O curioso Electrophorus electricus, o popular poraquê, conhecido pela descarga elétrica de 650 volts que é capaz de gerar, já não é mais considerado pela ciência como a única espécie de enguia elétrica distribuída na Pan-Amazônia.

Dois séculos e meio desde sua descrição pelo naturalista sueco Carl Linnaeus, 24 pesquisadores do Brasil, Estados Unidos e Suécia assinam artigo publicado pela revista Nature e confirmam hipóteses lançadas por estudos originados no Museu Paraense Emílio Goeldi: existem, sim, outros peixes-elétricos na região. No artigo, os cientistas apresentam o Electrophorus varii e o Electrophorus voltai, com um detalhe surpreendente: um deles, o E. voltai, tem capacidade de gerar uma descarga elétrica de 860 volts, tornando-se o mais forte gerador de bioeletricidade até o momento.

O artido indica que as três linhagens principais da espécie se diferenciaram no transcurso de milhões de anos, mais especificamente nas eras geológicas conhecidas por Mioceno e Plioceno. Mas apenas uma delas havia sido descrita pela ciência até então.

O trabalho teve início com o projeto de pesquisa de Wolmar B. Wosiacki, curador do Acervo Ictiológico do Museu Goeldi e co-autor do artigo, e foi tema de estudo no mestrado da estudante Natália Castro, em 2011, também co-autora. O primeiro autor, David de Santana, deu prosseguimento a esse estudo com o grupo de cientistas da instituição há cinco anos, como bolsista do Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional (DCR), sob a orientação de Wosiacki.

Novo peixe elétrico descoberto na Amazônia

Além da importância da descrição dos novos peixes-elétricos, orientador diz que “o entendimento da diversidade de poraquês pode revelar um amplo espectro de variedades de enzimas com função bioeletrogênicas de grande interesse para a ciência, como produção de nanocondutores naturais e capacitores naturais e baterias de hidrogel, que podem energizar implantes médicos”.

As etapas de pesquisa levaram em conta padrões de dados genéticos, morfológicos e ecológicos das espécies, proporcionando descrições que servem agora de referência para futuros estudos e possíveis aplicações desses conhecimentos.

Coleção Ictiológica – Os holótipos, exemplares usados como modelo para a descrição das novas espécies descritas no artigo da revista Nature, estão depositados no Museu Goeldi, que possui um acervo de abrangência neotropical – região biogeográfica que se estende do sul do México, passando pelas Ilhas do Caribe até o sul da América do Sul. A coleção é composta por cerca de 35 mil lotes, representando mais enfaticamente a Bacia Amazônica, com exemplares de peixes ósseos e cartilaginosos.

O acervo científico é de acesso restrito a pesquisadores, mas os visitantes do Parque Zoobotâncio do Museu Goeldi têm a oportunidade de ver de perto um exemplar vivo de um poraquê, no Aquário Jacques Huber, que reabre, em outubro, durante as celebrações do aniversário de 153 anos da instituição.

Texto: Erika Morhy

FONTE: Agência Museu Goeldi –   Página Inicial