Em viagem pela Europa, líder kayapó busca financiamento para proteger terras indígenas de madeireiros e do agronegócio, em meio a temores causados pelo governo de Jair Bolsonaro.
O presidente francês, Emmanuel Macron, recebeu nesta quinta-feira (16/05) no Palácio do Eliseu o líder indígena brasileiro Raoni Metuktire e prometeu ao cacique kayapó o apoio da França em sua batalha contra a exploração de terras indígenas por madeireiros e pelo agronegócio.
A agenda da viagem de três semanas pela Europa inclui encontros com líderes europeus, celebridades e com o papa Francisco. Nesta sexta-feira, Raoni participa de um protesto de estudantes em favor da proteção climática, em Bruxelas.
Macron conversou por 45 minutos com Raoni e três outros líderes indígenas brasileiros: Kayula, Tapy Yawalapiti e Bemoro Metuktire. Após o encontro, o Palácio do Eliseu indicou que a França apoiará o projeto de Raoni. Os detalhes da ajuda, especialmente a parte financeira, serão comunicados posteriormente, segundo a presidência francesa.
Segundo a emissora RFI, Macron também se comprometeu a discutir a questão indígena com o presidente Jair Bolsonaro durante a cúpula do G20 em Osaka, no Japão, nos dias 28 e 29 de junho.
“Estou em busca de 1 milhão de euros, em particular para financiar cercas de bambu para delimitar a grande reserva do Xingu, que está sob constante intrusão de madeireiros e traficantes de animais, garimpeiros e caçadores, que vêm caçar em nossa terra”, disse Raoni numa entrevista publicada pelo jornal francês Le Parisien.
Os fundos que Raoni pretende arrecadar devem ser usados para sinalizar melhor os limites da reserva do Xingu e comprar drones e equipamentos para vigiar a região e protegê-la contra incêndios, segundo a Forêt Vierge, organização com sede em Paris que Raoni preside de forma honorária.
Além disso, algumas comunidades no Xingu necessitam de recursos para saúde, educação e conhecimento técnicos para a extração e comercialização de produtos renováveis obtidos na floresta.
Em paralelo ao encontro, o Palácio do Eliseu anunciou que a França planeja organizar uma cúpula internacional sobre povos indígenas de todo o mundo em junho de 2020.
Em abril, um relatório divulgado pela ONG Amazon Watch conectou 27 empresas europeias e dos EUA ao desmatamento na Amazônia – entre elas as francesas Guillemette & Cie e Groupe Rougier.
O cacique Raoni ganhou visibilidade internacional nas últimas décadas em sua luta pela preservação dos povos indígenas e da Amazônia. A viagem do líder da etnia kayapó de 87 anos ocorre num momento de apreensão para os povos indígenas no Brasil devido a medidas adotadas ou anunciadas pelo governo Bolsonaro.
Depois de Paris, Raoni viaja para Bélgica, Luxemburgo, Mônaco, Cannes – onde participará do Festival de Cinema – Itália e o Vaticano, onde está prevista uma entrevista com o papa Francisco, segundo a programação comunicada pela Forêt Vierge.
A viagem de Raoni recebeu o apoio de figuras como o cantor Sting, que há 30 anos realizou uma turnê ao lado do cacique por 17 países e o ajudou a ganhar notoriedade internacional na luta pela proteção dos povos do Xingu.
Cacique Raoni viaja à Europa para denunciar ameaças à Amazônia
O líder indígena brasileiro Raoni Metuktire chegou à Paris neste domingo (12/05) para dar início a uma viagem de três semanas pela Europa com o objetivo de denunciar ameaças à Amazônia. A agenda inclui encontros com chefes de Estado, celebridades e o papa Francisco.
Líder da etnia kayapó, o cacique de 87 anos ganhou visibilidade internacional nas últimas décadas em sua luta pela preservação dos povos indígenas e da Amazônia. Ele tentará arrecadar um milhão de euros para proteger O Parque Nacional Indígena do Xingu – reserva onde vivem vários povos indígenas – de madeireiros e do agronegócio. Raoni viaja acompanhado de outros três líderes indígenas que vivem no Xingu.
Na França, Raoni se reunirá com o presidente Emmanuel Macron e seu ministro do Meio Ambiente, François de Rugy. As lideranças indígenas seguem então para Bélgica, Suíça, Luxemburgo, Mônaco e Itália.
A viagem de Raoni ocorre num momento de apreensão para os povos indígenas no Brasil devido a medidas adotadas ou anunciadas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro.
Em abril, Bolsonaro afirmou que propôs a seu homólogo americano, Donald Trump, a abertura da exploração da região amazônica em parceria com os Estados Unidos. O presidente criticou também o que chama de “indústria” de demarcação de terras indígenas, que inviabilizaria projetos de desenvolvimento da Amazônia, e afirmou que pretende rever demarcações. O governo também defendeu a possibilidade de ampliar atividades de mineração e agropecuária em terras indígenas.
Logo que assumiu a Presidência, Bolsonaro transferiu a responsabilidade pela demarcação de terras da Fundação Nacional do Índio (Funai) para o Ministério da Agricultura. Na semana passada, uma Comissão do Congresso aprovou o retorno da atribuição para a Funai, assim como a volta da fundação, transferida para o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, para a alçada do Ministério da Justiça. O parecer aprovado pela comissão ainda precisa passar pelos plenários da Câmara e do Senado.
Os fundos que Raoni pretende arrecadar devem ser usados para sinalizar melhor os limites da reserva do Xingu e comprar drones e equipamentos para vigiar a região e protegê-la contra incêndios, segundo a Foret Vierge, organização que Raoni preside de forma honorária.
Além disso, algumas comunidades no Xingu necessitam de recursos para saúde, educação e conhecimento técnicos para a extração e comercialização de produtos renováveis obtidos na floresta.
“Assim, os indígenas poderiam viver de forma digna na reserva e, ao mesmo tempo, proteger a floresta, em vez de ir a áreas rurais ou urbanas”, disse a Foret Vierge em comunicado.
A viagem de Raoni recebeu o apoio de figuras como o cantor Sting, que há 30 anos realizou uma viagem ao lado do cacique por 17 países e o ajudou a ganhar notoriedade internacional na luta pela proteção dos povos do Xingu.
ONG liga empresas da Europa e EUA a desmatamento na Amazônia¹
“Estamos vivendo os primeiros estágios de um apocalipse”, declarou este mês uma aliança de povos indígenas ao diário francês Le Monde. A origem dessa preocupação está no desmantelamento acelerado dos direitos de posse de terras indígenas na Amazônia, um tema que domina o debate político-ambiental no Brasil desde que o presidente Jair Bolsonaro chegou ao poder.
Mas, ao escreverem num jornal que é publicado na Europa, os 13 autores – que representam povos nativos de vários países, incluindo o Brasil e a Nova Zelândia – miravam um público importante e nem sempre levado em conta. A França, assim como outros países ocidentais, é a sede de empresas cuja cadeia produtiva é manchada pelo desmatamento ilegal na Amazônia.
Nos últimos dois anos, a empresa brasileira Benevides Madeiras exportou, respectivamente, 266 e 125 toneladas de madeira para as empresas francesas Guillemette & Cie e Groupe Rougier, segundo um relatório publicado nesta quinta-feira (25/04) pela ONG Amazon Watch. E isso apesar de o proprietário, Arnaldo Betzel, ter sido multado em R$ 2,2 milhões por desmatamento ilegal.
O relatório afirma ainda que empresas da Bélgica, da Holanda e da Dinamarca também receberam carregamentos de madeira da Benevides Madeiras. Uma empresa alemã que produz bebidas, a Acai GmbH, importou 9 toneladas de polpa de fruta em 2018 de outra empresa de Betzel, a Argus, acrescenta o levantamento da Amazon Watch.
Essas empresas fazem parte de um grupo de 27 empresas europeias e norte-americanas cuja cadeia produtiva foi ligada ao desmatamento ilegal pela Amazon Watch, basicamente por meio da importação de produtos como carne bovina, couro, soja e madeira.
O relatório levanta questões sobre a responsabilidade de nações ricas – e das suas empresas – no desmatamento da Amazônia brasileira. “Nós cultivamos a terra para alimentar a nossa gente e não para alimentar animais no outro lado do mundo”, escreveram os representantes da Aliança dos Guardiães da Mãe Natureza no Le Monde.
A destruição da Amazônia para a produção de carne, grãos e madeira tem causado perda de biodiversidade e elevadas emissões de gases do efeito estufa. Especialistas consideram que o desmatamento da Amazônia é um dos principais empecilhos para se chegar às metas climáticas globais.
Mas a responsabilidade não é apenas brasileira. “Comerciantes internacionais, instituições financeiras e empresas importadoras desempenham um papel extremamente importante”, diz um dos autores do relatório, Christian Poirier, da Amazon Watch. “Nossas conclusões mostram que eles são cúmplices na crescente destruição da Amazônia brasileira e de suas comunidades e povos indígenas.”
O relatório, que analisou remessas de 56 empresas brasileiras envolvidas no desmatamento ilegal para as empresas de nações ricas que compram delas, não afirma que um determinado carregamento continha produtos obtidos do desmatamento ilegal, mas mostra que importadores da Europa e da América do Norte compraram de fornecedores brasileiros que recentemente receberam multas das autoridades ambientais.
Num dos casos, a maior exportadora brasileira de carne bovina, a JBS, teria abatido animais da AgroSB, empresa que recebeu as maiores multas por desmatamento ilegal do país em 2017. Os maiores acionistas ocidentais da JBS incluem a Blackrock, maior empresa mundial de gestão de ativos, e a Capital Group e detêm quase 2 bilhões de dólares em ações, afirma o relatório.
Em outro caso, uma subsidiária do Grupo Bihl, uma empresa de produção de carne bovina, exportou couro para cinco curtumes italianos em 2017. Naquele ano, uma outra empresa do Grupo Bihl, a Agropecuária MALP, foi multada em R$ 3,8 milhões por desmatamento ilegal, afirma o relatório.
A JBS afirmou que “não adquire animais de fazendas envolvidas com desmatamento de florestas nativas, invasão de áreas indígenas e áreas de conservação ambiental” e que auditorias mostraram que, nos últimos três anos, mais de 99,9% dos animais adquiridos pela empresa estão em conformidade com os seus critérios sociais e ambientais.
Após a publicação desta reportagem, a empresa Benevides Madeiras entrou em contato com a DW Brasil, afirmando que a exploração realizada pela empresa foi feita por meio de plano de manejo florestal. A empresa solicitou formalmente ao Ibama o desembargo da área e revisão da multa.
Em despacho do dia 6 de maio de 2019, o Ibama concedeu o desembargo da área relativa à autuação, reconhecendo que a empresa comprovou ter cumprido a reserva legal em outra propriedade. A decisão não informa, porém, se a multa de quase R$ 2,2 milhões aplicada a Arnaldo Andrade Betzel foi suspensa ou mantida.
A alemã Acai GmbH também se manifestou e negou envolvimento com desmatamento. A empresa afirmou que a polpa de açaí que importou da Argus, empresa de Betzel, para testes pontuais proveio de árvores vivas e, portanto, não implicou destruição de floresta tropical.
As demais empresas mencionadas se recusaram a comentar o relatório ou não responderam a pedidos para se posicionarem.
Ambientalistas afirmam que o setor privado tem um papel importante a desempenhar na prevenção de um retrocesso na situação ambiental do Brasil sob Bolsonaro. Desde que assumiu o poder, em janeiro, o militar da reserva seguidamente defendeu a expansão do agronegócio na Amazônia, mesmo às custas dos direitos dos povos indígenas e do meio ambiente.
“Este relatório é um convite para pedir [a essas empresas] que repensem, e para agir como vigilante sobre os piores atores no Brasil e, em último caso, sobre o regime Bolsonaro”, diz Poirier. “Isto não é um ataque, mas um alerta – as empresas precisam melhorar suas cadeias de fornecimento e seus portfólios financeiros.”
Décadas de ativismo fizeram as taxas de desmatamento no Brasil caírem, mas analistas temem que elas possam voltar a crescer. Em 2018, o Brasil registrou sua maior taxa de desmatamento em uma década, segundo dados do governo, em parte devido a pessoas que se sentiram encorajadas a desmatar sob o novo governo. Em todo o mundo, o desmatamento é a segunda maior fonte de emissões de gases do efeito estufa.
O Ministério do Meio Ambiente brasileiro não retornou os contatos feitos pela DW.
Informar o consumidor
A presença de produtos obtidos a partir do desmatamento ilegal em lojas de cidades europeias e norte-americanas – de bolsas de luxo a smoothies orgânicos – levanta questões éticas para consumidores e governos ocidentais, assim como para as empresas responsáveis.
“Muitas das florestas sendo destruídas estão sendo destruídas ilegalmente”, diz David Kaimowitz, diretor de recursos naturais de mudanças climáticas da Fundação Ford. “De uma perspectiva de políticas, isso é importante porque governos têm o direito de impedir produtos produzidos de forma ilegal de entrar em seus países.”
Especialistas dizem que o problema é ainda pior porque consumidores muitas vezes não sabem que efeitos os produtos que eles compram deixaram em florestas tropicais. “Acho que consumidor típico não sabe quando está comprando carne ou biscoitos cujos ingredientes estão entre as maiores causas de desmatamento”, diz Kaimowitz.
Se os produtos tivessem mais informações nas suas embalagens, os consumidores poderiam tomaram uma decisão de forma mais consciente. “Se o consumidor sabe, pode decidir ele mesmo”, diz a economista Ruth Delzeit, do instituto econômico alemão IFW.
FONTE: DefesaNet – França promete apoiar Raoni na proteção do Xingu – DefesaNet