O aquecimento global é real, mas o negacionismo é uma força significativa no Brasil. Isso é ilustrado por uma série de eventos, sendo o mais dramático o controle da mídia brasileira na época do evento Rio+20 em 2012.

 

O aquecimento global é causado pelo acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera em níveis acima daqueles que prevaleciam antes das emissões humanas subiram acentuadamente  na época da revolução industrial.

As emissões acima dos níveis “naturais” vêm da combustão de combustíveis fósseis, o desmatamento e outras fontes antropogênicas. Esses gases bloqueiam parte da energia que a Terra recebe do Sol de ser devolvida ao espaço sideral na forma de radiação infravermelha, aumentando assim a temperatura da superfície da Terra.

As temperaturas já subiram o suficiente para ter efeitos prontamente observáveis, e as projeções são para aumentos substancialmente maiores nas próximas décadas. O cenário que aproxima “negócios como sempre” (RCP8.5) do mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) projeta que a temperatura média global em 2100 deverá aumentar em 4,8°C acima da média de 1996-2005.

Na Amazônia, as temperaturas de 2100 no período de junho a agosto seriam de 6-8°C acima da média de 1996-2005. Isso tem sérias consequências para a saúde humana, a agricultura e a floresta amazônica. Além dos efeitos diretos das temperaturas mais altas, elas também afetariam as chuvas, particularmente a ocorrência de secas e inundações extremas. Tanto o El Niño quanto o dipolo do Atlântico, que causam secas na Amazônia, devem aumentar.

A precipitação média diminuiria substancialmente na Amazônia oriental (além de reduções catastróficas no nordeste do Brasil). Fluxos de água nos principais rios amazônicos com hidrelétricas existentes ou planejadas diminuiriam substancialmente, reduzindo bastante a geração de energia. A Amazônia não é apenas uma vítima do aquecimento global, é também uma fonte de emissões antropogênicas por desmatamento, degradação florestal por exploração madeireira e incêndios, e emissões de represas hidrelétricas.

As emissões que não são causadas diretamente pela ação humana, como a degradação das florestas resultante das secas provocadas pelas mudanças climáticas e as emissões provenientes do aquecimento dos solos, também contribuem para o aquecimento global. As grandes áreas de floresta remanescente fazem da região um fator central em possíveis emissões futuras desse tipo.

A Amazônia também está no centro de discussões (frequentemente controversas) sobre medidas de mitigação através de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) e pela concessão de crédito de carbono para represas hidrelétricas.[1]

Nota

[1] As pesquisas do autor são financiadas exclusivamente por fontes acadêmicas: Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq: proc. 305880/2007-1; 5-575853/2008 304020/2010-9; 573810/2008-7), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM: proc. 708565) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA: PRJ15.125). Este trabalho foi apresentado no Fourth International Conference of Literature and Environment: II Biennial Conference of ASLE-Brasil “The Demise of Nature: Narratives of Water and Forests in the Anthropocene”, Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 04-07 de junho de 2018.

A fotografia que ilustra mostra a seca no lago do Uarini, no rio Solimões, em 2010, no Amazonas. UARINI AM 09 09 2010 VISTA DO LAGO DO UARINI COM CANOAS NA MARGEM DE BRAÇO DO RIO SOLIMOES DURANTE A SECA NA BACIA DO RIO SOLIMOES NO MUNICIPIO DE UARINI NO MEDIO SOLIMOES. FOTO ALBERTO CESAR ARAUJO (Foto: Alberto César Araújo)

Leia a última série do autorHidrelétricas e Aquecimento Global

Philip Martin Fearnside é doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA) e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM), onde vive desde 1978. É membro da Academia Brasileira de Ciências e também coordena o INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia) dos Serviços Ambientais da Amazônia. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007. Tem mais de 500 publicações científicas e mais de 200 textos de divulgação de sua autoria que estão disponíveis aqui.

VER MAIS EM: Amazônia e o Aquecimento Global: 1 – Resumo da Série – Amazônia Real  

FONTE: AMAZÔNIA REAL