Em assembleia, líderes indígenas que representam cerca de 25 mil nativos se reúnem para debater mudanças do novo governo.
Centenas de lideranças indígenas da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, ao Norte de Roraima, se reúnem desde segunda-feira (21) em assembleia para discutir as novas políticas adotadas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), entre elas o esvaziamento da Funai que perdeu a atribuição de demarcar terras indígenas.
Organizado pelos indígenas, o encontro reúne mais de 200 lideranças. A expectativa é que, ao fim da assembleia, os índios elaborem uma carta com reivindicações para levar ao presidente. Na Raposa vivem cerca de 25 mil nativos de cinco etnias.
Desde o primeiro dia de mandato, Jair Bolsonaro adotou medidas que provocaram reações contrárias entre índios e grupos de defesa dos direitos indígenas.
Entre elas a Medida Provisória que tirou da Funai (Fundação Nacional do Índio) e deu para o Ministério da Agricultura a competência de demarcar terras indígenas e quilombolas e a transferência do próprio órgão do Ministério da Justiça para o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos.
Primeira mulher indígena a ocupar vaga na Câmara, a deputada federal eleita Joenia Wapichana (Rede) discursou durante a assembleia. Para ela, as mudanças do novo governo colocam em risco direitos já consolidados pelos indígenas.
“Não são apenas declarações de ataque aos indígenas como também atos administrativos que o presidente têm feito desde 1º de janeiro.
Eles vão desde o desmonte dos ministérios até o da própria Funai, o único órgão indigenista federal que agora foi entregue aos ruralistas”, disse a deputada.
Antes de assumir, Bolsonaro afirmou que quer rever a demarcação da Raposa Serra do Sol homologada no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Depois, recuou e disse que caberá ao Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu pela demarcação em área contínua, debater o assunto.
“Há um desmonte dos direitos dos povos. Por isso estamos trazendo as lideranças, adultos, crianças para que estejam informados da situação. A gente não vai aceitar proposta de mineração, arrendamento.
A gente não quer ver nosso povo doente, envenenado”, declarou a professora indígena Iranir Barbosa.
Para o vice-coordenador do Conselho Indígena de Roraima (Cir), Edinho Batista, o encontro entre os índios é “fundamental frente às decisões do novo governo”. “A gente considera que está vivendo um retrocesso e essa preocupação não é só nossa, mas de índios do país inteiro”, conta.
A assembleia deve ser encerrada nesta terça (22). O encontro acontece no Centro Indígena de Formação e Cultura da Raposa Serra do Sol, na região do Surumu.
Em 2005, o local foi alvo de ataques de não-índios que se recusavam a deixar a área. Uma escola e uma igreja foram incendiadas.
Homologada em 2005, a Raposa Serra do Sol tem 1,7 milhão de hectares e até 2009 foi palco de intensos conflitos entre índios e fazendeiros que se recusavam a deixar a área.
FONTE: Editor Jornal Tijucas
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