Na manhã desta quarta-feira (05) ocorreu a 57ª edição, e última do ano, do Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (Geea) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC). Na ocasião, o Dr. Carlos Edwar de Carvalho Freitas falou sobre a atividade pesqueira na região.

Debate girou em torno da atividade levando em conta dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.

O pesquisador do Inpa e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) apresentou dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura(FAO) sobre o desempenho da pesca no mundo nas últimas seis décadas, que deixaram claro que a atividade é muito importante tanto na produção de proteína animal como no combate à fome. O desempenho da piscicultura permaneceu quase que totalmente estagnado de 1950 a 1995, passando desde então a ter um crescimento exponencial até os dias atuais.

Nos últimos vinte anos, a taxa de aparente consumo vem aumentando ainda mais que a taxa populacional; isso, levando em conta que a produção de pescado não é destinada apenas para consumo direto, mas também para outros fins, como a produção de ração para animais, incluindo os próprios peixes nas fazendas de piscicultura.

Outro dado importante observado nos últimos anos é que o aumento da produção pesqueira continental vem ocorrendo apenas nas regiões tropicais, enquanto ela permanece mais ou menos constante nas regiões temperadas. Os países responsáveis pela maior produção são aqueles do continente asiático, como China, Índia, Bangladesh e Paquistão. No cenário mundial, o Brasil ocupa uma produção modesta de pescado de água doce, cerca de 225 mil toneladas por ano, aproximadamente 10% da produção indiana e menos de 2% da produção continental mundial.

A FAO estima que cerca de 10% da produção não é computada, entretanto, com base em modelos de consumo de dezenas de países, essa taxa de produção “escondida” ou não declarada gira ao redor de 17%. Segundo Edwar, há grandes lacunas na coleta de dados da produção pesqueira mundial, e quanto a isso o Brasil ocupa uma posição de destaque, por conta de suas dimensões continentais e falta de controle e fiscalização.

O palestrante mostrou também vários resultados oriundos de estudos que ele e sua equipe vem desenvolvendo na Amazônia, há vários anos. Um deles é que a produção mantém uma forte correlação com o nível das águas, geralmente maior no período de vazante, quando os peixes se deslocam das matas alagadas para os lagos, ou mesmo para o canal principal do rio. No entanto, essa não é a regra geral, pois a produção também varia com o tipo de pescado e mesmo entre as sub-regiões. Assim, em muitos locais, a produção pesqueira é maior no período da cheia. É essa variação nos níveis de produção que garante uma produção mais ou menos constante na Amazônia, ao longo do ano.

Os níveis de produção pesqueira também mantêm forte correlação com as mudanças climáticas globais, como aquelas representadas pelo efeito El Nino e La Nina e que afetam os regimes hidrológicos dos rios, com fortes implicações nas áreas alagáveis, que são importantes fontes de alimentação para muitos grupos de peixes e outros organismos que atuam na cadeia trófica e várias outras interações entre peixe e ambiente.

Um fato marcante durante o Geea foi a declaração de que o período de defeso, associado ao salário-defeso, não vem contribuindo positivamente para a preservação dos estoques; geralmente o pescador ganha tal recurso e continua pescando, por absoluta deficiência ou mesmo inexistência de fiscalização. Assim, o defeso acaba sendo prejudicial aos estoques, porque a ajuda financeira concedida aos pescadores acaba aumentando seu poder de pesca num momento crítico para os estoques.

Por outro lado, o manejo dos lagos, feito pelos moradores locais, como no caso de Mamirauá, tem apresentado resultados altamente satisfatórios. A razão para isso é que as pessoas conseguem se articular para defender não apenas o estoque alvo, no caso o pirarucu, mas também os demais estoques, como o de tambaqui e os recursos pesqueiros como um todo. Trata-se de um modelo que tem muitas possibilidades de prosperar, com baixo investimento governamental e alto ganho ambiental.

Dr. Carlos Edwar chamou atenção para o fato de que o manejo pesqueiro deve sempre estar alinhado com o sentido da sustentabilidade. Ou seja, deve levar em conta não apenas a situação dos peixes ou o aumento da produção, mas também o cuidado com o meio ambiente e com as famílias dos moradores e dos pescadores. Para ele, é indispensável que se adote medidas para a proteção dos estoques e das matas ciliares, bem como a redução do desperdício e aproveitamento dos sub-produtos do pescado. Logo, o manejo sustentável dos recursos pesqueiros deve ser feito de forma integrada com todos os atores envolvidos no processo.

Da redação – Geea – FONTE: INPA