Durante o IX Encontro de Povos do Cerrado, de 11 a 14 de setembro, CTI e ISPN fizeram o lançamento oficial do edital voltado para projetos de Gestão Territorial e Ambiental em Terras Indígenas na Amazônia Oriental.
A chamada destina-se às associações indígenas, indigenistas e socioambientalistas, preferencialmente com atuação junto aos povos indígenas do Maranhão e norte do Tocantins. A chamada ficará disponível para recebimento de projetos até o dia 10 de janeiro de 2020.
As instituições poderão apresentar propostas de até R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). O objetivo do edital é contribuir para a conservação da Amazônia Oriental, por meio da gestão territorial e ambiental integrada de 10 Terras Indígenas, habitadas por cerca de 19.000 indígenas e somam mais de 2 milhões de hectares.
Os projetos deverão contribuir com a capacitação dos membros de comunidades indígenas no uso de ferramentas de gestão para melhorar a governança e proteção das Terras Indígenas. A ideia é apoiar as comunidades indígenas no papel que já desempenham na conservação da biodiversidade e manutenção de serviços ecossistêmicos.
O Projeto “Gestão Ambiental e Territorial Integrada de Terras Indígenas na Amazônia Oriental”, aprovado junto à Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional- USAID é executado pelo Centro de Trabalho Indigenista – CTI em parceria com o Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN e com as organizações indígenas Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (COAPIMA), Articulação das Mulheres Indígenas do Maranhão (AMIMA) e Associação Wyty Catë das Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins.
Seminário de Gestão Territorial e Ambiental em TIs do Cerrado
O lançamento do edital ocorreu durante o seminário organizado pelo CTI em que povos indígenas do Cerrado compartilharam suas experiências de gestão em seus territórios.
A atividade teve parceria da Associação Wyty Catë das Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins, da Associação Xavante Warã, do Conselho Terena e o apoio da Embaixada da Noruega e do Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF, na sigla em inglês para Critical Ecosystem Partnership Fund).
Indígenas de diversos estados de abrangência do Cerrado participaram do seminário e debateram as diferentes realidades enfrentadas pelas comunidades. Existem no Cerrado 95 terras indígenas, mais de 9 milhões de hectares, que fazem parte do território de povos de diversos troncos jê, karib, aruak, entre outros. Uma diversidade muito grande de povos indígenas que trabalham para manter o cerrado em pé.
“O Mato Grosso do Sul é um estado muito violento com povos indígenas. Nós estamos resistindo em nossos territórios porque é o que nos dá a vida. Temos o desafio de recuperar nossas áreas, as nascente que já estão todas secando”, conta Lindomar Terena, membro do Conselho Terena.
No estados do Maranhão e Tocantins, as comunidades Timbira estão avançando na implementação de seus PGTAs ao mesmo tempo que enfrentam as pressões dos empreendimentos.
“Até agora o cerrado não foi valorizado, só falam que tem capim, pau torto, mas nós que conhecemos damos a nossa vida pra proteger. Apinajé, Krikati, Gavião, Kraho, Kanela, estamos vendo o avanço dos empreendimentos, desmatamento pra plantar soja, eucalipto, as rodovias pavimentadas, tudo isso trouxe uma série de problemas”, comenta Oscar Apinajé, da Wyty Catë.
Enquanto cuidam de seus territórios as comunidades Timbira estão também preocupadas com as condições do Cerrado.
“Amendoim, macaxeira, batata doce, fava, nós plantamos como nossos bisavôs. Não existia nada dessas doenças de hoje, diabetes, doenças que eu vejo hoje e que são graves para nós. Temos que cultivar e produzir por nós mesmos e não destruir nossa mata. O branco que cultiva faz desmatamento, mata toda a floresta. A água, que dá vida está desaparecendo. As cabeceiras, nascentes de rio, já vem secando”, lamenta Francisquinho Tephot Kanela.
Para enfrentar as diferentes pressões que afetam as Terras Indígenas, as comunidades estão elaborando e implementando seus Planos de Gestão Territorial e Ambiental. É justamente para fortalecer essas iniciativas que o CTI lançou o edital em parceria com ISPN e Usaid.
Além do seminário sobre gestão das terras indígenas do Cerrado, as comunidades indígenas presentes participaram de outras atividades culturais durante o IX Encontro de Povos do Cerrado. Os povos Timbira e Xavante organizaram uma corrida de toras pela Esplanada dos Ministérios chegando até o Congresso Nacional. Nas apresentações, os Timbira realizaram ainda um encontro de cantadores.
Confira a galeria de imagens do encontro: https://trabalhoindigenista.org.br/cti-e-ispn-lancam-edital-para-apoiar-gestao-territorial-e-ambiental-em-terras-indigenas-na-amazonia-oriental/
FONTE: CTI
Deixe um comentário