Pesquisadores, gestores e comunitários de duas unidades de conservação federais se reuniram para debater resultados do Programa Monitora.
Na última sexta-feira (24) foi realizado o Encontro dos Saberes, um evento do Programa Nacional de Monitoramento da Biodiversidade no Parque Nacional do Jaú e Reserva Extrativista do Rio Unini, no estado do Amazonas. Reunidos em Novo Airão (AM), servidores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, pesquisadores e comunitários trocaram conhecimentos sobre os dados coletados nos últimos cinco anos nas duas Unidades de Conservação (UCs).
Realizado juntamente com o IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, o evento é mais uma etapa da Construção Coletiva de Aprendizados e Conhecimentos (CCAC), uma iniciativa que busca ampliar a participação cidadã após a fase de coleta de dados. Por meio do Monitora são realizados seminários, encontros, capacitações e oficinas de trabalho para discutir a implementação do monitoramento participativo, traçando diretrizes e trocando experiências.
Durante o encontro, os monitores apresentaram como são as etapas da trilha de monitoramento, como são coletados os dados, como é o dia-a-dia e quais ferramentas são utilizadas para se obter os dados. Com ajuda de dinâmicas em grupo e facilitação gráfica, essa demonstração é importante para que outros comunitários e pesquisadores possam entender como são realizados os protocolos de monitoramento nas duas UCs.
Mais de 140 pessoas estiveram presentes no evento, entre monitores, membros das comunidades e representantes de várias instituições que apoiam e realizam os trabalhos de monitoramento, como o ICMBio e seus centros de pesquisa, Instituto de Pesquisas Ecológicas – IPÊ, Fundação Vitória Amazônica – FVA, Wildlife Conservation Society – WCS-Brasil, Prefeitura de Novo Airão (AM), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, Universidade Federal do Amazonas e Universidade de Brasília.
Monitoramento e resultados
Com o apoio do IPÊ, o ICMBio está implementando, desde 2014 o Projeto de Monitoramento Participativo (MPB) em 17 UCs, entre elas o Parque Nacional do Jaú e Reserva Extrativista do Rio Unini.
No Parque Nacional do Jaú é realizado o monitoramento do Componente florestal, do Subprograma Terrestre, onde são coletados dados de borboletas, aves, mamíferos e plantas lenhosas, além do monitoramento do Componente Área Alagável, do Subprograma Aquático Continental, que tem como alvo complementar os quelônios aquáticos. Já na Reserva Extrativista do Rio Unini, monitoram dados apenas do Componente Área Alagável, mas além dos quelônios também monitoram o Pirarucu.
Depois de cinco anos, o encontro dos saberes discutiu importantes resultados com as unidades, como sobre a quantidade de animais avistados nas trilhas de monitoramento e as espécies de aves e mamíferos mais comuns na região. Além da discussão em cima das borboletas frugívoras como indicadoras biológicas, mostrando claramente uma diferença no padrão dos dados do ano de 2016 para os demais anos, o que gerou uma discussão interessante com os moradores das UCs sobre o porque disso, levantando hipóteses que relacionam essa alteração com a forte seca e grande presença de queimadas no final de 2015.
Para Francisca de Brito, moradora do Rio Unini, o que mais chama atenção é a importância dos peixes e dos quelônios, já que o monitoramento permitiu entender melhor os estoques e onde estavam presentes esses animais. “O que dá para ver é a segurança, a importância de cada objetivo, o que significa o monitoramento e para que serve. Normalmente as pessoas já sabem, mas não como foi apresentado aqui.” completa Francisca.
Analisando os dados acumulados entre 2014 e 2018, estima-se que as espécies monitoradas de quelônios nas UCs apresentam-se estáveis, com grandes estoques e aumento do número de ninhos, o que equivale ao aumento do número de fêmeas reprodutoras. Um indicador importante do número de indivíduos é o baixo índice de recaptura dos quelônios marcados para monitoramento, onde apenas seis indivíduos foram recapturados em meio a 1000 capturas ao longo dos cinco anos analisados.
Além dos quelônios, outro destaque fica para os dados do monitoramento participativo no Parque Nacional do Jaú, onde a diversidade de tamanho das árvores apresenta uma distribuição esperada de árvores grandes, médias e pequenas para florestas saudáveis e bem preservadas. Isso garante a continuidade da floresta e da sua prestação de serviços ambientais, como a captura de carbono, regulação do clima e ciclo hidrológico.
Para Cristina Tófoli, coordenadora de projetos do IPÊ, o impacto dos resultados do monitoramento para as comunidades locais depende da aproximação do saber tradicional com os saberes técnico-científicos, para aplicarem no dia-a-dia esse conhecimento e ajudar no manejo dos recursos naturais.
Comunicação ICMBio