Programa Monitora promove II Seminário de Construção Coletiva de Aprendizados e Conhecimentos.
Terminou nesta quinta-feira (06), o II Seminário de Construção Coletiva de Aprendizados e Conhecimentos. O evento reuniu gestores de unidades que implementam o Programa Monitora, monitores e comunitários que estão inseridos no Programa. O encontro ocorreu em Brasília (DF) e começou na terça-feira (04).
Durante o Seminário, os participantes compartilharam experiências, os diferentes olhares sobre a biodiversidade e o que se pode aprender por meio do diálogo de saberes. A iniciativa faz parte do Programa Monitora, criado em 2011 pelo ICMBio como um aprimoramento do modelo de monitoramento que começou em 2007, com a criação do Instituto.
Palestras abordaram o encontro dos saberes como estratégia de ampliação de diálogos e possibilidades locais do Programa Monitora. Depois, rodas de conversas enriqueceram as vivências dos diferentes participantes das UCs amazônicas. Dentro do monitoramento participativo, a comunidade residente no interior ou entorno de unidades de conservação é convidada a colaborar com o processo.
A coordenadora geral do Projeto do Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê), parceiro do ICMBio, Cristina Tóffoli, ressalta a importância do monitoramento para entender a dinâmica das florestas em vez de pesquisas pontuais que podem não transcrever a realidade.
Para a coordenadora geral de Pesquisa e Monitoramento da Biodiversidade, o processo é fundamental para a implementação efetiva das Unidades de Conservação, à medida em que se conhece quais espécies constam naquela localidade e suas populações. Para ela, o monitoramento mede o impacto real das estratégias de conservação. Quando feito de maneira participativa, o monitoramento permite a apropriação dos resultados por parte dos envolvidos e no compartilhamento de percepções.
Publicação
Na ocasião, foi lançada a 2ª edição da publicação “Monitoramento Participativo da Biodiversidade: Aprendizados em Evolução”. O livro traz anotações de experiências em unidades de conservação na Amazônia Brasileira entre 2013-2017, estratégias, ferramentas e um passo-a-passo da implementação.
Saberes compartilhados
A ideia de construção coletiva veio de um incômodo sobre devolutivas às comunidades, que se sentiam desvinculadas das interpretações e análises anteriormente feitas apenas pelos pesquisadores. Neste segundo seminário, foi a hora de saber como o monitor está exercendo o papel de protagonista da narrativa do monitoramento e como o conhecimento tradicional é agregado ao acadêmico.
Esta é uma perspectiva do que se entende como ciência cidadã, uma junção do conhecimento tradicional e do científico que podem agir complementando um ao outro, ao mesmo tempo em que aproxima a comunidade e reforça o sentimento de pertencimento. No Programa Monitora, os monitores, em geral, pertencem à comunidade local e esta passa a agir como parceira, diminuindo os conflitos com os gestores das UCs.
A participação veio desde o planejamento dos alvos, validação da metodologia, coleta de dados, capacitações e análises de dados sempre utilizando os Conselhos Consultivos como instâncias de apoio nas comunidades. Em junho de 2018, ICMBio e Ipê começaram a testar modelos de como as informações de monitoramento poderiam ser aplicadas e discutidas e não apenas apresentadas aos gestores e moradores das Ucs.
Na Reserva Extrativista Tapajós- Arapiuns (PA), oito comunidades fazem parte do Monitoramento. Lá são implementados o protocolo básico do componente terrestre (plantas, borboletas frugívoras, etc) e protocolos complementares demandados pelos próprios comunitários para avaliação dos recursos da UC.
Na visão da gestora da Resex, Jackeline Nóbrega, sem a comunidade, o monitoramento é inviável. De acordo com Jackeline, as comunidades precisam estar conectadas com o monitoramento do planejamento à análise de dados, pois são as principais beneficiadas.
Jesuíno Pereira Chaves, conhecido como Jarana, é comunitário da Resex Tapajós Arapiuns e destaca a necessidade da conservação pois a falta de recursos vai atingir primeiro as comunidades residentes nas Ucs. Para ele, o investimento na capacitação, gera resultados positivos para a conscientização da comunidade e da importância da biodiversidade.
Assim como Jarana, monitores de diferentes unidades compartilharam experiências, pontos positivos e principais dificuldades, como a resistência em trabalhar com os gestores. Outra dificuldade é com os invasores que entram na UC para extraviar recursos ilegalmente. Para eles, ainda é um desafio convencer a todos que os recursos naturais são finitos, sua escassez pode comprometer gerações futuras. Por causa desse fator, eles relatam que seus pares ainda têm a dificuldade de compreender que a conservação dos recursos naturais não é feita para o usufruto do ICMBio e sim da própria comunidade, que depende desses meios para sobrevivência imediata.
Além do maior envolvimento com o território, os monitores também relatam outros aspectos positivos trazidos com o projeto. Tanto entre os jovens quanto entre os mais antigos, a alegria de ter a profissão “Monitor da Biodiversidade” é exibida com orgulho e alegria. O conhecimento adquirido também é aplicado para a produção sustentável dentro das associações comunitárias e alguns até trilham o caminho acadêmico com base no que aprenderam como monitores.
O Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), junto com a Fundação Moore, é parceiro do ICMBio desde 2014 no monitoramento. Eles auxiliam o ICMBio na implementação dos protocolos de monitoramento junto aos gestores, parceiros e comunitários. Para o futuro, Cristina Tóffoli aposta no fortalecimento da participação social na conservação social, não só na Amazônia, mas em todos os biomas. Ela acredita que com o engajamento, o Monitora pode solidificar um papel importante na elaboração de políticas públicas ambientais.
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Comunicação ICMBio