Uma das principais entidades envolvida na organização do Sínodo Pan-Amazônico, que se realizará no Vaticano, em outubro próximo, é a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) (http://fas-amazonas.org/), ONG ambientalista dirigida pelo engenheiro florestal Virgílio Viana.

Com sede em Manaus (AM), a FAS foi criada em 2008, por iniciativa do governo do estado do Amazonas e do Bradesco, tendo recebido depois os apoios da Samsung, Coca-Cola e Fundo Amazônia, controlado pelo BNDES e cujo maior financiador é o governo da Noruega.

A FAS foi uma das patrocinadoras do seminário “Sínodo da Amazônia: contribuições a partir do desenvolvimento sustentável”, realizado em Manaus (AM), em 7-8 de março, cuja organização refletiu as repercussões do anúncio de que o governo federal, por intermédio do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), está monitorando atentamente os preparativos do Sínodo, como revelou o jornal O Estado de S. Paulo, em uma série de reportagens publicada em fevereiro. Na primeira, publicada na edição do dia 10, o ministro-chefe do GSI, general Augusto Heleno Ribeiro, confirmou:

Há muito tempo existe influência da Igreja e ONGs na floresta. Não vai trazer problema. O trabalho do governo de neutralizar impactos do encontro vai apenas fortalecer a soberania brasileira e impedir que interesses estranhos acabem prevalecendo na Amazônia. A questão vai ser objeto de estudo cuidadoso pelo GSI. Vamos entrar a fundo nisso.

Possivelmente, a revelação do monitoramento levou os organizadores do Sínodo, até então alheios a qualquer oferta de contribuições de setores da sociedade alheios às suas redes, a incluir o comandante militar da Amazônia, general César Augusto Nardi de Souza, entre os debatedores do seminário de Manaus.

Outra evidência de tais repercussões foi a presença entre os debatedores de ninguém menos que monsenhor Marcelo Sánchez Sorondo, chanceler da Pontifícia Academia de Ciências (PAC) e da Pontifícia Academia de Ciências Sociais (PACS), órgãos da Santa Sé que, por iniciativa sua, têm sido insidiosamente infiltrados pela ideologia malthusiana e pelo catastrofismo ambientalista, em especial, em relação às questões climáticas.

Por sua vez, o presidente da FAS, Virgílio Viana, tem importantes vínculos com entidades do primeiro escalão do movimento ambientalista internacional e think-tanks do Establishment anglo-americano, a exemplo do International Institute for Environment and Development (IIED) e a Americas Society/Council of the Americas.

O IIED, sediado em Londres, foi criado em 1971, sendo uma das organizações pioneiras na montagem do movimento ambientalista internacional, atualmente, envolvido em um vasto esquema de financeirização das questões ambientais, em geral, e climáticas, em particular, com a intenção de converter a “neutralidade em carbono” em um padrão de referência e arbitragem de financiamentos internacionais, principalmente, para os países em desenvolvimento.

A Americas Society, com sede em Nova York, foi criada em 1965 pela família Rockefeller, com o objetivo de “unir líderes formadores de opinião para trocar ideias e criar soluções para os desafios das Américas de hoje” – leia-se, promover e implementar as agendas de interesse do Establishment oligárquico encabeçado pelo eixo anglo-americano, que está por detrás da politização radical das questões ambientais e, agora, da sua financeirização.

Viana é International Fellow (pesquisador internacional) do IIED e membro da Americas Society, vínculos que lhe asseguram uma condição de operativo de alto escalão desse aparato oligárquico internacional.

Engenheiro florestal e professor licenciado da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), unidade da Universidade de São Paulo (USP) sediada em Piracicaba (SP), Viana é especialista em certificação de produtos florestais, tendo sido um dos coordenadores do estabelecimento do Forest Stewardship Council (FSC) no Brasil, na década de 1990, além de fundador e presidente da Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), a primeira agência certificadora florestal do País.

Tais credenciais lhe conferem uma oportuna qualificação para atuar como contraparte brasileira no processo de financeirização global do meio ambiente, cujo detalhamento não é objeto deste memorando.

A extensão dos parceiros institucionais da FAS, que se pode observar no seu sítio (http://fas-amazonas.org/parceiros/parceiros-institucionais/), constitui um excelente indicador das vinculações da ONG com o aparato intervencionista que, nas últimas décadas, tem imposto ao Brasil um autêntico regime de “soberania restrita”, quanto ao planejamento dos usos físicos do território nacional, por exemplo, nas restrições a numerosos projetos de infraestrutura vitais para o desenvolvimento do País, principalmente, na Região Amazônica.

Sorondo e a infiltração malthusiana na Pontifícia Academia de Ciências

Quanto a Sorondo, por sua iniciativa, a PAC e a PACS, que preside desde 1998, têm proporcionado nos últimos anos um espaço inusitado – e para muitos círculos católicos, incômodo – a cientistas que têm feito profissão de fé e carreiras no campo malthusiano e sua variante ambientalista. Entre eles, destacam-se: o físico alemão Hans-Joachim Schellnhuber, diretor do Instituto Potsdam para a Pesquisa de Impactos Climáticos (PIK), um dos maiores promotores da fraudulenta hipótese do aquecimento global causado pelo homem (antropogênico); o biólogo estadunidense Paul R. Ehrlich, da Universidade Stanford, ardente promotor do aborto como forma de combate à “bomba populacional”; o economista estadunidense Jeffrey Sachs, diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade Columbia e da Sustainable Development Solutions Network (SDSN), rede da Organização das Nações Unidas para a promoção dos chamados Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030; o engenheiro suíço Mathis Wackernagel, fundador da Global Footprint Network, ONG especializada em divulgar o falacioso conceito da “pegada ecológica”; o botânico estadunidense Peter Raven, veterano adepto da redução da população mundial; e o demógrafo holandês-estadunidense John Bongaarts, atual vice-presidente do Population Council, uma das mais antigas e ativas organizações de controle populacional dos EUA.

Schellnhuber, também membro titular do Clube de Roma, o centro malthusiano por excelência, já defendeu em público a tese de que a população máxima do planeta não deveria ultrapassar um bilhão de pessoas (nível atingido no início do século XIX). Além disso, é um ardente adepto de um “governo mundial”, com propostas para a criação de uma “Constituição da Terra”, um “Conselho Global” e um “Tribunal Planetário”, para enfrentar adequadamente o que considera a “ameaça” do aquecimento global.

A inclinação de Sorondo pelo ambientalismo se mostra na criação da Global Sustainability Network (GSN), uma rede interconfessional internacional voltada para a promoção de medidas para promover os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, e do Global Catholic Climate Movement, que oferece um curso online estrelado por Sorondo e Jeffrey Sachs.

Sorondo é membro do conselho diretor da Sustainable Development Solutions Network, entidade criada sob os auspícios da Organização das Nações Unidas (ONU), da qual também fazem parte Sachs e o magnata Ted Turner, um dos maiores financiadores de organizações malthusianas do mundo.

A militância de Sorondo contraria todo o corpo doutrinário da Igreja Católica desenvolvido a partir da encíclica Rerum Novarum, do papa Leão XIII (1891), marcado por uma decidida oposição ao malthusianismo.

As raízes do Sínodo Pan-Amazônico

Em fevereiro de 2017, a PAC promoveu o workshop Direito Humano à Água (http://hrw.encuentromundi.org/), que contou com a presença de vários personagens agora envolvidos direta e indiretamente na organização do Sínodo, como Virgílio Viana, o cardeal Dom Cláudio Hummes, presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e da Rede Eclesial Panamazônica (REPAM), o jesuíta colombiano Alfredo Ferro Medina e o antropólogo colombiano-estadunidense Martín von Hildebrand, fundador e presidente da ONG Fundación Gaia Amazonas (FGA).

A Declaração de Roma, emitida ao final do evento, mostra uma curiosa semelhança com a linguagem antidesenvolvimentista do Documento Preparatório do Sínodo Pan-Amazônico, ao mesmo tempo em que, chamando a atenção para certos problemas reais referentes à água, oferece a chancela à mistificadora tese da responsabilidade humana sobre as mudanças climáticas globais, ostensivamente abraçada pela PAC sob a gestão de Sorondo:

Os modelos produtivos centrados nos combustíveis fósseis têm uma responsabilidade direta no aquecimento global. A mudança climática, assim como a escassez de água, é uma consequência da ação humana. A degradação do meio ambiente tem aumentado exponencialmente e o mundo enfrenta hoje as consequências dos modelos econômicos de produção que “privatizam os lucros e socializam as perdas”. Em regiões como a Amazônia, o desmatamento e a contaminação dos mananciais têm se acelerado nas últimas décadas, como resultado do desenvolvimento da mineração, das atividades produtivas e da realização de obras de infraestrutura, originando conflitos reais e potenciais de vários tipos e escalas.

Muitas culturas, sociedades e religiões do mundo reconhecem a água como um princípio espiritual e material da vida e como um lugar de encontro. Elas também reconhecem que, no universo, tudo está conectado e que o cuidado com os bens comuns requer soluções baseadas na cooperação, na solidariedade e na cultura do diálogo. Com base nisso, novos paradigmas devem ser construídos, nos quais a humanidade não reivindique uma dominação ilimitada e desrespeitosa sobre a natureza, mas exerça uma responsabilidade coletiva.

Da mesma forma, von Hildebrand aproveitou a sua palestra para propagandear o seu polêmico projeto do Corredor Andes-Amazônia-Atlântico (ou Triplo A), uma vasta cadeia de unidades de conservação e terras indígenas, que formaria a maior extensão contínua de áreas protegidas do mundo, se não tivesse sido torpedeado pelas Forças Armadas brasileiras e pelo Itamaraty, quando foi originalmente proposto pelo governo do então presidente colombiano Juan Manuel Santos, como um projeto sul-americano para ser apresentado à conferência climática de Paris (COP-21).

Outro participante, o jesuíta Alfredo Ferro Medina, sintetizou assim os problemas da Amazônia:

Hoje, a depredação e a violência contra os povos indígenas e tradicionais da região continuam com os novos ciclos extrativistas e, sobretudo, com os grandes projetos de “desenvolvimento” que estão sendo impostos na região. Na Amazônia, os interesses econômicos internacionais são maiores, devido às riquezas do solo e do subsolo, da biodiversidade e da água doce. Para levar as mercadorias a baixo custo de um oceano para o outro (Atlântico-Pacífico-Caribe), são implementadas rodovias transoceânicas e hidrovias associadas a usinas hidrelétricas, que cortam a Pan-Amazônia, tanto nos sentidos leste-oeste como norte-sul (texto em anexo).

Em realidade, a parceria entre Sorondo, Viana e Hummes, depois reforçada por von Hildebrand e Ferro Medina, remonta a 2015, por ocasião das atividades que acompanharam o lançamento da encíclica Laudato si’ do papa Francisco (Portal Amazônia, 23/02/2017).

No workshop de Roma, onde o quinteto se destacou, foram discutidos numerosos conceitos e ideias que, posteriormente, encontraram o seu caminho da formulação do Sínodo Pan-Amazônico.

Ainda em 2017, Sorondo recebeu von Hildebrand em duas oportunidades, no Vaticano, para discutir o Corredor Triplo A.

Em junho, Sorondo e von Hildebrand estiveram juntos em um exótico convescote realizado em Oslo, Noruega, a Interfaith Rainforest Initiative (Iniciativa Interconfessional para as Florestas Tropicais).

O encontro reuniu participantes de 21 países, entre ambientalistas, cientistas e representantes cristãos, judeus, muçulmanos, budistas, taoístas e hinduístas. A pajelança contou também com a presença de S.M. o rei Harald V da Noruega.

Em abril de 2013, Sua Alteza Real passou quatro dias numa aldeia ianomâmi em Roraima, oficialmente, para conhecer projetos financiados pela Noruega, entre eles, um sistema de rádio para as aldeias.

O evento foi organizado pelas seguintes entidades: Norway International Climate and Forest Initiative (NICFI); Rainforest Foundation Norway (RFN); Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD); Fórum de Religião e Ecologia da Universidade de Yale; GreenFaith; Parlamento das Religiões do Mundo (Parliament of the World’s Religions); Religions for Peace; REIL Network; e, sem surpresa, o Conselho Mundial de Igrejas (CMI).

A presença do CMI, PNUD e RFN entre os organizadores deixa claro que se o evento foi uma iniciativa do “Estado-Maior” do ambientalismo-indigenismo internacional.

Um parágrafo, em especial, da declaração conjunta do evento sinaliza as intenções dos organizadores:

Nós defenderemos a restauração das florestas tropicais e os direitos dos povos indígenas, compartilhando com os líderes governamentais e empresariais a concepção de que a proteção das florestas é um dever moral, e que deixar de fazê-lo é uma agressão à própria vida. Nós apoiaremos os povos indígenas e das florestas, para que afirmem e garantam os seus direitos, inclusive o seu consentimento livre, antecipado e esclarecido sobre o desenvolvimento nos seus territórios. Nós defenderemos o acesso ampliado aos financiamentos para a proteção das florestas tropicais em curso. Nós trabalharemos para por um fim na criminalização dos protetores das florestas e em favor da sua segurança (grifos nossos). (…)

Qualquer semelhança com declarações semelhantes encontradas na documentação preparatória do Sínodo Pan-Amazônico não é mera coincidência.

FONTE:  MSIA INFORMA   –  https://msiainforma.org/     –    Ambientalismo    –     Editoria

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