os Kambeba, que também têm seus territórios tradicionais localizados nos municípios de Santo Antônio do Içá, São Paulo de Olivença, Amaturá, Tabatinga e Benjamin Constant.

A notícia de que o médico Matheus Feitosa tem Covid-19 se espalhou entre as comunidades, provocando maior rigor no isolamento nas aldeias do Alto Solimões. O acesso à Lago Grande é por via terrestre, em uma viagem que dura de uma hora a 30 minutos, de carro de Santo Antônio do Içá.

À Amazônia Real, o professor Teodorino Manduca Carvalho, do povo Tikuna e morador da aldeia Betânia, afirmou que o resultado do teste de Covid-19 no médico Matheus Feitosa foi anunciado no alto-falante pela equipe de saúde para que “todos os indígenas fiquem em casa”.

“Estamos preocupados. É difícil para nós tudo isso. Os nossos velhos lembraram das antigas doenças, como foi o sarampo. Naquela época, não tinha vacina para sarampo. Então, eles iam para o mato pegar abelha para fazer fumaça. É isso que estão fazendo novamente para evitar a entrada do coronavírus. É um remédio para nos proteger”, conta o professor.

Por:   – PUBLICADO POR AMAZÔNIA REAL – Sesai monitora aldeia indígena Tikuna para evitar casos de coronavírus na Amazônia – Amazônia Real (amazoniareal.com.br)