Dourado, o cair do sol iluminou milhares de miçangas, marcando o início da III Feira dos Povos do Médio Xingu, em Altamira-PA. Tucum, babaçu, jenipapo e muitos outros produtos da floresta, transformados pelo conhecimento tradicional de indígenas e extrativistas da região, chegaram a milhares de moradores da área urbana, no último fim de semana (3 e 4 de agosto).
A indígena de 25 anos trouxe, junto com outras mulheres, diversas peças entre colares, pulseiras, cabaças e vassouras. “Fui escolhida pela comunidade para vir. Trouxemos os produtos que são feitos por eles também. A feira é uma oportunidade para a gente vender e mostrar como é nosso trabalho que muitas pessoas não conhecem. É bom para trocar experiências”, comenta.
Assim como o fazer artesanal, as idosas mostram às mais jovens a importância de ocupar o espaço promovido pela feira. Maria Xipaya é umas das indígenas mais antigas e conhecidas de Altamira. De pais Xipaya e Kuruaya, Maria representa, nas peças que expõe, a miscigenação comum entre esses dois povos. Mesmo com mais de 80 anos, ficou na feira até o último minuto. “Eu venho porque temos que aproveitar sempre as chances de mostrar quem a gente é. É bom participar, estar no movimento. Hoje faço menos artesanato porque já quase não enxergo. Mas já fiz muito. A gente aprende é observando as mulheres na aldeia. Ninguém diz é assim que tem que ser. É olhando que a gente vai aprendendo”, explica.
A Funai, por meio da Coordenação Regional Centro-Leste do Pará, da Frente de Proteção Etnoambiental Médio Xingu e da Coordenação-Geral de Etnodesenvolvimento (CGETNO), prestou apoio estratégico, orçamentário e logístico do evento, cuja idealização parte do órgão indigenista desde 2015.
Para Renata Valente, servidora responsável pela organização da feira neste ano, apesar de a Funai ter buscado, desde o princípio, construir um projeto fortemente participativo, a ideia é que o evento comece a mudar nos próximos anos. “Nosso objetivo é incentivar o protagonismo indígena, de forma que a feira seja planejada por eles, que a levem para frente e que a Funai preste todo apoio necessário, mas apenas como parceira. Nossa intenção é valorizar essa cultura indígena e que eles se sintam valorizados e possam se enxergar”, enfatiza Valente.
Diferencial
Além dos expositores, estiveram presentes nas discussões o coordenador da CGETNO, Juan Scalia, e representantes locais do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), Secretaria Municipal da Gestão do Meio Ambiente e Turismo (Semat) e Secretaria de Estado de Educação (Seduc). Reunir diferentes órgãos, simultaneamente, para discutir questões de interesse de indígenas, ribeirinhos e extrativistas mostrou-se um diferencial do evento.
Recepção
Heitor de Carvalho Costa, de 12 anos, passava por Altamira, trecho de uma viagem que tem feito junto ao pai, Edwin, cruzando, de carro, o norte do Estado do Pará. Os stands já haviam sido recolhidos e, com pinturas Xikrins nos braços e nas pernas, pai e filho pareciam querer aproveitar cada segundo da atmosfera criada pela feira. “Tivemos a alegria de acontecer essa feira justamente quando passamos por Altamira. Achei belíssima e foi um presente ter essa oportunidade de conhecer outros povos”, aponta Edwin.
Entusiasmado, Heitor completou a fala do pai: “É importante para as pessoas saberem que os povos indígenas continuam preservando sua cultura, a língua, os costumes. É bacana saber que muitas coisas ainda foram guardadas.”
Estima-se que mais de quatro mil pessoas tenham visitado os stands durante os dois dias, mais de cinco mil peças tenham sido expostas e o valor arrecadado por famílias que venderam mais ultrapasse os três mil reais.
Kézia Abiorana – Assessoria de Comunicação/Funai – Cores, histórias e tradições enriquecem Altamira-PA na III Feira dos Povos do Médio Xingu — Fundação Nacional dos Povos Indígenas (www.gov.br)