Davi Kopenawa, líder e xamã Yanomami, fez uma declaração urgente alertando que um grupo de indígenas isolados Yanomami “poderá ser exterminado em breve”, se as autoridades brasileiras não agirem agora para remover os garimpeiros que trabalham ilegalmente em suas terras.
Ele diz que o grupo, conhecido como Moxihatatea, está em grave perigo: “Já fugiram muitas vezes. Mas, agora, não podem mais fugir. Os garimpeiros então começaram a roubar a comida dos roçados. Os guerreiros Moxihatetea os atacaram com flechas, mas os garimpeiros, mais violentos, quiseram se vingar atirando com espingardas.”
“Estou muito preocupado. Talvez em breve estarão exterminados. É o que eu acho. Os garimpeiros, sem dúvida, vão matá-los com suas espingardas e suas doenças, a sua malária, a sua pneumonia.”
A declaração foi feita antes da pandemia de coronavírus chegar às manchetes; o vírus aumenta enormemente o perigo pela presença de milhares de invasores no território Yanomami.
Davi também fala sobre os riscos para outras comunidades Yanomami isoladas, que também correm um grande perigo: “São eles que cuidam verdadeiramente da floresta. São os Moxihatetea e todos os povos isolados da Amazônia que ainda guardam a última floresta.”
Ele fez o apelo durante a recente sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra. Pedindo à ONU que pressionasse o governo brasileiro, ele declarou: “Meu povo tem o direito de viver em paz e em boa saúde, porque ele vive em sua própria casa. Na floresta estamos em casa! Os Brancos não podem destruir nossa casa, senão, tudo isso não vai terminar bem para o mundo. Cuidamos da floresta para todos, não só para os Yanomami e os povos isolados. Trabalhamos com os nossos xamãs, que conhecem bem essas coisas, que possuem uma sabedoria que vem do contato com a terra. A ONU precisa falar com as autoridades do Brasil para retirar – imediatamente – os garimpeiros que cercam os isolados e todos os outros em nossa floresta.”
O território Yanomami, a maior reserva indígena do Brasil, foi demarcado em 1992. No entanto, a terra indígena tem sido frequentemente invadida por garimpeiros desde os anos 80. Eles introduziram doenças como gripe, sarampo, pneumonia e malária contra as quais os Yanonami tem pouca ou nenhuma imunidade. Como resultado, muitos indígenas morreram.
A associação Hutukara, do povo Yanomami, estima exista hoje 20.000 garimpeiros trabalhando ilegalmente no território apesar do recente esforço das autoridades para destruir os acampamentos dos invasores e acabar com a dragagem e o tráfego fluvial.
Os garimpeiros continuam a espalhar doenças mortais e a destruir florestas, córregos e leitos de rios. Eles usam mercúrio para separar o ouro que acaba penetrando no sistema aquático, envenenando os peixes e os rios dos quais os Yanomami dependem.
Essa situação catastrófica foi objeto de dois estudos científicos recentes que mostraram que, em algumas comunidades localizadas perto dos campos de mineração, até 90% dos Yanomami têm níveis perigosamente altos de mercúrio em seus corpos. Os efeitos do envenenamento por mercúrio terão consequências devastadoras para a sobrevivência e qualidade de vida dos indígenas.
O sistema de saúde no território é, na melhor das hipóteses, precário e, em algumas regiões, quase inexistente, desde que o governo Bolsonaro encerrou o acordo com médicos cubanos que estavam prestando cuidados vitais de saúde em regiões remotas do país.
Em 2017, a FUNAI fechou cinco de seus 17 postos de proteção que monitoravam e protegiam as terras dos indígenas isolados, incluindo a base perto dos Moxihatatea.
Essa decisão extremamente grave expõe esses povos altamente vulneráveis a ainda mais violência e doenças. A Funai está reconstruindo sua base perto dos Moxihatatea, mas isso pode levar muito tempo.
Se as autoridades não agirem agora para expulsar todos os garimpeiros e proteger o território Yanomami, as consequências serão devastadoras para todos os Yanomami, especialmente para os Moxihatatea e outras comunidades isoladas.
A Fundação Right Livelihood, Survival International e 36 laureados do prêmio Right Livelihood, o “Nobel Alternativo” recentemente enviaram uma carta ao Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, expressando “profunda preocupação com a segurança dos indígenas” e pedindo ação urgente para proteger os Yanomami e seu território.
Davi deu essa declaração em um evento da ONU sobre a grave situação dos povos indígenas isolados do Brasil com a Comissão Arns e o Instituto Socioambiental (ISA), em 3 de março em Genebra: leia a declaração completa aqui.
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