Em um pedido desesperado por ajuda para combater o garimpo ilegal em suas terras, o Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana divulga nesta quarta-feira 27/11 uma carta endereçada às principais autoridades do Executivo e do Judiciário brasileiro. No documento, as lideranças descrevem os diversos impactos da presença e atividade garimpeira na Terra Indígena.

O fórum se reuniu na semana passada na comunidade Watoriki, na região do Demini, na Terra Indígena Yanomami. Reuniu 116 lideranças de 26 regiões, representando 53 comunidades de todo o território. Também participaram 7 associações da Terra Indígena: Hutukara Associação Yanomami (HAY), Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes (AYRCA), Associação das Mulheres Yanomami – Kumirayoma (AMYK), Associação Wanasseduume Ye´kwana (SEDUUME), Associação Yanomami do Rio Marauiá e do Rio Preto (KURIKAMA), Texoli Associação Ninam do Estado de Roraima (TANER) e Hwenama Associação dos Povos Yanomami de Roraima (HAPYR).

O Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana foi criado durante o processo de construção do Plano de Gestão Territorial Ambiental da Terra Indígena Yanomami e é hoje a principal instância de tomada de decisão do território de mais de 9 milhões de hectares — a mais extensa terra indígena do Brasil.

Assista ao vídeo manifesto dos Yanomami e Ye’kwana: “Fora, Garimpo!”

Conforme denuncia a carta, “os garimpeiros estão envenenando as pessoas e contaminando rios, peixes, e espantando a caça”. Diagnóstico feito pela Fiocruz revela que em uma comunidade do Rio Uraricoera, na TI Yanomami, mais de 90% das pessoas que participaram da pesquisa apresentaram alto índice de contaminação por mercúrio. “O governo tem o dever de acabar com isso e trabalhar para cuidar da saúde dos povos Yanomami e Ye’kwana e proteger a terra-floresta”, diz o texto.

Memória de massacres

Doenças trazidas pelos garimpeiros foram responsáveis pela morte de pelo menos 20% da população Yanomami na década de 1980. Em meados da década de 1990, as invasões diminuíram por conta de pressão internacional e de várias ações de fiscalização feitas pelos órgãos do governo e pelo Exército, acompanhadas pela Funai. Mas, no final dos anos 2000, o preço do ouro aumentou, o investimento em fiscalização diminuiu muito e as Bases de Proteção da Funai na Terra Indígena Yanomami foram desativadas, o que trouxe o garimpo de volta.

O cenário, que já era negativo, se agravou com a entrada do atual governo. Em reiteradas ocasiões, o presidente Jair Bolsonaro defendeu que as Terras Indígenas devem ser abertas à mineração e prometeu inclusive regularizar o garimpo dentro dessas áreas protegidas.

“Nós já fizemos muitas denúncias e estamos revoltados porque ainda existe garimpo dentro das nossas comunidades. Queremos ação. Nossos avós e tios morreram por causa dos garimpeiros. Nós não queremos repetir essa história de massacre”, afirma o manifesto das lideranças. Confira o documento na íntegra.

FONTE: ISA – PUBLICADO POR: AMAZÔNIA.ORG.BR (NÃO MAIS DISPONÍVEL) 

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