Solenidade marcou a inauguração na última sexta-feira (12) na Reserva Extrativista (Resex) Cazumbá-Iracema encravada no coração da Floresta Amazônica.

Vista aérea da sede da reserva e do recém-construído Centro de Artesanato, do lado direito; políticas de incentivo à produção local vai permitir mais qualidade de vida aos moradores (Foto: Pedro Devani/Governo do Acre)

Com um único dedo, o indicador da mão direita, o estudante Ricardo de Carvalho dos Santos digitou, pela primeira vez na vida, o próprio nome em um computador. Uma a uma, as letras iam surgindo à sua frente como as castanhas que ele costuma colocar no latão quando está trabalhando. A cada caractere vasculhado pela vista concentrada no teclado, uma descoberta. A cada piscadinha do cursor na tela, a euforia de descobrir um novo mundo, o digital.

Em pleno século 21, o que é corriqueiro para mais de 4 bilhões de pessoas que hoje utilizam a internet, para este jovem de 19 anos é só o começo de uma grande aventura, a da possibilidade de explorar novas paisagens, tão interessantes quanto as que compõem o seu lar, a Reserva Extrativista (Resex) Cazumbá-Iracema, encravada no coração da Floresta Amazônica, entre os municípios de Sena Madureira e Manoel Urbano, no interior do Acre.

Com uma área de mais de 750 mil hectares, foi neste ambiente de floresta nativa, sob domínio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e com gestão participativa da Associação dos Seringueiros do Seringal Cazumbá (ASSC), que o Governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes, inaugurou na manhã desta sexta-feira, 12, a Escola Técnica Estadual Rural que terá cursos técnicos voltados ao extrativismo e produção sustentável, além de um Telecentro com 10 computadores e o Centro de Artesanato Cazumbarte, aprovado pelo edital Ecoforte Extrativismo da FBB e executado pela Associação dos Seringueiros do Seringal Cazumbá. A solenidade contou com a presença do Governador do Acre, Prefeito e Vice-prefeito de Sena Madureira, Secretários Estaduais e Municipais e outras autoridades locais e estaduais e equipe do ICMBio.
A partir de agora, será possível a continuidade dos estudos dos jovens adolescentes da comunidade, com a oferta de mais uma escola de ensino médio. Antes, eles eram prejudicados por ficarem de fora do ensino público, quando terminavam o fundamental. Já o centro tecnológico contará com dez computadores e internet banda larga para que, não só a comunidade escolar tenha acesso à rede mundial de computadores, como também as pessoas da comunidade, hoje composta de 360 famílias. Elas terão ainda a oportunidade de fazer um curso superior à distância num futuro próximo.
A reserva extrativista Cazumbá-Iracema é uma referência em inclusão social com consciência ambiental. Em 2009, eram apenas três escolas. Passados dez anos, a unidade tem 18, com quatro comunidades atendidas com escolas do ensino médio. Em 1976, a desapropriação de muitos seringais de Sena Madureira, feita pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, permitiu a criação da reserva. Entre estes seringais estava o Iracema, no rio Caeté, ocupado pela Comunidade do Cazumbá. O crescimento do assentamento fez surgir a especulação de terras para loteamento. Foi aí que os moradores se uniram e se concentraram num único centro habitacional, impedindo que essa condição acontecesse.
Levantamento do Instituto Socioambiental mostra que a flora da reserva Cazumbá-Iracema possui áreas com concentrações de espécies de muita econômica, atual, ou de grande potencial no futuro. Árvores como o açaí, a jarina, a seringueira, a castanheira, a copaíba, o cedro, o cumaru-ferro, a cerejeira e o mogno acrescentam valor econômico imensurável na região, mas que no entendimento do coordenador regional das Unidades de Conservação do Acre, Thiago Juruá, só serão possíveis de serem exploradas se houver conhecimento.

Reserva Cazumbá Iracema em Sena Madureira. Foto MarcoS Vicentti 2
Jogos para pratos e copos feitos a partir do caucho; artesanato com produtos da floresta é um dos pontos fortes da comunidade local Foto: (Marcos Vicentti/Governo do Estado)

Sobre a Reserva

A reserva foi criada por meio de decreto de 19 de setembro de 2002, com o apoio de várias entidades representativas do poder público e da sociedade de Sena Madureira, entre os quais o destaque é para a Igreja Católica. Segundo um levantamento do Instituto Socioambiental, a região tem pelo menos 249 espécies de animais silvestres, sendo 179 aves, 44 mamíferos, 18 espécies de peixes e oito de répteis. Destas, quatro espécies de mamíferos encontram-se atualmente na lista oficial do Ibama de espécies ameaçadas, o tamanduá-bandeira, o tatu-canastra, a onça-pintada e o cachorro-do-mato-vinagre.

A dieta dos moradores da comunidade baseia-se no consumo de animais domésticos de pequeno porte, nos produtos agrícolas e nos extraídos da floresta, na caça de subsistência e na pesca. A borracha e a castanha são os principais produtos do extrativismo vegetal, extraídos por 32% e 12% das famílias, respectivamente. Mas eles utilizam outros recursos, como madeira, óleo de copaíba, açaí, mel e patuá. Todos dependem da agricultura para subsistência e obtenção de renda e os roçados são geralmente pequenos, com um hectare. A mandioca é o único produto cultivado o ano inteiro, sendo importante por gerar renda regularmente, com a venda de farinha, de fácil comercialização. Já animais de pequeno porte são comercializados eventualmente.

*Com informações da Agência de Notícias do Governo do Acre  

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