Com aula inaugural do antropólogo Gersem Baniwa, nesta segunda-feira (12), o novo programa de pós-graduação do Museu Goeldi recebe a primeira turma de mestrado. O curso oferta uma ampla visão das ciências humanas ao agregar especialistas de quatro áreas de estudos, acervos importantes e as experiências museais da instituição.
Organismos nacionais e internacionais e cientistas convergem na defesa da complexidade de formas pelas quais se expressam as culturas de grupos, povos e sociedades humanas. A Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais da Unesco (2005), ratificada pelo Estado brasileiro por meio do Decreto Legislativo 485/2006, é uma dessas vias de confluência. No marco do conceito de diversidade inclui-se ainda a riqueza dos modos de vida, de pensamento, de criação, produção, difusão dos processos culturais. É com esta perspectiva que o Professor Doutor Gersem José dos Santos Luciano ministra, na próxima segunda-feira (12), às 9h, a aula inaugural da primeira turma do curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Diversidade Sociocultural (PPGDS), do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), no Campus de Pesquisa da instituição, em Belém.
O pesquisador pertence à etnia Baniwa. Nascido na aldeia Yaquirana, no Alto Rio Negro (Amazonas), Gersem tem uma sólida trajetória no campo da política educacional, tanto no ambiente acadêmico – como professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) – quanto na gestão pública – como secretário de Educação do município de São Gabriel da Cachoeira (AM), entre os anos de 1997 e 1999. Ele também é integrante do Conselho Nacional de Educação em dois momentos distintos (2006 a 2008 e 2016 a 2020). O tema da aula é a “Interculturalidade amazônica nas trilhas da diversidade sociocultural” e Gersem abordará “diferentes aspectos e dimensões teóricas e práticas da diversidade sociocultural na Amazônia, a partir dos sujeitos e vozes específicos dos povos indígenas e comunidades tradicionais”. É um dos 13 autores que assinam artigos no e-book “Desafiando Leviatãs: experiências indígenas com o desenvolvimento, o reconhecimento e os Estados”, lançado pelo MPEG no último dia 3 de julho e acessível online gratuitamente. A publicação do lança um olhar sobre o protagonismo indígena e as relações interétnicas em cinco países do continente americano.
São Gabriel da Cachoeira é a cidade brasileira com maior número de indígenas entre seus habitantes. Na cidade amazonense, 29.017 são indígenas, o que corresponde a 76,6% dos habitantes de São Gabriel da Cachoeira, conforme o Censo Demográfico do IBGE (2010). Distribuídos nas cinco regiões geográficas do país, os indígenas somam uma população de 817.963 habitantes, pertencentes a 305 diferentes etnias. Deste universo, 315.180 moram nas zonas urbanas e 502.783, na zona rural. E no Ano Internacional das Línguas Indígenas, celebrado em 2019 pela Unesco, vale destacar que o Brasil é o berço de 274 línguas.
Populações – O Museu Goeldi é referência na construção de conhecimentos sobre os povos indígenas e em parceria com os povos indígenas, especialmente na Amazônia, onde se concentra a maior quantidade de etnias, que totalizam 37,4% do contingente populacional indígena do Brasil. Claudia López Garcés, antropóloga da instituição e coordenadora do curso, ressalta como é forte a relação do MPEG com a história indígena, utilizando como exemplo o caso do povo Kayapó. “O vínculo do Museu Goeldi com os Mebêngôkre-Kayapó é centenário. Este povo têm uma memória e uma relação com o MPEG muito forte, tanto que nossa hipótese é de que o Museu já forma parte dos bens que eles vão transmitindo de geração em geração”.
O Programa de Pós-Graduação em Diversidade Sociocultural possibilitará ainda expandir os estudos sobre a heterogeneidade de culturas e populações amazônicas, trazendo aportes de áreas como a Antropologia, a Arqueologia, a Linguística e as Ciências Biológicas, sob firme base de estudos museais.
O historiador Nelson Sanjad, vice-coordenador do curso, explica que o pioneirismo do Museu Goeldi possibilitou que se consolidassem estudos e a formação de acervos antropológicos (15 mil objetos oriundos de 119 povos indígenas) e arqueológicos (120 mil objetos e 2 milhões de fragmentos) que se tornaram referências, muitas vezes únicas, da diversidade cultural da Amazônia. Os acervos de Arqueologia e Etnologia possuem expressivo conjunto de peças tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A Linguística é outra área fortemente entrelaçada às Humanidades: seu acervo está disponível para consulta online e conta com mais de 20 mil itens referentes a 80 línguas indígenas da Amazônia.
Ineditismo – A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) aprovou o curso do MPEG em dezembro de 2018 e destacou seu ineditismo. “A proposta do programa articula de forma coerente e inovadora disciplinas como Antropologia, Arqueologia, Linguística e Ciências Biológicas. Tem-se então um perfil de programa sticto sensu acadêmico antropologicamente informado, mas com viés sistemático, que contempla interfaces até o momento menos exploradas pelos cursos existentes”.
O programa acolhe um corpo docente de 20 pesquisadores e 14 alunos em três linhas de pesquisa: “Cultura e patrimônio”, “Povos indígenas e populações tradicionais” e “Sociologia, diversidade sociocultural e ocupação territorial”. Além das oito vagas preenchidas por meio da modalidade de ampla concorrência, outras duas foram ocupadas por candidatos inscritos na modalidade pretos e pardos e duas na modalidade comunidade tradicionais. Como política afirmativa, o programa ofereceu ainda a realização simultânea de provas em seis cidades, uma delas no estado do Amazonas. Mais informações podem ser acompanhadas no site do programa.
Serviço | Aula Inaugural do Programa de Pós-graduação em Diversidade Sociocultural (PPGDS)
Palestrante: Prof. Dr. Gersem Baniwa (UFAM)
Tema: “Interculturalidade amazônica nas trilhas da diversidade sociocultural”
Data/Horas: 12 de agosto (segunda-feira), às 9h.
Local: Campus de Pesquisa do Museu Goeldi – Av. Perimetral, 1901. Terra Firme
FONTE: Agência Museu Goeldi – Notícias
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