Nesta quarta-feira (03), foi realizada a 61ª Reunião do Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (Geea), tendo como tema “Tecnologia Social: fatos e perspectivas”. A palestrante convidada foi a psicóloga com doutorado em saúde pública Denise Machado Duran Gutierrez, professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) que há vários anos atua no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIc), num setor que ela ajudou a fundar, a Coordenação de Tecnologia Social (Cotes), vinculada ao setor de Extensão deste Inpa.
A palestrante abordou o tema em dois eixos principais: o primeiro, tratando de enunciados e definições do próprio termo e o segundo, de algumas iniciativas desenvolvidas pelo INPA em parceria com outras instituições regionais e que tem um perfil essencialmente interativo entre ciência, conhecimento tradicional e demanda social.
Conceituação
Gutierrez salienta que Tecnologia Social (TS) é um termo relativamente moderno, mas que trata de questões muito antigas. Em linhas gerais, ela trata dos mecanismos envolvidos no compartilhamento de conhecimentos através da interação entre Ciência e Sociedade.
De maneira mais abrangente, e conforme enunciada pela própria Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e Comunicações (MCTIC) TS é um “conjunto de técnicas ou metodologias desenvolvidas na interação com a comunidade e que possam ser reaplicadas em diferentes contextos para propiciar oportunidades de inclusão produtiva e social, bem como soluções tecnológicas convencionais que favoreçam o aperfeiçoamento ou a inovação de produtos, processos e serviços de empreendimentos individuais, microempresas e empresas de pequeno porte”.
Segundo Gutierrez, partindo-se dessa definição, é fácil perceber que a TS lida com novos produtos, processos, equipamentos e serviços e que a ideia de novidade é fundamental, porque ela abrange e também fomenta transformações, visões diferentes, maneiras distintas de perceber, relacionar, fazer, gerenciar e produzir.
A Tecnologia Social possui uma abrangência muito grande, mas está mais vinculada aos setores da alimentação, educação, energia, habitação, renda, recursos hídricos, saúde, meio ambiente. Também é importante salientar que ela não é totalmente autônoma, tendo necessidade de atuar articulada com o saber popular, a organização social e o conhecimento técnico-científico. Além disso, para propiciar o desenvolvimento pleno e sustentável, a TS precisa ter efetividade e ser reaplicável. Reaplicar vai muito além de replicar, pois implica em aplicar sempre de acordo com novas demandas e novos desafios, tendo a colaboração de todos ou atores envolvidos na atividade.
A Tecnologia Social possui e ao mesmo tempo contempla quatro grandes dimensões distintas, mas mutuamente dependentes: a tecnociência (conhecimento, ciência, tecnologia); a educação universal e de qualidade; a participação coletiva, incluindo a cidadania e democracia e a relevância social, incluindo a qualidade de vida e a sustentabilidade econômica e social.
Gutierrez cita a concepção teórica do setor de extensão do Inpa como uma instância que congrega essas quatro dimensões, lembrando que este foi criado tendo por base três eixos centrais de atuação complementar: a extensão tecnológica e de inovação, fortemente vinculada com os programas e projetos de pesquisas; o serviço de apoio às áreas de visitação, incluindo o bosque, a casa de ciência e acervos destinados ao grande público e, por último, as tecnologias sociais, que fazem a intermediação entre as demandas sociais e os resultados produzidos pela pesquisa do Inpa, tanto no âmbito dos projetos e programas científicos, como também dos cursos de pós-graduação.
Nesse contexto, ela também cita a criação da Coordenação de Tecnologia social (CTS), lembrando sua missão explícita de ser “modelo de excelência no desenvolvimento de tecnologias sociais fazendo convergir necessidades e demandas sociais com o conhecimento técnico científico produzido pelo Inpa”.
Iniciativas Promissoras
Por fim, Gutierrez cita iniciativas promissoras do Instituto no campo das Tecnologias Sociais, todas dispondo de unidades demonstrativas e resultados positivos, muitas deles já efetivos e reaplicáveis e até servindo de políticas públicas. As iniciativas fazem parte de uma cartilha denominada Tecnologias para Inclusão Social, publicada em 2018 pela Editora Inpa e na qual estão organizadas nos seguintes setores:
I: Tecnologias em produção de alimentos, segurança alimentar e nutricional, compreendendo criação de matrinxã em canais de igarapés; plantios agroflorestais; meliponicultura; sistemas sustentáveis de produção, melhoramento genético e conservação in situ de plantas; aproveitamento de frutos regionais para agregação de valor nutricional em produtos alimentares; feiras de trocas para preservação de sementes crioulas; manejo comunitário de recursos naturais; enriquecimento de sucos com farinha da casca de camu-camu; farinha à base de açaí e buriti; fungos amigos: vinagres e cervejas artesanais; enriquecimento do solo por adubação verde.
II: Tecnologias: educação e meio ambiente, incluindo projeto eduque de educação ambiental; piradados e ecoethos: jogo didático interativo sobre conservação ambiental; escola verde sobre educação ambiental.
III: Tecnologias em habitação e materiais sustentáveis, incluindo o aproveitamento de madeiras caídas para confecção de pequenos objetos; materiais ecológicos sustentáveis; placas de biocompósito para construção civil e de móveis; aproveitamento de galhos para construção de móveis artesanais; aproveitamento de sementes em artesanato; palm-haste para coleta de frutos de palmeiras; buriti para a indústria de cosméticos e produção de farinha; processamento de pescado.
IV: Tecnologias em Saúde, prevenção de doenças, incluindo solução de cravo-da-índia e cal e cloro no controle de mosquito da dengue.A palestrante tece detalhes sobre as TS acima esboçadas, esclarecendo alguns detalhes técnicos e o alcance social e econômico de cada uma delas e finaliza lembrando a importância da pesquisa científica estar sempre focada nas demandas sociais.
Ao final, comenta alguns questionamentos e posicionamentos dos participantes da reunião, sobretudo quanto às dificuldades ainda encontradas para a replicação e aprimoramento das tecnologias sociais. Por fim, enfatiza o imenso potencial que a TS apresenta para as instituições de pesquisa e ensino, pois ela é um instrumento facilitador e indutor da integração entre demandas sociais e os conhecimentos populares e científicos.
Da Redação – Geea
Fotos: Wérica Lima – Inpa
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