Em cartaz no Instituto Moreira Salles (IMS), no Rio de Janeiro, a mostra ‘Claudia Andujar – A luta Yanomami’ recupera parte do acervo de mais de 40 mil imagens feitas pela fotógrafa suíça, que passou décadas ao lado dos Yanomami. Radicada no Brasil desde os anos 1950, Claudia Andujar viria a se tornar uma voz global em prol da demarcação de terras indígenas.

Foto: Claudia Andujar

Em cartaz no Instituto Moreira Salles (IMS), no Rio de Janeiro, a mostra Claudia Andujar – A luta Yanomami recupera parte do acervo de mais de 40 mil imagens feitas pela fotógrafa suíça, que passou décadas ao lado dos Yanomami. Radicada no Brasil desde os anos 1950, Claudia Andujar viria a se tornar uma voz global em prol da demarcação de terras indígenas.

O curador da exposição e coordenador da área de fotografia contemporânea do IMS, Thyago Nogueira, explica que a mostra lança luz não apenas sobre a obra da artista, mas também sobre o seu ativismo político.

“A exposição tenta recuperar e conectar essas duas metades da vida dela. E contar a história dessa mulher que partiu de um projeto fotográfico, mas acabou transformando a lei do Brasil e demarcando uma terra indígena, um feito totalmente inédito para uma fotojornalista”, aponta o especialista em entrevista ao Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio).

Claudia Andujar cresceu na região da Transilvânia, atual Romênia. Durante a Segunda Guerra Mundial, sua família paterna foi morta nos campos de concentração nazistas de Auschwitz e Dachau. Ela fugiu para a Suíça com a mãe em 1944 e depois morou nos Estados Unidos, onde trabalhou como intérprete para as Nações Unidas, já que falava cinco línguas. Chegou ao Brasil em 1955 e registrou os Yanomamis pela primeira vez em 1971, aos 40 anos.

Hoje, aos 88, ela conta que fotografar foi o jeito que encontrou de se comunicar com os brasileiros no início, uma vez que ainda não falava português.

Assista abaixo à matéria especial do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio):

Nas décadas de 70 e 80, o povo Yanomami sofreu com as iniciativas de exploração da Amazônia. O governo federal buscava estabelecer o ‘Plano de Integração Nacional’ nas terras indígenas, construindo estradas e apoiando a expansão do agronegócio e da mineração na região. Cerca de 40 mil garimpeiros brasileiros invadiram o território, rico em minérios, desse povo indígena. De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), em torno de 20% dos Yanomamis morreram por doenças e outros impactos associados à chegada dos invasores nesse período.

Até 2011, existiam mais de 19 mil Yanomamis em território brasileiro. Sua terra abrange mais de 96 mil km² de floresta na fronteira com a Venezuela, nos estados de Roraima e Amazonas.

Quando conheceu os Yanomamis, Claudia chegou à conclusão de que eles iam precisar de apoio para sobreviver e de que ela precisava ajudá-los a conseguir a demarcação legal das terras, que veio somente em 1992. “Me dei conta de que eles eram um povo ameaçado. E que, para poderem sobreviver como povo, deveria haver um reconhecimento da terra que ocupavam há séculos”, conta Claudia.

Davi Kopenawa, líder e representante dos Yanomami, esteve ao lado de Andujar na luta pela demarcação da terra indígena e recebeu, em 1989, o prêmio ‘Global 500’, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Segundo o indígena, a obra da fotógrafa é reconhecida e valorizada pelos Yanomamis.

“O trabalho dela é fotografar. Depois, ele vira exposição para ficar (deixar) a imagem dos Yanomamis na cidade, para o povo da cidade ver e conhecer através da foto. E ela fez um bom trabalho”, afirma Kopenawa, hoje com 63 anos.

“Ela é como uma mãe que nos salvou, que realmente entrou na briga por nossa causa. Eu a admiro muito. É uma mulher que se apaixonou pelo nosso povo, que nos abraçou. Ela não é Yanomami, ela é branca, mas virou nossa amiga”, diz o líder indígena.

Atualmente, os Yanomamis continuam sofrendo ameaças de invasão e de redução de suas terras.

Kopenawa reforça a importância das décadas de luta pelos direitos do seu povo: “Sem a terra, o meu povo não vai viver. O papel da liderança que encontrei, de lutar contra ‘gente grande’, é muito perigoso. Mas eu não estou errado. Errado é o homem branco, que não está respeitando. Ele não está escutando nem vendo a destruição, contaminando os rios e poluindo todo o nosso planeta Terra”.

FONTE: ONU –