A reabertura será nesta sexta-feira (04), às 10h, como parte das celebrações pelos 153 anos do Museu Paraense Emílio Goeldi. Com o investimento da Celpa e apoio do Peabiru, a estrutura do mais antigo aquário público do país foi modernizada. Tem novidades invisíveis e perceptíveis ao público. Seis novas espécies de peixes foram introduzidas no plantel, que agora conta com melhor estrutura e garantia da saúde dos animais. E sabe o peixe elétrico? Os pesquisadores descobriram ser, na realidade, uma das novas espécies descritas para a ciência.

O Aquário Jacques Huber, do Museu Paraense Emílio Goeldi, reabre para o público na manhã desta sexta-feira (04), após permanecer fechado por quatro meses para execução de obras e novas instalações hidráulicas, elétricas e acústicas, além da montagem da exposição inédita Baleia à Vista.  As novidades foram possíveis com a execução do projeto elaborado pelo Instituto Peabiru e com os investimentos da concessionária Equatorial Energia Celpa, que beneficiou o Museu Goeldi por meio do programa Celpa Mais Desenvolvimento Social, em 2018.

Os dirigentes do Museu Goeldi e da Celpa estão felizes com a parceria que possibilitou presentear o público da instituição. A diretora do Museu Goeldi, Ana Luisa Albernaz, expressa seu contentamento sublinhando que “essa é uma experiência exitosa, que irá permitir o acesso da sociedade ao conhecimento científico e a ampliação do entendimento sobre a riqueza e complexidade da Amazônia. O Museu Goeldi comemora os 153 anos com provas de que a instituição está cheia de vida”, reforça Albernaz. “Sabíamos que há muito tempo a instituição ansiava pela reestruturação desse espaço, então a Celpa entrega o novo Aquário como um verdadeiro presente para os visitantes do Museu. Esperamos que ainda mais pessoas queiram vir a este local que é de tão grande importância para o turismo e a cultura do nosso Estado”, comemora o presidente da Celpa, Marcos Almeida.

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Fundado em 1911, o aquário foi concebido pelo botânico Jacques Huber (1867-1914), que então dirigia o museu, com o apoio do desenhista Ernst Lohse (1873-1930), para integrar o complexo de pesquisa e estudo do Parque Zoobotânico da instituição. O espaço apresenta peixes e répteis de grande importância cultural e econômica para a Amazônia, reunindo atualmente cerca de 40 espécies em seu plantel. É uma das maiores atrações do Parque do Goeldi e permite ao público mergulhar no mundo dos animais cuja vida estão relacionadas aos ambientes aquáticos regionais. Pequeno e diverso, o aquário do Museu melhorou sua estrutura para acolher os animais e o público.

Novidades – Para melhorar o conforto acústico no Aquário tanto em atenção aos animais quanto ao público, foram aplicadas placas levíssimas de fibras minerais em cerca de 88 metros quadrados no forro do prédio. A arquiteta da Coordenação de Museologia do Goeldi e responsável pelo acompanhamento das obras no Aquário, Martha Carvalho, explica que foi montada uma estrutura metálica abaixo da laje e nela foram encaixadas as placas. O isolamento alcançado evita que reverberem ruídos no salão e garante um nível aceitável de propagação do som no ambiente – o limite máximo permitido em espaços públicos e vias é, aproximadamente, 80 decibéis, com intuito de proteger a audição humana, mas em um aquário o desejável é algo ainda menor.

Com a mudança no teto, agora, guias e público poderão trocar informações de maneira mais tranquila. A melhoria da acústica também é igualmente uma vantagem para os animais que habitam os tanques expositivos, com destaque aos peixes, já que a propagação do som na água os afeta, sendo por esse motivo que em aquários é sempre pedida a colaboração do público para não bater nos vidros e não falar alto.

A área externa e interna do prédio sofreu intervenções de grande impacto, ainda que menos perceptíveis aos olhos dos visitantes, como a troca do telhado, a implantação do setor extra, maternidade e enfermaria e a impermeabilização da laje, evitando futuras infiltrações. A bióloga Thatiana Figueiredo, chefe substituta do Serviço do Parque Zoobotânico, lembra que a penetração da água de chuva na estrutura do prédio afetava tanto o salão central quanto os terrários expositivos de serpentes e lagartos, além da área de serviço, localizado nos fundos do prédio. “Ainda que a gente viva na Amazônia e a fauna esteja adaptada à umidade, os bichos estão em exibição. Com essa obra, conseguimos estabilizar o ambiente interno, proporcionando melhoria imediata para os animais”, ressalta.

Thatiana explica que os animais do aquário têm singularidades em sua relação com a umidade. As serpentes são mais melindrosas do que o lagarto jacuraru (Tupinambis teguixin) e, dentre elas, a periquitamboia (Corallus caninus) se diferencia da jiboia (Boa constrictor) na sensibilidade quanto à umidade e à temperatura ambiente. “Elas dificilmente descem da árvore e precisamos borrifar água no corpo delas para hidrata-las. Às vezes, elas bebem água do próprio corpo”, ilustra Thatiana.

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Peixes – O plantel de peixes do Aquário Jacques Huber também reserva boas novidades para o público. Seis espécies foram agregadas a esse conjunto e passarão a ser exibidas aos visitantes: aruanã (Osteoglossum bicirrhosum), tamoatá (Hoplosternum littorale); piranha-caju (Pygocentrus nattereri); ituí-terçado (Gymnotus carapo); ituí-cavalo (Apteronotus albifrons); e muçum (Synbranchus marmoratus).

Os exemplares de poraquê, até então conhecidos como integrantes da espécie Electrophorus electricus, foram identificados recentemente como sendo da espécie Electrophorus voltai, uma das novas espécies de peixe elétrico descritas no mês de setembro para a Amazônia.

Segundo o biólogo Horácio Higuchi, responsável pelo plantel do aquário, “durante 250 anos, pensava-se que o poraquê, o peixe elétrico que ocorre nas bacias dos rios Amazonas e Orinoco e em rios do Maciço Central, consistia de uma única espécie, Electrophorus electricus. Recentemente, um grupo de 24 pesquisadores do Brasil e do exterior – incluindo o Wolmar Wosiacki, do Museu Goeldi – examinaram 107 exemplares de toda a Grande Amazônia e concluíram que, na realidade, existem três espécies diferentes de ‘enguia elétrica’”. A descoberta foi descrita em recente artigo publicado pela revista Nature e indica que a espécie tem capacidade de gerar uma descarga elétrica de 860 volts, tornando-se o mais forte gerador de bioeletricidade até o momento, já que o Electrophorus electricus possui uma descarga de 650 volts”.

Toda a beleza do aquário que encanta os visitantes depende de uma estrutura de acesso restrito aos profissionais do Museu Goeldi. “Nos bastidores, a área de serviço tem que ser quase do tamanho do aquário. E é o único espaço do museu que tem que estar funcionando todo o tempo, senão os peixes entram em risco”, revela Horácio Higuchi.

Tanques de apoio – Neste sentido, foi providencial a aquisição de tanques de fibra, pequenos aquários e basquetas que servem como apoio para serviços de quarentena, enfermaria e maternidade. “Quando um animal chega ao aquário, ele não vai diretamente para recintos de exposição ao público”, acrescenta Higuchi. É preciso uma estadia de alguns dias em área própria para observação e limpeza de possíveis parasitas, evitando contaminação de outros animais já adaptados do plantel. O nome dessa área é quarentena.

Na enfermaria, os animais que adoecem são acolhidos em um ambiente exclusivo para serem cuidados até terem condições de retornarem para exibição. E, por fim, na maternidade são abrigados os animais nascidos nos tanques expositivos ou ainda que virão a nascer. Há casos que necessitam um acompanhamento específico, como, por exemplo, situações em que os pais precisam proteger sua prole; ou, ao contrário, quando há casos de canibalismo, sendo necessários ambientes distintos para manter separados pais e filhos.

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Os responsáveis pelo aquário lembram que, no ciclo da vida do plantel, há várias circunstâncias as quais precisam estar atentos. Os peixes crescem e podem extrapolar o tamanho dos tanques expositivos. Ou podem morrer e deixar seu ambiente vazio. E ainda há casos de espécies que não podem compartilhar seus recintos. Esses são apenas alguns dos motivos para que um aquário disponha de tanques extras e o manejo cuidadoso do plantel possa proporcionar uma experiência sempre rica aos visitantes.

Todo o processo que antecedeu a reabertura do Aquário Jacques Huber exemplifica a qualidade da equipe técnico-científica da instituição e também a necessidade de seu constante aperfeiçoamento. Afinal, os trabalhos em um museu de história natural requerem conhecimentos especializados para atender especificações bem diversas.

Na véspera da entrega do Aquário reformado para os visitantes, Horácio Higuchi confidencia sobre suas expectativas: “eu gostaria que o público entendesse que a Amazônia é muito maior do que se vê e muito frágil também. Merece ser bem cuidada”.

Texto: Erika Morhy e Joice Santos

Agência Museu Goeldi Notícias