Terminou na última sexta-feira (19), na aldeia Cartucho, município de Santa Isabel do Rio Negro (AM), divisa com a Colômbia e a Venezuela, mais uma etapa do Programa Sesai em Ação: Saúde Indígena Brasil Adentro!, que tem como objetivo apoiar a oferta de ações complementares à atenção básica e especializada de saúde em áreas de difícil acesso geográfico em benefício da população indígena, evitando, assim, o deslocamento de famílias para tratamento em centros urbanos. Este ano, o projeto, em parceria com a Funai, atendeu as 23 etnias indígenas que abrangem a jurisdição da Coordenação Regional do Rio Negro, incluindo os Yanomami.
A ação, que começou no dia 12 de abril, é resultado da parceria entre a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e os Expedicionários da Saúde – Associação de médicos voluntários que visam levar atendimento médico especializado, principalmente cirúrgico, até populações indígenas que vivem geograficamente isoladas, com excelência na qualidade de serviços e gestão responsável. Nessa 42º Expedição, foram realizadas mais de 300 cirurgias oftalmológicas e gerais; mais de três mil atendimentos nas especialidades de clínica geral, ginecologia, pediatria, oftalmologia, ortopedia e odontologia; além da realização de procedimentos ginecológicos (colposcopia e cirurgia de alta frequência) e entrega de óculos.
A indígena Lindáuria da Cruz Moraes, da etnia Baré, comemou o resultado da ação. Ela já estava esperando há mais de quatro anos por uma cirurgia nos olhos pelo Sistema Unico de Saude (SUS). “Fiz a triagem no DSEI de São Gabriel da Cachoeira no dia 8 de abril. Pediram pra chegar lá às 8h da manhã. Cheguei às 7h30 e já tinha muita gente na fila. Fiz a consulta e a médica viu a carne crescida que tinha nos meus dois olhos e me diagnosticou com pterígio. Era muito grande e doía muito! No dia 9 voltei lá para saber o que precisava levar para a aldeia: copo, prato, roupas confortáveis, essas coisas. Cheguei dia 10 e fui atendida dia 14, porque os indígenas das regiões mais isoladas e com problemas mais graves eram prioridade. Mas fomos muito bem tratados e alimentados. Tinha café, almoço, merenda e jantar. Os médicos são muito cuidadosos. Entrei numa porta transparente, fiz o exame e a cirurgia demorou uma hora e pouco. Depois que acabou eu sentei em uma cadeira e a enfermeira colocou o remédio nos meus olhos e já me deu os que eu precisava usar no pós-operatório. Tudo muito tranquilo e organizado”, relata.
As ações são coordenadas, executadas e financiadas pela Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde em parceria com as Forças Armadas, por meio do Ministério da Defesa, com a Organização Pan Americana de Saúde (Opas), Funai e sociedade civil. A Sesai, por meio do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Alto Rio Negro, disponibilizou mais de 100 profissionais que realizaram a etapa de pré-triagem nas aldeias, além de trabalharem efetivamente durante os dias da Expedição nas diversas áreas que compõem o complexo hospitalar: centro cirúrgico, pré e pós-operatório, clínicas, acolhimento e alimentação. O Exército e a Força Aérea Brasileira realizaram o apoio logístico que inclue, principalmente, transporte de carga e passageiros (pacientes e equipe médica), comunicação e alimentação. A Funai garantiu a alimentação dos indígenas e de seus acompanhantes.
O presidente Franklimberg de Freitas participou da Expedição no dia 15 de abril e ficou surpreso com o tamanho da estrutura montada na aldeia. “Eu traria meus filhos para serem operados aqui com certeza”. Freitas agradeceu a participação do Governo Federal e dos médicos envolvidos na ação. “A Funai está muito orgulhosa de participar dessa ação. Foi prestado um atendimento de altíssima qualidade para os indígenas da região, coisa que dificilmente poderia acontecer caso não houvesse um evento como esse, de iniciativa da Sesai. Agradecemos à turma de médicos dos Expedicionários da Saúde por toda a sua abnegação, e ao Exército e à Força Aérea, que disponibilizaram suas aeronaves e viaturas para transportarem esses pacientes. Sem vocês, isso tudo não seria possível”, ressalta o presidente da Funai.
Expedicionários da Saúde
A Organização Não Governamental Expedicionários da Saúde (EDS) nasceu há 15 anos no Brasil. “Esporadicamente um grupo de amigos, em sua maioria médicos, organizava caminhadas em meio à natureza. No ano de 2002, ao visitarem o Pico da Neblina (AM), tiveram a oportunidade de conhecer uma aldeia Yanomami. Confrontados com uma realidade muito diferente da que viviam, resolveram mudar o foco de suas viagens e tentar fazer alguma coisa pela população indígena da região. O grupo procurou as instituições responsáveis pelo atendimento à saúde para entender como atuavam e assim planejar uma participação eficaz. Dessa forma, em 2003, foi oficialmente estruturada a Associação Expedicionários da Saúde. Desde então, as caminhadas iniciais transformaram-se em expedições de atendimento médico às comunidades indígenas na Amazônia, dando origem ao Programa Operando na Amazônia”, informa o site da EDS.
Desde então, mais de 300 voluntários cobriram uma área de mais de 500 mil km desde 2004. Já são 42 expedições, 6604 atendimentos, 8003 cirurgias e quatro mil exames realizados.
Fundador da organização, o médico ortopedista do Instituto Affonso Ferreira e membro do corpo clínico do Centro Médico de Campinas, doutor Ricardo Affonso Ferreira, é o presidente, chefe das Expedições e responsável pela articulação junto às instituições parceiras da EDS. “Isso começou há 15 anos, e a gente foi crescendo e fazendo cada vez mais o cuidado com as populações indígenas que vivem geograficamente isolados. Decidimos criar a organização vendo a realidade da saúde indígena e tudo o que se poderia fazer com um grupo de médicos não tão grande para modificar um realidade, como nos casos de cataratas, hérnias e a retirada das lesões do colo de útero. É muito legal porque é resolutivo. São coisas resolutivas. Nós não temos tamanho para fazer nada que não seja resolutivo”, afirma.
A médica ortopedista e coordenadora-geral dos Expedicionários da Saúde, Márcia Abdala, está há mais de 13 anos na organização. Segundo ela, o principal objetivo do grupo é acabar com a demanda de cirurgias nas comunidades indígenas da Amazônia. “A gente acredita que esse trabalho é fundamental, porque já atendemos mais de 50 mil pessoas com quase 10 mil cirurgias. Todos serem voluntários faz uma grande diferença porque quem está aqui está porque quer. A gente trabalha muito, mas a gente trabalha com alegria, com vontade de fazer acontecer mesmo. Fazer com que as coisas saiam da melhor forma possível”, completa.
Priscilla Torres
Assessoria de Comunicação da Funai, com informações da Sesai e da EDS
FONTE: FUNAI
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