Tortura, assassinatos individuais e coletivos de índios, distribuição de comida envenenada, dinamites atiradas de avião sobre aldeias, inoculações propositais do vírus da varíola em povos isolados, exploração de trabalho escravo, remoção forçada para destinação de terras indígenas a particulares.
Esses e outros crimes cometidos contra povos indígenas em pleno século XX, quando vigorava a política integracionista no Brasil, são o tema da exposição “Respeito ou Repetição? A história que não se quer reviver”, organizada pela Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do MPF (6CCR) em parceria com o Armazém da Memória.
A mostra foi inaugurada nesta sexta-feira (9) e fica em cartaz até o dia 16 de abril no Memorial do MPF, na sede da Procuradoria-Geral da República, em Brasília.
A exposição traz imagens e trechos do Relatório Figueiredo, documento produzido em 1967 a partir de investigação conduzida pelo procurador Jader de Figueiredo Correa, do extinto Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCs), a pedido do próprio governo militar. Jader percorreu mais de 16 mil quilômetros em missão oficial, entrevistou dezenas de agentes do Serviço de Proteção Indígena (SPI) e visitou mais de 130 postos indígenas. Em mais de sete mil páginas, registrou massacres e atrocidades cometidos contra indígenas como resultado da política de integração forçada, por funcionários do SPI, políticos e latifundiários.
A divulgação do Relatório Figueiredo em 1969 chocou o Brasil e o mundo, motivando a extinção do SPI e a criação da Funai. O documento ficou desaparecido por mais de 40 anos, tendo sido encontrado em 2012 pelo pesquisador Marcelo Zelic, curador da mostra. Agora, a exposição retoma trechos do relatório e traz alguns dos resultados das apurações conduzidas pela Comissão Nacional da Verdade sobre as violações de direitos de indígenas. O objetivo é dar visibilidade a uma parte ainda pouco conhecida da nossa história e evitar a repetição dos crimes do passado.
Genocídio – Segundo o coordenador da 6CCR, o subprocurador-geral da República Antonio Carlos Bigonha, a exposição revela como o integracionismo importou em verdadeiro genocídio indígena. “O resultado desastroso dessa política de integração forçada está exposto aqui, para que todos tirem suas próprias conclusões. A mostra pretende refrescar a memória das pessoas sobre uma página da história que não podemos esquecer e não queremos reviver”, disse ele, na solenidade de abertura. Segundo o vice-procurador-geral da República Luciano Mariz Maia, que também participou do evento, “se o passado se fizer presente de novo, não haverá futuro nem para os povos indígenas nem para nós”.
Para Sônia Guajajara, coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), “a política integracionista surge novamente diante dos povos indígenas, como uma ameaça. Por isso é tão importante mostrar os fatos para que as pessoas conheçam essa história”. Marcelo Zelic lembrou que toda investigação dos crimes do passado busca criação de mecanismos de não-repetição. “Respeito ou repetição é a encruzilhada em que nos encontramos hoje como sociedade”, disse. Ele ressaltou ainda que a Comissão Nacional da Verdade registrou pelo menos 8.350 indígenas mortos ou desaparecidos na ditadura militar em apenas 10 dos 305 povos existentes no Brasil.
Mostra – A exposição “Respeito ou Repetição?” traz lâminas que destacam imagens e trechos do Relatório Figueiredo, fotografias da época, matérias de jornal, trechos do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, entre outros materiais. Além disso, revela o trabalho do MPF, que move ações na Justiça para garantir a reparação a alguns dos povos atingidos pelas violações. A arte da mostra foi criada pela designer Bianca Prado.
A exposição é itinerante e, a partir do dia 22, poderá ser vista no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília. Outros espaços poderão receber a exposição, em agenda ainda a definir.
SERVIÇO
Exposição “Respeito ou Repetição? – A história que não se quer reviver”
De 9 de abril a 16 de abril
Local: Memorial do MPF, sede da Procuradoria-Geral da República (endereço: SAF Sul Quadra 4 Conjunto C Brasília/DF)
Horário de visitação: 13h às 17h (de segunda a sexta-feira)
Secretaria de Comunicação Social
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