Situado a 90 quilômetros de São Luís, no Maranhão, o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), encontra-se em plena operação, realizando o lançamento e o rastreio de foguetes.
O CLA integra a estrutura do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), órgão da Força Aérea Brasileira (FAB), responsável por planejar, gerenciar, realizar e controlar as atividades relacionadas à ciência, à tecnologia e à inovação.
De sua casa, localizada na Agrovila Cajueiro 1, município de Alcântara, o professor Raimundo dos Remédios Araújo Torres observa as operações realizadas no local.
“O lugar onde moro fica, aproximadamente, a 17 km do centro de lançamento. De lá, contemplamos a subida de forma nítida dos foguetes, bem como o barulho. Trata-se de um momento emocionante e de muita curiosidade para todos os que moram próximo ao centro”, relatou Raimundo.
Cerca de 750 militares e servidores civis atuam nas áreas de operações, segurança, logística, administração, entre outros setores. O diretor do Centro de Lançamento de Alcântara, Coronel Aviador Marco Antônio Carnevale Coelho, esclarece as etapas desenvolvidas no local.
“Preparar toda a estrutura de apoio aos lançamentos, como: os veículos de lançamento, com as suas respetivas cargas úteis; o lançamento propriamente dito, no qual esses veículos são posicionados nas nossas plataformas; e o rastreio, que é a última fase”, declarou.
Os lançamentos realizados por meio de Alcântara possibilitam à indústria nacional, aos órgãos de pesquisa e às instituições de ensino o desenvolvimento de estudos em ambiente de micro gravidade, situação em que a linha da atmosfera é ultrapassada e a influência da gravidade é pequena.
Isso viabiliza ao país o desenvolvimento de novos produtos e o aperfeiçoamento de tecnologias.
“A maior parte dos nossos lançamentos estão relacionados com voos suborbitais, que têm por interesse a pesquisa, num primeiro plano”, explicou o Coronel Carnevale.
De acordo com o diretor do CLA, o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) e as indústrias brasileiras possuem competência para o desenvolvimento de artefatos tecnológicos.
“Os artefatos são produzidos na indústria nacional por meio de parcerias. Então, temos competência, hoje, para fazermos, em território nacional, os foguetes de sondagem que utilizamos, bem como os foguetes de treinamento”, acrescentou o Coronel Carnevale.
Desde a sua criação, em 1983, 487 veículos espaciais foram lançados pelo CLA, totalizando mais de 100 operações. O último ocorreu na segunda quinzena de setembro, com a projeção de um foguete de treinamento.
Situado a apenas 250 km da linha do Equador, o CLA possui posição privilegiada para o lançamento de foguetes, que permite uma economia de combustível de 30% para lançamentos em órbitas equatoriais.
Lançadores de Satélites
O Programa para o desenvolvimento de Veículos Lançadores de Satélites (VLS) tem como foco inicial o desenvolvimento do Veículo Lançador de Microssatélites (VLM). Com capacidade de carga menor, o VLM lança cargas em órbita baixa, ao redor da Terra, podendo atender a demanda para o lançamento de microssatélites, tendência do setor que cresce a cada dia.
O desenvolvimento do VLM ocorre em parceria com o Centro Espacial Alemão (DLR).
Acordo de Salvaguardas Tecnológicas
A consolidação das atividades do CLA é fundamental para que o país consiga adquirir a proficiência no lançamento de satélites que atendam a demanda de projetos relacionados com o Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), com o Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) e futuras versões do VLM.
Esses projetos possibilitam ao Brasil dominar, com tecnologia própria, o ciclo de desenvolvimento, produção, lançamento e inserção em órbita de satélites nacionais e estrangeiros, por meio de um centro de lançamento situado em território brasileiro.
Isso representa autonomia no acesso ao espaço e permite avanços de estudos e pesquisas multidisciplinares, além de facilitar: o acesso à internet, a telefonia móvel em áreas isoladas, a agricultura de precisão e o controle de desmatamento e queimadas, entre outros benefícios.
A aprovação do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas viabiliza o uso comercial do Centro de Lançamento de Alcântara com os Estados Unidos e com outros países.
Pelo acordo, os Estados Unidos autorizam o Brasil a lançar foguetes e espaçonaves, nacionais ou estrangeiras, que contenham partes tecnológicas americanas. Em contrapartida, o Brasil garante a proteção da tecnologia americana contida nesses artefatos, proporcionando, então, uma nova e significativa fonte de recursos financeiros ao Programa Espacial Brasileiro.
O diretor do Centro de Lançamento de Alcântara, Coronel Carnevale, elenca as melhorias que podem ocorrer no município de Alcântara (MA) com a aprovação do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas pelo Congresso Nacional.
“Nós mobilizaríamos para região de Alcântara todo um viés de ciência de tecnologia que faria com que o Brasil figurasse como país potência, no sentido de gerar inovação no segmento aeroespacial”, pontuou o Coronel Carnevale.
“Acredito que, com o acordo de salvaguardas, a população alcantarense terá oportunidades de empregos e as políticas públicas serão resolvidas com mais sucesso”, relatou Raimundo, morador de Alcântara.
O Coronel Carnevale ressalta, ainda, que o setor espacial é um dos mais lucrativos na atualidade.
“No segmento espacial, um quilo de satélite lançado gira em torno de 50 mil dólares. Estaríamos ingressando no topo da cadeia produtiva de ciência e tecnologia, que é o produto com maior valor agregado e mais bem remunerado no contexto mundial”, ressaltou.
Lei de Geral de Atividades Espaciais
Em complemento à conjuntura das atividades de lançamento de foguetes no país, é importante ressaltar que está em elaboração – no âmbito do Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro (CDPEB – Decreto nº 9.839, de 14 de julho de 2019) – uma proposta de lei geral para as atividades espaciais, que promoverá um ambiente regulatório mais favorável ao desenvolvimento das iniciativas comerciais de lançamento no Brasil, prestando sinergia aos efeitos decorrentes da aprovação do AST.
Por Lane Barreto
Fotos Alexandre Manfrim
Assessoria de Comunicação Social (Ascom)
Ministério da Defesa
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