Uma equipe do Propesca, projeto de pesquisa participativa com pescadores artesanais coordenado pela Embrapa e por parceiros na região amazônica, percorreu na última semana oito municípios apresentando seus primeiros dados consolidados. Os pescadores tiveram acesso à produção de cada comunidade, às espécies mais capturadas, à renda gerada com as pescarias monitoradas, entre outros dados.

Clenio Araujo -

Foto: Clenio Araújo

“Essa produção, sendo mostrada, é muito importante pra provar que nossos pescadores não são só pescadores de protocolo e sim pescadores, trabalhadores pra sobrevivência”, diz Maria Alzenira Alves Pereira, presidente da Colônia de Pescadores de Esperantina, um dos municípios tocantinenses participantes do Propesca.

Já Basílio Cortês Lima, pescador em Araguatins (outro município tocantinense com ações do projeto), entende que existe certa imagem negativa do pescador enquanto profissional. Mas essa é uma situação que pode ser mudada: “a Embrapa, com seu projeto, está ajudando porque já está mostrando os nossos dados que a gente está produzindo, pra gente poder ser reconhecido na frente”.

As reuniões devolutivas mostraram dados do primeiro ano do Propesca. Em 2020, será realizado novo monitoramento da produção. Em síntese, monitores pesqueiros acompanham o desembarque dos pescadores e anotam vários dados. O objetivo é conhecer, mais de perto e com dados mais reais, a produção das comunidades acompanhadas. Os dados e as informações mais próximos da realidade poderão subsidiar a elaboração e a execução de políticas públicas voltadas à pesca artesanal.

Avaliação – O primeiro ano de monitoramento foi positivo, mas ao mesmo tempo apresentou desafios. De acordo com Adriano Prysthon, pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas-TO) e líder do projeto, “a avaliação é muito positiva. A gente conseguiu monitorar cerca de 1600 desembarques pesqueiros e tem percebido uma participação interessante. No entanto, isso também implica em alguns desafios; o principal deles é a adesão”.

O pesquisador segue explicando: “ainda existe um pouco de preconceito quanto ao projeto e essas devolutivas serviram também não só pra gente apresentar tudo o que foi feito no ano passado, como para estimular novas adesões. Pra que os pescadores possam participar mais; possam também contaminar os outros colegas positivamente no sentido de participarem neste ano de forma mais efetiva”.

O Propesca desenvolve ações em três estados da Amazônia Legal: Tocantins; Pará; e Roraima. Em cada um deles, há uma pessoa coordenando a equipe de trabalho. No Tocantins, quem faz esse papel é Onivaldo Rocha, da Cooperativa de Trabalho, Prestação de Serviços, Assistência Técnica e Extensão Rural (Coopter). Ele tem visão parecida com a de Adriano a respeito de como aconteceu o monitoramento no estado.

“Nas cinco comunidades tocantinenses, a gente percebeu infelizmente uma baixa adesão nesse ano de 2019. Porém, com a devolutiva, os dados conseguiram sensibilizar os pescadores e percebemos uma revolução, um certo aumento no interesse e apropriação do projeto por parte dos pescadores. A gente está acreditando que, já no mês de março, haverá uma quantidade de pescadores monitorados superior a todo o ano de 2019. Essa é a nossa expectativa”, relata.

Oito reuniões em seis dias – A agenda da equipe do Propesca foi intensa. Na segunda-feira, 2 de março, a reunião devolutiva aconteceu à noite em Araguatins. No dia seguinte, pela manhã, foi a vez de Esperantina. Na quarta, dia 4 de março, foram duas reuniões: de manhã em Xambioá-TO e, à tarde, em São Geraldo do Araguaia-PA, do outro lado do Rio Araguaia, contando com a equipe do projeto no Pará. Na quinta, Couto Magalhães-TO recebeu a equipe do projeto à tarde e, na tarde do dia seguinte, foi a vez do também município tocantinense de Araguacema. A equipe do Pará fez também outras duas reuniões devolutivas: na sexta, dia 6 de março, em São João do Araguaia-PA e no dia seguinte, sábado, em Itupiranga-PA. E ainda está marcada outra reunião devolutiva: desta vez no dia 14 de março em Marabá-PA.

Onivaldo destaca a importância do trabalho em equipe: “a presença da Embrapa (não só a Embrapa Pesca e Aquicultura, mas a Embrapa Amazônia Oriental e a Embrapa Roraima) participando, junto também com a Unifesspa, deu uma força maior, uma representatividade, e os pescadores puderam perceber a importância que eles têm nesse cenário, a importância que a profissão deles tem para o desenvolvimento na questão de geração de renda e combate à pobreza, já que são famílias que estão em situação de vulnerabilidade”.

A Unifesspa é a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. Além dessa instituição, da Coopter e das três Unidades da Embrapa, participou da equipe que percorreu Tocantins e Pará o consultor em metodologia Lima-Green, que vem auxiliando a equipe com relação a indicadores dos desembarques pesqueiros.

Fundo Amazônia – O Propesca é um dos 19 projetos da Embrapa financiados pelo Fundo Amazônia e operacionalizados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Diversas Unidades da Embrapa coordenam os projetos (quatro dos 19 têm à frente a Embrapa Pesca e Aquicultura). Tudo isso dentro do Projeto Integrado para a Produção e o Manejo Sustentável do Bioma Amazônia.

São parceiros da Embrapa Pesca e Aquicultura no Propesca a Coopter, a Unifesspa e a Embrapa Roraima (Boa Vista-RR). Respectivamente, essas instituições estão à frente dos trabalhos no Tocantins, no Pará e em Roraima. O projeto, cujo nome oficial é “Monitoramento e manejo participativo da pesca artesanal como instrumento de desenvolvimento sustentável em comunidades da região amazônica (TO/PA/RR)”, vai até 2021.

O projeto “Interação, intercâmbio e construção do conhecimento e comunicação nos projetos do Fundo Amazônia” ou, de maneira mais simples, Amazocom, é outro dos 19 projetos da Embrapa atualmente em execução no fundo. Ele vem trabalhando em diferentes comunidades amazônicas numa perspectiva de comunicação comunitária e de construção coletiva de conhecimento. Agora, chegou a vez do Propesca receber ações do Amazocom que irão complementar a divulgação de suas atividades. A Embrapa Amazônia Oriental, a Embrapa Pesca e Aquicultura e a Unifesspa estarão envolvidas nas ações do Amazocom na área de atuação do Propesca no Pará e no Tocantins. Uma das ações será uma oficina de comunicação comunitária marcada para junho deste ano em Xambioá.

Clenio Araujo (6279/MG)
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