Projeto coordenado pelo Museu Goeldi, com a participação de cientistas de diversas instituições, revela gratuitamente na internet espécies de peixes ameaçadas de extinção em seus habitats naturais e encontram um rio mais impactado do que imaginavam.
Um grande e qualificado grupo de cientistas que integram o projeto de pesquisa “Fauna de peixes reofílicos da Amazônia: patrimônio natural ameaçado e desconhecido”, coordenado pelo ictiólogo Alberto Akama (MPEG), dá início à divulgação de uma sequência de vídeos com raras imagens capturadas nas profundezas do rio Tocantins, na Amazônia brasileira. Uma preciosidade para quem estuda ou tem curiosidade por espécies desse grupo de seres vivos e seus habitats, postos em xeque-mate pela construção de hidrelétricas na região.
Além do MPEG, a equipe é integrada por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Universidade Federal do Pará (UFPA) e The Academy of Natural Sciences. São eles, com apoio de cada comunidade visitada, que proporcionam uma rica teia de informações a quem não pode empreender excursões subaquáticas e tem na internet uma boa alternativa. Isso inclui gestores públicos.
A primeira viagem foi realizada entre 4 e 15 de novembro de 2019 e resultou em três vídeos. O primeiro contém imagens de até 40 metros de profundidade. O segundo, com detalhes das metodologias de coleta. E o terceiro, explicando o projeto. Alberto Akama revela: “O que mais surpreendeu nesta primeira viagem foi a quantidade de peixes que conseguimos coletar, mesmo com a situação precária do rio Tocantins. Ele está muito assoreado e com um grau de impacto maior do que imaginávamos”.
Alberto Akama explica ser extremamente complexo o processo de captura de imagens pela equipe, mas é recompensador permitir aos internautas o acesso tanto às imagens quanto aos conhecimentos produzidos pelos especialistas. O que a equipe de pesquisadores conseguiu capturar supera o que é obtido por um ROV. “O ponto principal é que um ROV [minisubmarinos nomeados Remotely operated vehicleI] não faz o que uma pessoa pode fazer no mergulho”, indica. E os desafios começam “pelos equipamentos que precisam ser levados até os locais das filmagens. Além disso, a equipe deve levar em conta os riscos do mergulho em um ambiente com forte correnteza, sem luz e com muitas pedras, que causam impactos”.
As expedições cientificas lideradas por Akama superam ainda outro conjunto de limitações de um ROV. “Não é possível coletar os peixes com um ROV, não é possível filmar no meio de uma fresta de rocha. O observador tem uma experiência que não é possível passar para um robô. Essas imagens provavelmente serão a única oportunidade da grande maioria das pessoas de ver os animais que observamos em campo”, garante Akama.
O projeto, financiado pelo Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDD), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, planeja novas expedições, garantindo outros vídeos aos internautas.
Cenário atual – O rio Tocantins é um dos três principais afluentes do rio Amazonas que drenam no escudo brasileiro e é o mais impactado de toda a região amazônica, principalmente pela remoção da cobertura vegetal para uso em agricultura e pecuária e pela perda de habitats, como consequência da construção de usinas hidrelétricas implantadas na bacia Tocantins-Araguaia. É o que alerta o zoólogo Leandro Sousa (UFPA), no primeiro vídeo, acrescentando que “apenas de 20 a 30% das corredeiras continuam existindo. E, o que é mais preocupante, é que existem projetos para destruição de pedrais remanescentes para viabilizar hidrovias”. Exemplo disso é o Pedral Lourenço, uma das áreas visitadas durante a expedição, que incluiu também a Comunidade Tauyri, Itupiranga, Marabá e São João do Araguaia. Nelas, foram localizadas 21 espécies de peixes. “Difundir o conhecimento desses peixes e habitats preciosos que correm o risco de sumir, com a construção de hidrelétricas e hidrovias, é nossa principal meta”, resume Akama.
É possível conferir as três produções na lista de reprodução abaixo:
Os vídeos ficam disponíveis no Youtube, no canal do Museu Goeldi e no canal do professor Leandro Sousa.
Texto: Erika Morhy
Agencia Museu Goeldi
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