A interrupção da educação de crianças e adolescentes é um dos grandes desafios que envolvem o deslocamento forçado.
No Brasil, o ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, tem apoiado espaços de educação e proteção da criança e do adolescente implementados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF Brasil) em Boa Vista e Pacaraima, em resposta ao fluxo de refugiados e migrantes venezuelanos que chegam a Roraima.
São 23 unidades no estado, que já atenderam mais de 15,5 mil crianças e adolescentes até junho de 2019. Os espaços oferecem educação não formal e assistência social e psicológica para crianças e adolescentes entre 3 e 17 anos.
Uma das grandes perdas decorrentes do deslocamento forçado é a interrupção da educação. Crianças e adolescentes que estudavam em seu país de origem e foram obrigados a deixar tudo para trás, inclusive sua escola e tudo o que ela representa, enfrentam dificuldades adicionais durante este processo. Tal situação tem impacto na vida dos jovens que deixaram a Venezuela e buscaram proteção no Brasil.
Para minimizar os efeitos desta situação, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) tem apoiado espaços de educação e proteção da criança e do adolescente, implementados e coordenados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) nas cidades de Boa Vista e Pacaraima, em Roraima. São 23 unidades que já atenderam mais de 15,5 mil crianças e adolescentes entre 3 e 17 anos até junho de 2019.
Espaços educacionais preparam para o ingresso em escolas regulares
Os espaços funcionam dentro e fora dos centros de abrigamento emergencial para refugiados e migrantes em Boa Vista e Pacaraima. As atividades educacionais realizadas nos espaços estão alinhadas com a Base Nacional Comum Curricular brasileira e incluem o ensino de língua portuguesa e espanhola, conhecimentos sobre a história e geografia do Brasil, ciências e outras competências, bem como o desenvolvimento de recreação e esportes. O objetivo é preparar as crianças e adolescentes atendidos para ingressarem na escola regular.
“O projeto de ‘educação não formal’ não substitui o ensino da escola formal, mas integra a pedagogia de emergência que é manter a criança e o adolescente estudando, mesmo estando fora do sistema escolar formal”, explica Marcela Ulhôa, Oficial de Proteção à Criança em Emergências do UNICEF, em Roraima.
De acordo com dados do Stepping Up: Educação para Refugiados em Crise, relatório global do ACNUR sobre educação e refúgio divulgado no começo de setembro, existem em torno de 7,1 milhões de crianças refugiadas no mundo em idade escolar. Desse total, 3,7 milhões, ou seja, mais da metade, não frequentam a escola. Ainda que milhares de crianças e adolescentes venezuelanos estejam matriculados em escolas públicas de Roraima, tal abertura não é suficiente para suprir as demandas de refugiados e migrantes vindos do país vizinho.
Ação conjunta para a integração e proteção das crianças e pessoas em situação de vulnerabilidade
O projeto integrado de educação e proteção da criança e do adolescente do UNICEF conta com o apoio financeiro da União Europeia, que tem contribuído para o fortalecimento da resposta aos venezuelanos na região norte do Brasil com projetos que promovem a integração e a convivência pacífica dessas pessoas com a comunidade local, oferecendo proteção a crianças e outras pessoas em situação de vulnerabilidade.
Para atender o maior número de crianças e adolescentes, as atividades são divididas por grupos de idades. Para Ismitiely Sousa, que é educadora no projeto, um dos maiores desafios é equalizar o ensinamento em turmas com idades tão distintas como é a turma B. “Enquanto alguns estão aprendendo a escrever, outros já fazem cálculos de matemática”, relata.
A educadora explica que por conta da situação no país de origem e a dificuldade do acesso ao ensino, muitos alunos deixam de estudar nas escolas da Venezuela e chegam ao Brasil muito desmotivados para retornar ao ensino. Além disso, vários alunos que estão adentrando no sistema público de ensino encontram algumas dificuldades de adaptação por conta da barreira do idioma.
A estratégia educacional dos espaços vem para amenizar essas barreiras e promover a integração das crianças e jovens refugiados e migrantes ao ensino formal, aproximando-os da língua e cultura locais. Elas encontram nos espaços um ambiente de desenvolvimento, aprendizado e muito carinho por parte dos educadores.
Como relata a pequena Maria Eugenia, de 9 anos: “O que eu mais gosto são as ‘maestras’, pois elas são muito legais com a gente”. O garoto Josue, de 10 anos completa: “Gosto das atividades e das tarefas que a gente faz aqui, que me ajudam a aprender mais”.
Educação para o desenvolvimento
O jovem venezuelano Anderson, de 17 anos, que ainda não está matriculado em uma escola local, atua como voluntário dos educadores durante as atividades para os menores enquanto aprende um pouco de português. “Como ainda não estou estudando e não falo muito português, venho ajudar as professoras e assim vou aprendendo como falar o nome das coisas junto com as crianças.”
Os espaços também trabalham na proteção das crianças atendidas e de suas famílias. “Além da equipe de educadores, contamos com o serviço de psicólogos e assistentes sociais que dão apoio ao projeto”, adicionou Ulhôa, Oficial de Proteção à Criança do UNICEF.
“Crianças precisam de estrutura, rotinas e atividades educacionais e recreativas como parte de seu processo de desenvolvimento. Espaços como esse permitem que elas aprendam, brinquem e reconstruam seu futuro através do conhecimento”, disse Angelica Uribe, oficial de proteção do ACNUR Roraima.
Educação e um futuro melhor é exatamente o que Jenifer, de 38 anos, mãe da pequena Eugenia e de mais 4 filhos, sonha para cada um deles. Atualmente a jovem mãe vive em um dos centros de abrigamento emergencial para venezuelanos em Boa Vista.
Segundo ela, “ter a escolinha aqui no abrigo me traz paz, porque sei que eles estão aprendendo – mesmo que não seja numa escola regular”. “Meu sonho é que meus filhos tenham educação e futuramente consigam um emprego no Brasil”, relatou Jenifer.
FONTE: ONU – ACNUR
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