A Prefeitura de Atalaia do Norte, no oeste do Amazonas, admitiu que errou ao declarar que técnicos do município fizeram um teste de um paciente indígena Marubo para o novo coronavírus no Laboratório de Fronteira (Lafron) da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS), órgãos do governo do estado.

Por: Amazônia Real

“Não foi feito o teste no Lafron, foi uma falha nossa de comunicação da nossa parte do Município, da qual peço desculpas”, afirmou nesta quinta-feira (26) Wellington Carvalho, coordenador de comunicação da Prefeitura de Atalaia do Norte.

Carvalho só admitiu o erro na divulgação das informações sobre a suspeita de novo coronavírus no indígena após ser procurado, novamente, pela agência Amazônia Real, que o informou que checou sua declaração com a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) da Secretaria de Saúde do Estado do Amazonas (Susam).

Ao responder uma pergunta da agência sobre o teste no Laboratório de Tabatinga em coletiva online, a diretora-presidente da FVS, Rosemary Pinto afirmou: “o Lafron não fez o diagnóstico, nem confirmou, nem descartou e nem encaminhou para o Lacen fazer esse teste, nós não recebemos nenhuma amostra”, disse a diretora.

De acordo com Rosemary, somente o Laboratório Central de Saúde Pública do Amazonas (Lacen-AM) está apto a realizar os testes para detecção da Covid-19, em Manaus.

O Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Atalaia do Norte e a Secretaria Especial de Saúde Indígena, do Ministério da Saúde, também informaram que não foram notificados da suspeita do caso de Covid-19 pela Prefeitura de Atalaia do Norte.

Questionado sobre como a Secretaria Municipal de Saúde retirou o caso do indígena da lista de suspeita e o incluiu na tabela de monitoramento, sem fazer um teste para Covid-19 e não notificar às autoridades de Saúde, Carvalho expôs nova falha da prefeitura com relação a atenção para a doença.

“Quando anunciamos o caso suspeito começou a falha de comunicação do Município. Para descartar o caso só seria possível mediante uma testagem, não foi feito testagem. O que fizeram: colocaram a família em monitoramento até completar os 14 dias. Como ele (o indígena) apresentou melhoras e não teve mais nada (sintomas), foi descartado. Mas ele continua sendo monitorado” afirmou Carvalho.

No dia 20 de março (sexta-feira), a secretária municipal de Saúde de Atalaia do Norte, Jucelia Graças, informou que estava investigando uma suspeita de novo coronavírus no indígena Marubo.

Ela disse que o indígena apresentou sintomas de febre, tosse e dores no corpo quando foi atendido no Hospital Robson Moss. No atendimento, segundo secretária, ele contou que sentia esses sintomas há uma semana, após trabalhar como guia turístico para um grupo de cinco norte-americanos que visitavam o município. “Os norte-americanos disseram à equipe de saúde que não apresentam sintomas da doença”, contou a secretária.

Jucélia afirmou ainda que duas filhas do indígena tinham sintomas de gripe. Disse que a família mora na cidade em maloca, onde vivem 14 pessoas, mas que ele não precisou de internação e estava no isolamento domiciliar.

“Ele não tem quadro para ser internado ainda, mas a gente vai acompanhar diariamente para ver como evolui. Conforme orientação do Ministério da Saúde ele tem quadro de isolamento social”, disse Jucelia à reportagem. Sobre a realização o teste para tirar a dúvida da suspeita, a secretária afirmou que em Atalaia do Norte não havia condições para fazê-lo e que “as amostras dos pacientes indígenas terão que ser enviadas para Manaus”.

No dia 25 de março (quarta-feira), o coordenador de comunicação da prefeitura, Wellington Carvalho, disse que, funcionários da saúde do município transportaram as amostras de secreção do indígena para o laboratório público Lafron, que fica em Tabatinga, distante a 32 quilômetros do município em linha reta pelo rio Solimões, na região do Alto Rio Solimões, fronteira com Colômbia.

“O caso (do indígena Marubo) foi descartado nesta segunda-feira (23), através de exame realizado por técnicos da Prefeitura de Atalaia do Norte no Lafron”, afirmou Carvalho.

Wellington Carvalho explicou porque a secretária Jucelia Graça divulgou a suspeita. “Por que? Porque o indígena, ele teve contato com os turistas, né? Ele estava andando com um grupo de turistas, passou uma semana andando com um grupo de turistas, o que levou a Secretária de Saúde considerar ele um caso suspeito”, afirmou.

Diante de tanta desinformação no caso da suspeita de coronavírus em Atalaia do Norte, que provocou uma comoção na cidade, o coordenador de comunicação também admitiu falha do Município em não notificar o caso às autoridades de Saúde. “Nosso erro aqui em Atalaia foi ter noticiado logo o caso como suspeito de coronavírus sem fazer a testagem. Esse foi nosso erro, a nossa falha”, concluiu Carvalho.

*A fotografia acima é de autoria de Nailson Tenazor. 

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Izabel Santos e Kátia Brasil, da Amazônia Real

Por:  27/03/2020 às 20:20