No oeste do estado do Amazonas, uma aldeia do povo Kanamari está sendo ameaçada pela atuação do garimpo ilegal. A aldeia Jarinal está localizada no alto curso do rio Jutaí, na Terra Indígena (TI) Vale do Javari.
Além dos Kanamari, vive na mesma aldeia o povo de recente contato Tyohom-dyapa, que nas últimas décadas sofreu um forte decrescimento populacional por um histórico de doenças e conflitos. A região do alto Jutaí acima da aldeia Jarinal é habitada exclusivamente por indígenas isolados.
A denúncia da ameaça do garimpo ilegal foi feita pela Associação dos Kanamari do Vale do Javari (AKAVAJA). Segundo a denúncia, pelo menos 10 balsas estão instaladas no interior da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Cujubim, próximo à aldeia e aos limites da TI Vale do Javari.
Os Kanamari relatam tentativas de aliciamento por parte dos garimpeiros, que estariam prometendo melhorias na aldeia em troca da permissão para o garimpo ilegal no interior da TI.
As denúncias foram feitas através de um documento encaminhado para a Fundação Nacional do Índio (Funai). No documento, que nos foi entregue pela AKAVAJA, a associação registra a invasão na aldeia por cerca de 30 homens ligados ao garimpo, alguns deles embriagados, que teriam invadido casas e abusado sexualmente das mulheres kanamari, tocando seus corpos sem consentimento.
A presença violenta dos garimpeiros pode ainda agravar a situação de saúde na aldeia Jarinal, que nos últimos anos contabilizou uma elevada mortalidade infantil, tanto dos Kanamari quanto dos Tyohom-dyapa de recente contato. Atualmente, os Tyohom-dyapa somam 40 pessoas.
Desde 2012, 17 crianças Kanamari e Tyohom-dyapa morreram na aldeia Jarinal, a maior parte delas por enfermidades infecto-respiratórias. No mesmo período, outros seis adultos morreram. A aldeia Jarinal reivindica receber atenção sistemática da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) e com frequência se alastram enfermidades infecto-respiratórias ou surtos de diarreia e vômito entre as crianças.
A denúncia da Akavaja acende novamente o alerta para o processo de expansão do garimpo nas bacias do Jutaí e Jandiatuba e os impactos dessa atividade sobre os povos indígenas da região e seus territórios.
Em 2017, após denúncias de que garimpeiros teriam massacrado um grupo de indígenas isolados no rio Jandiatuba, foi constatada a operação de balsas de garimpo no setor da TI Vale do Javari onde o Estado brasileiro registra o maior número de referências confirmadas de indígenas em isolamento nesta terra indígena. Ainda que o suposto massacre não tenha sido confirmado, após expedição realizada pela FUNAI e investigações conduzidas pelo MPF e Polícia Federal, a persistência dos garimpeiros em avançar sobre a TI Vale do Javari é extremamente preocupante.
O Vale do Javari abriga o conjunto mais expressivo de povos/grupos indígenas isolados de que se tem conhecimento em uma mesma terra indígena e seu entorno no Brasil.
Segundo dados da Funai de 2017, são 16 registros de indígenas isolados, dois deles fora da área demarcada, o que corresponde a 14% dos 114 registros de índios isolados no país computados pelo Estado brasileiro. Destes registros, 10 são referências confirmadas (36% do total de referências confirmadas no país), 3 são referências em estudo (12% do total de registros nessa categoria) e 3 são registros categorizados como informações (5% do total de registros nessa categoria).
FONTE; CTI – CENTRO DE TRABALHO INDIGENISTA
VER MAIS EM: https://trabalhoindigenista.org.br/akavaja-denuncia-garimpo-ilegal-na-ti-vale-do-javari/
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