Roma, 5 Out 2019 (AFP) – Uma centena de ultraconservadores críticos do Papa Francisco, a quem acusam de seguir os princípios progressistas da Teologia da Libertação, que propaga “ódio” e “mentiras”, reuniram-se neste sábado em Roma, em uma espécie de contrassínodo sobre a Amazônia.

“Lamento que, para o sínodo que será inaugurado neste domingo, não tenha sido convidado nenhum indígena que pense diferente da corrente desses missionários”, disse à AFP o indígena brasileiro Jonas Marcolino, paralelamente a um encontro realizado em um hotel elegante e central da capital italiana

Marcolino, pertencente ao grupo étnico Macuxi, da região de Roraima, defende “o capitalismo e o progresso”. “Vim aqui para dizer que os povos indígenas querem liberdade econômica, dignidade humana, querem trabalhar, crescer e ser respeitados”, diz para uma plateia de uma centena de pessoas, entre elas o cardeal americano Raymond Burke, que lidera o setor ultraconservador contrário às reformas de Francisco.

“O que a Igreja pede em nossa região é odiar o branco, proibir a abertura de estradas, de eletricidade. É que mostra ódio e não pode ser assim”, afirma, ao se referir à corrente teológica que, segundo ele, apoia-se “no marxismo e no antagonismo entre as classes sociais”.

“Falo sobre os efeitos desta teoria, porque os resultados não são bons”, sustenta Marcolino, que estudou direito internacional e ambiental e lidera a Associação de Defensores dos Indígenas do Norte de Roraima.

As críticas às propostas do encontro de três semanas convocado pelo Papa no Vaticano roubam a atenção dos objetivos do sínodo, que deseja mobilizar o mundo em defesa da Amazônia e seus habitantes.

Os ataques partem principalmente dos setores mais conservadores, entre eles do aspirante ao trono do Brasil Dom Bertrand de Orleans e Bragança, 80, príncipe de uma monarquia extinta em 1889 e católico fervoroso.

“O sínodo não é proporcional à realidade nem aos fatos objetivos”, afirma Dom Bertrand, simpatizante da ultraconservadora associação católica Tradição Família e Propriedade. “Somos contra o comunismo e queremos evitá-lo em nossas pátrias (…) Respeito este Papa, rezo por ele, mas sobre o clima e o Amazonas não é papel da Igreja opinar, sua missão é salvar almas.”

“Isso de que se deve proteger os índios da floresta, porque são puros, para que não sejam contaminados pelo capitalismo, o egoísmo e o desejo de lucro, é o contrário do que querem os verdadeiros índios”, afirma o descendente do imperador Dom Pedro II, que sonha com o retorno da monarquia.

“A maioria dos índios do Brasil já estão integrados. O que se quer é mantê-los na escravidão (…) A Teologia da Libertação traz muitos males para o Brasil”, resume.

O sínodo no Vaticano, do qual participam cerca de 260 pessoas, entre elas todos os prelados dos nove países que compõem a Bacia Amazônica, discutirá a evangelização naquele território, a proteção do meio ambiente, a luta contra as mudanças climáticas, o desmatamento e o direito dos povos indígenas de proteger suas terras e tradições.

“Isso de que o pulmão do mundo está sendo incendiado é falso”, afirma Dom Bertrand, que cita especialistas e outros convidados do encontro em Roma, entre eles Luiz Molion, que nega que a imensa região sofra com as mudanças climáticas e corra o risco de desertificação.

FONTE: AFP

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