Minidocumentário intitulado “Cuiabá, muito mais que 300 anos” traz entrevistas com lideranças indígenas sobre a existência de Bororos na região muito antes da chegada dos bandeirantes.

O Ministério Público Federal (MPF) em Mato Grosso, por meio do Ofício de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais, realizou na última sexta-feira (26), evento alusivo ao movimento #AbrilIndígena, da Câmara de Coordenação e Revisão das Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais (6CCR), e ao tricentenário da capital mato-grossense, Cuiabá. Durante cerca de uma hora e meia, foram apresentadas canções indígenas, um minidocumentário com lideranças Bororo e uma palestra sobre a história, os costumes e a divisão sociopolítica dos índios Boe. O evento foi realizado no auditório da Justiça Federal em Mato Grosso.

Na abertura, o diretor do Foro da Seção Judiciária Federal em Mato Grosso, Pedro Francisco da Silva, agradeceu a presença de todos e afirmou ser uma honra receber mais uma vez o evento do #AbrilIndígena, promovido pelo MPF no Mato Grosso. “Este é o terceiro ano que realizamos em conjunto o evento e já está se tornando uma tradição. Tenho convicção de que todos sairão daqui hoje já pensando em qual será o tema para o próximo ano”, afirmou.

Em seguida, falou o procurador da República Ricardo Pael Ardenghi, titular do Ofício de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais, e idealizador do evento. “Nós já trouxemos aqui, no primeiro ano, um evento sobre a questão do estereótipo indígena, no ano passado apresentamos aqui a história e a luta dos Tapayuna. Tivemos a honra de ter conosco o missionário e indigenista Thomaz de Aquino Lisbôa, que veio a falecer há poucas semanas, e também assistimos ao documentário “Luta e resistência do povo Tapayuna”, e a palestra com a antropóloga Daniela Lima. E, este ano, tivemos a palestra do professor e mestre em Educação Félix Rondon Adugoenau, liderança indígena Bororo e também a apresentação do minidocumentário produzido pelo próprio MPF em Mato Grosso e que conta um pouco da história dos Bororo, muito antes de Ikuia pá ser Cuiabá”, explicou o procurador.

Também foi apresentada a canção “Antiga Ikuiapá”, do cantor bororo Márcio Paromeriri, que conta a trajetória e a saga dos antigos Bororos na região onde hoje encontra-se Cuiabá. Logo após, os presentes assistiram ao minidocumentário “Cuiabá, muito mais que 300 anos”, produzido pelo MPF, por meio do Ofício de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais, em conjunto com a Assessoria de Comunicação do órgão, e com o apoio do Departamento de Comunicação do Ministério Público Estadual (MP/MT). Clique aqui para ver o vídeo.

Por fim, o professor e mestre em Educação Félix Rondon Adugoenau palestrou sobre a história do Bororos, sobre os costumes, crenças e culturas da etnia e, principalmente, sobre a divisão sociopolítica das aldeias Boe. Ele falou sobre a existência de regras dentro da etnia pelo fato de aldeias serem muito grandes. “Todas as aldeias devem seguir uma definição gráfica, separando os clãs. Os Bororo se identificam por três axiomas: a união, a reciprocidade e a inextricabilidade vital e espiritual, pelo qual as existências estão interligadas. Nós também seguimos as organizações clânicas e subclânicas dentro da aldeia, além das simetrias axiais, que é a forma gráfica de como as casas devem ser colocadas, separando os clãs”, esclareceu.

De acordo com Félix, dados históricos apontam que os Bororo foram o maior povo que já existiu na região central do Brasil, indo desde a Bolívia até a região de Goiás Velho e que, antigamente, eram divididos entre os Bororo Ocidentais e Orientais, sendo que os ocidentais, como povo, já foram extintos. O professor também explicou que os ensinamentos Bororo são repassados dos mais velhos para os mais novos por meio dos “bakaro”, que são as histórias e contos ligados à cultura indígena. “Os nossos ensinamentos são passados de pai para filhos. Nós temos que ter a educação, da nossa cultura, porque se na gente não tivesse isso, não existiríamos mais”, afirmou. Ao final, foram sorteados, aos presentes, dois exemplares do livro “Direitos Territoriais Indígenas: Uma Interpretação Intercultural da Constituição”, do autor Júlio José Araújo Júnior, Procurador da República no Rio de Janeiro.

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