Começou cedo. No último sábado (14), enquanto os moradores de Pacaraima (RR) acordavam, um mutirão comunitário na cidade brasileira localizada na fronteira com a Venezuela iniciava a limpeza e  reforma da praça esportiva do bairro de Suapi.

Fim de tarde em Pacaraima, com crianças brincando em parquinho inflável durante mutirão. Foto: ACNUR/ALAN AZEVEDO

Promovido por Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), associação de moradores do bairro e Prefeitura, o mutirão contou com mais de 150 brasileiros e venezuelanos. Além da limpeza da praça, outras atividades promoveram a convivência pacífica no município que testemunha o impacto do maior fluxo de deslocamento forçado da história recente da América Latina.

Entre os mais interessados no resultado do mutirão estava o time de futebol do bairro de Suapi, o Real Pacaraima, formado por meninas e meninos brasileiros e venezuelanos que treinam quatro dias por semana na praça.

“Usamos todo dia, mas a quadra está abandonada. Está cheia de mato, coisa quebrada, não é um local que acolhe as pessoas. Nem iluminação tem. Com essa arrumação, mais gente virá para cá”, conta a estudante brasileira Eduarda Araújo, de 15 anos e moradora do bairro.

Foi o que aconteceu. O Mutirão Suapi deu uma nova cara à tão amada e utilizada praça esportiva da comunidade. Rafael Levy, chefe do escritório do ACNUR em Pacaraima, explica a importância da ação.

“Pacaraima é primeira cidade brasileira a lidar com a chegada dos venezuelanos. A população local e venezuelana tem poucos espaços públicos para utilizar. Em conversas com a comunidade, identificamos que essa praça é muito utilizada e estava precisando de melhoras”, explica ele.

Rastelagem, pintura, soldagem, manutenção, iluminação, arte urbana e materiais esportivos. O mutirão atravessou o sábado com a presença de pessoas de ambas as nacionalidades, trabalhando juntas pelo bem da comunidade.

Com o avanço dos trabalhos à tarde, começaram os campeonatos esportivos de futebol, vôlei e jiu-jitsu – com a entrega de troféus e medalhas promovida pelo ACNUR – além de apresentação do coral infantil Canarinhos da Amazônia e performances de dança.

A brasileira e líder comunitária Alexandra Feitosa vive em Suapi há quase 20 anos e tem um quiosque de lanches na praça. “Essa quadra ajuda muito a convivência entre brasileiros e venezuelanos, pois os dois grupos se encontraram e têm uma comunicação melhor. As pessoas se unem bastante no esporte”, afirma ela, que participa do time de vôlei e sua filha joga futebol.

Sua vizinha, a venezuelana Crisaory Rondon, mora no bairro há oito meses. “As pessoas são muito carinhosas e sempre dão muito carinho aos meus filhos, que jogam juntos aqui”, conta ela, que reconhece as dificuldades de integração entre brasileiros e venezuelanos fora da quadra comunitária.

“Acontece de brasileiros e venezuelanos se estranharem nas ruas, no comércio. Mas entre os jogos, eles vão falando, compartilhando opiniões. Isso muda a maneira de pensar para se adaptar a um amigo, não importa a nacionalidade. Aqui, jogam e compartilham juntos. E sem briga. Nunca teve problema aqui”, completa Crisaory.

Não só uma, mas duas

Apostando em espaços públicos para promover a convivência pacífica entre brasileiros e venezuelanos, o ACNUR está apoiando a reforma de uma segunda praça, ainda maior, que fica no centro de Pacaraima.

A Praça Thelma Tupinambá, que fica em frente à prefeitura da cidade, também é utilizada diariamente pelos moradores e foi entregue à comunidade no dia 20 de dezembro.

Um dos principais objetivos do projeto é promover uma melhor convivência entre a população refugiada e a comunidade local. Afinal, muitos dos venezuelanos estão de passagem e acabam não se estabelecendo em Pacaraima – mas utilizam os espaços públicos da cidade.

Para isso, é preciso apoiar os brasileiros a receber os novos membros da comunidade de maneira digna e pacífica, ajudando sua integração de maneira mutuamente benéfica não apenas economicamente, mas social e culturalmente.

“Essa união que está revitalizando essas duas praças é para mostrar a força de uma comunidade mais coesa, que trabalha por um mesmo motivo comum. E mostrar que juntos, os brasileiros e venezuelanos, assim como as instituições e organizações que trabalham nessa situação humanitária, podem construir uma cidade melhor”, conclui o chefe do escritório do ACNUR em Pacaraima.

Esta iniciativa conta com o apoio financeiro da União Europeia, que investe no fortalecimento da resposta aos venezuelanos na região Norte do Brasil, possibilitando promover a convivência pacífica entre a população venezuelana e a comunidade de acolhida por meio de diferentes projetos focados nesse objetivo.

FONTE: ONU