Boa Vista e Pacaraima (RR), 20/06/2019 – Eles atravessam a fronteira seca em busca de dias melhores. Diariamente, são cerca de 600 pessoas que abandonam as raízes em solo venezuelano para plantar a esperança de uma nova vida em terras brasileiras. Na bagagem, a maioria traz apenas a cara e a coragem. Muitos não têm sequer documentos ou dinheiro. Perderam até a condição de cidadãos, sem ter onde morar ou o que comer.
Há quase um ano e meio, a chance de cruzar a fronteira que separa o Brasil e a Venezuela representa a possibilidade de recomeçar, graças à atuação dos integrantes da Operação Acolhida, a Força Tarefa Logística Humanitária para o Estado de Roraima. Hoje, 20 de junho, é comemorado o Dia do Refugiado, que é todo aquele que deixa sua nação em busca de refúgio e novas oportunidades.
É o caso da venezuelana Claudimar Campos, 45 anos, moradora do abrigo Rondon III, na capital Boa Vista. No local, residem mais de mil pessoas que tem a segurança de contar com três refeições por dia. Aos abrigados também são oferecidos oficinas e cursos. Para a melhor organização entre os moradores que chegam e saem, foram formados comitês, de acordo com o conhecimento que cada um tem e das atividades que exerciam antes da chegada ao Brasil.
Claudimar, que trabalhava como enfermeira em seu país natal, assumiu a parte de primeiros atendimentos no abrigo. Nos casos mais graves, os doentes são removidos para unidades de saúdes. Em meio às dificuldades enfrentadas pelos recém-chegados, mesmo sem autorização para medicar a enfermeira venezuelana encontrou na profissão uma forma solidária de recomeçar.
“Eu trabalhava na emergência de hospitais e clínicas lá em Caracas (capital da Venezuela), então tenho experiência. Aqui há muitas grávidas que têm queda de pressão, crianças que precisam de nebulização, alguns desmaios. Meu comitê auxilia nesses casos. Não é difícil para mim. É meu trabalho, eu gosto de estar aqui ajudando e quero seguir fazendo isso”, assegura. O marido dela, Elquis Brito, 45 anos, trabalha no abrigo como marceneiro. Pela sua experiência, tem recebido encomendas de moradores da cidade, o que auxilia o casal a ter uma renda.
De acordo com a Agência da ONU para Refugiados (Acnur), o Brasil recebeu, só em 2018, cerca de 80 mil pedidos de refúgio, sendo mais de 75% realizados por venezuelanos. Devido ao grande fluxo migratório no estado fronteiriço, a quantidade de imigrantes desassistidos aumentou. E devido à lotação nos abrigos da capital, cerca de 1,1 mil pessoas pernoitam na estação rodoviária local. Para amenizar a situação, a atuação da Operação Acolhida foi estendida ao local, com a oferta de refeições diárias, locais para banho e disponibilização de barracas para que possam dormir.
Maria Agudelo, 32 anos, é uma dessas pessoas. Ela chegou ao Brasil em 19 de maio à procura de vaga nos abrigos para ela, duas filhas e o companheiro. Até o momento não conseguiu, mas não só tem a agradecer pela recepção que teve em solo brasileiro. “Aqui, pelo menos, minhas meninas têm água e o que comer. Uma delas ficou doente e teve atendimento. Todos nos tratam muito bem, principalmente os militares, são muito queridos com nossas crianças. Só me falta abrigo, mas sei que nossa vez vai chegar”, fala com convicção.
O artista plástico Humberto Rivas, 60 anos, também só tem agradecimentos à receptividade dos brasileiros. Ele, que chegou em Roraima há pouco mais de duas semanas, havia passado pela Colômbia, mas não conseguiu se fixar no país vizinho. “Eu nunca imaginei estar no Brasil e muito menos que seria tão bom assim. A maneira como nos tratam é impressionante. Em cinco dias, consegui tirar a documentação de toda minha família, isso é fantástico. É triste ter que sair do meu país, mas estou feliz aqui”, garante. Humberto, que imigrou com a mulher e os dois filhos, fez um quadro para o Comandante da base em Pacaraima, Coronel Antônio Vamilton. “Eu ganhei um amigo, ele é um ser humano de alma incrível e que ajuda a todos aqui. Eu nunca vi um coronel no meio do povo e aqui nós vemos todos os dias”, diz com sinceridade.
A Operação Acolhida é uma iniciativa de natureza humanitária que conta com a participação de órgãos federais, estaduais, municipais, de segurança pública, internacionais e organizações não governamentais. Pelas três Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica), estão envolvidos quase 500 militares.
Por Júlia Campos
Fotos: Alexandre Manfrim/MD
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Ministério da Defesa
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