Na terça-feira (3) a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari – Univaja se manifestou a respeito do aumento do assédio de grupos missionários fundamentalistas no Vale do Javari.

A nota, destinada à imprensa e demais interessados pela causa indígena, fala sobre a intensificação de ações de cooptação de indígenas, sobretudo jovens estudantes, com o objetivo de desestabilizar as ações do Movimento Indígena. A Univaja critica a nomeação do pastor Ricardo Lopes Dias para a Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC). A organização indígena aponta a nomeação como forma de aumentar a influência missionária, prometendo cargos na FUNAI local para indígenas, causando grande instabilidade nas aldeias.

Confira a nota completa: Aumento do assédio de grupos missionários fundamentalistas no Vale do Javari

A Coordenação da Organização Indígena UNIVAJA, em nome dos povos Marubo, Mayoruna (Matsés), Matis, Kanamary, Kulina (Pano), Korubo e Tsohom-Djapá vem a público novamente informar aos nossos parceiros, à imprensa e demais interessados pela causa indígena sobre o aumento do assédio de grupos missionários em nossa região. Com a recente notícia de que a FUNAI vem sendo instrumento de seus interesses, o que foi consolidado com a nomeação de um missionário com longo histórico fundamentalista para exercer a função de Coordenador Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC), alguns missionários vêm intensificando ações de cooptação de indígenas, sobretudo jovens estudantes com o objetivo de desestabilizar as ações do Movimento Indígena, dar a largada para uma corrida pela “conquista de almas” por religiosos fundamentalistas e desbloquear os entraves para a exploração comercial de nossas terras por um projeto genocida de Governo.

O próprio nomeado para a CGIIRC, pastor Ricardo Lopes Dias, tem exercido direta e indiretamente a articulação, prometendo cargos na FUNAI local para alguns desses indígenas, causando grande instabilidade nas aldeias e no Movimento Indígena. A nossa preocupação é que essas ações sejam consolidadas, de fato, com o único intuído de “abrir as portas” da Terra Indígena para ações nefastas de proselitismo religioso em todas as aldeias que “não foram alcançadas pela bíblia”, inclusive as dos povos isolados, dessa vez, usando-se o órgão indigenista oficial como “ponta de lança” nessa investida etnocida e genocida. Vale ressaltar que tudo isso só não foi alcançado em anos anteriores devido e às lideranças indígenas e às Bases de Proteção da FUNAI que impediam a entrada de estranhos às aldeias que não tivessem o consentimento dos povos indígenas, em conformidade com os procedimentos legais da consulta livre, prévia e informada com as populações indígenas.

Nossos temores vêm sendo expostos há muito tempo e estão ainda mais fundamentados nos últimos acontecimentos que demonstram a ousadia e uma ação orquestrada dentro do atual contexto político no país. No mês de outubro de 2019 o povo Matis denunciou a atuação do missionário norte-americano Andrew Tolkin que estaria fazendo uma expedição ilegal dentro do Igarapé Lambança para acessar os índios isolados que habitam naquela região. Deve-se destacar que em 2014 esse mesmo religioso fundamentalista já foi denunciado formalmente por nós a várias autoridades do Estado (Funai, MPF, Polícia Federal e Exército) por ingressos irregulares em nossa terra indígena. Naquele momento ele utilizava-se de um hidroavião, pilotado pelo missionário da ONG Asas do Socorro, Wilson Kannenberg, para burlar o controle de acesso da Funai na foz de alguns rios da terra indígena.

Na última sexta-feira (28), a matéria da revista Época denuncia a aquisição de um helicóptero pela ONG Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB) para ingresso em terras indígenas para evangelização de indígenas. Segundo a matéria essa aeronave ficará sediada no município de Cruzeiro do Sul – AC, vizinho a Terra Indígena Vale do Javari, e a Funai não se posicionou sobre a autorização de ingresso do órgão para essa aeronave e seus missionários. E não nos surpreenderia nesse contexto atual de ataque aos direitos indígenas, essa autorização ser dada pelo presidente da Funai. Também chegou ao nosso conhecimento um vídeo da Ethnos360 (novo nome da Mission New Tribe, matriz americana da MNTB), onde os missionários mostram imagens do povo Marubo do Vale do Javari e falam abertamente em utilizar este helicóptero para acessar as diversos grupos isolados do Vale do Javari, local de maior concentração de povos isolados do mundo.

Diante de tamanha afronta a nós, voltamos a denunciar e exigir que as autoridades constituídas do país tomem providências para evitar o pior: a escalada de conflitos internos entre os indígenas do Vale do Javari e a destruição da autonomia dos povos isolados, com consequências incontroláveis quanto a violência e a deterioração das relações sociais existente entre os diferentes povos e famílias indígenas.

Atalaia do Norte – AM, 03 de março de 2020.

A Coordenação da UNIVAJA

FONTE: CTI – CENTRO DE TRABALHO INDIGENISTA – https://trabalhoindigenista.org.br/nota-da-univaja-imprensa-aumento-do-assedio-de-grupos-missionarios-fundamentalistas-no-vale-do-javari/