Artigo ressalta as contribuições do Programa de Estudos Costeiros do Museu Goeldi para o desenvolvimento socioambiental e científico do litoral norte brasileiro.

O Programa de Estudos Costeiros (PEC) é um dos programas estruturantes do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). Aliando ciências humanas, biológicas e naturais, o PEC integra todos os setores da instituição tendo como foco os ecossistemas costeiros do Norte do Brasil. Os especialistas investigam os aspectos ambientais e sociais da região costeira amazônica – que vai desde o rio Oiapoque, no Amapá, até a Ilha de São Marcos, no Maranhão. O objetivo do programa é gerar, integrar e comunicar conhecimentos acerca dos sistemas naturais e da diversidade sociocultural da Amazônia costeira e marinha.

Uma apresentação sucinta do Programa de Estudos Costeiros foi publicada em 2018 em artigo  da revista  International Journal of Advanced Engineering Research and Science (IJAERS), assinado pelas pesquisadoras do Museu Goeldi Ana Harada, Maria Luiza Videira Marceliano e Lourdes Furtado.

Criado em 1997, o programa interdisciplinar vem sendo um grande agregador para a pesquisa e formação de recursos humanos, com a integração de universitários e pós-graduandos, por meio de estágios e bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além da inserção de pessoas das comunidades pesqueiras que se engajam nas ações de pesquisa.

Artigo – O artigo analisa a contribuição científica e a formação de recursos humanos resultante de 19 anos de atividade do Programa. Durante o período de 1997 a 2016, o grupo com seus parceiros produziram 434 publicações – 230 na área das Ciências Biológicas, Saúde e Agricultura, 98 em Ciências da Terra e Engenharia e 76 em Ciências Humanas e Sociais.

Além das publicações, calculou-se o total de 427 ações de formação de recursos humanos – 128 na área de Ciências Biológicas, Sanitárias e Agrícolas, 128 em Ciências da Terra e Engenharia e 100 em Ciências Humanas e Sociais. Os dados também revelaram que a contribuição intelectual do PEC ofereceu subsídios qualitativos muito significativos para o estudo e desenvolvimento do litoral norte do Brasil.

Harada, Marceliano e Furtado assinalam também a colaboração do PEC na organização de eventos para debater assuntos pertinentes à costa amazônica, como também a contribuição no estabelecimento de Áreas de Preservação Ambiental (APAs) e Reservas Extrativistas (RESEX) marinhas, junto a outras atividades voltadas para a melhoria da qualidade de vida de várias comunidades costeiras amazônicas.

O estudo também aporta a carência de apoio financeiro para que o PEC ultrapasse alguns obstáculos que impedem o aumento de sua produção científica e da capacitação de alunos em temas relacionados a zona norte costeira, entre outras metas.

Produção-pesqueira-estudos-costeiros_MuseuGoeldi

Costa A costa norte brasileira é composta por uma série de bacias hidrográficas com características peculiares, que compõem o grande estuário (transição entre rio e mar) amazônico. Nela estão os maiores e mais preservados manguezais do mundo.

Com uma área de quase três mil quilômetros, a costa se estende desde o rio Oiapoque, no Amapá, até a Ilha de São Marcos, no Maranhão, cortando diversos municípios paraenses como Bragança, Chaves, Curuçá, Marapanim, Quatipuru, Salinópolis, Salvaterra, São Caetano de Odivelas, Tracuateua, Viseu, entre outros. É nessa rica área que atua o Programa de Estudos Costeiros do Museu Goeldi.

Do ponto de vista ecológico, os bosques de manguezais do litoral amazônico são os grandes responsáveis pela exportação de nutrientes para a plataforma continental adjacente. Isso torna a área uma das maiores em produtividade pesqueira do Brasil.

A zona norte costeira vem passando por transformações antrópicas significativas ao longo das últimas décadas, das quais se destacam a construção de estradas, portos e cidades próximas ao mar e a exploração indevida de recursos naturais (pesca industrial, exploração mineral) e ambientais (fontes hídricas e minerais). Essas ações dificultam a reposição dos estoques de peixes e mariscos, o que interfere na manutenção e conservação da área e das pessoas que nela vivem. Além disso, geram a perda de uma biota ainda pouco conhecida pela ciência.

Por se tratar de um espaço vital para o desenvolvimento socioambiental da região, o trabalho desenvolvido pelo PEC “estudar e esclarecer fenômenos, como também fornecer conhecimentos básicos para que instituições públicas e privadas possam atender às necessidades das comunidades costeiras e, assim, estabelecer políticas públicas que facilitem e melhorem a qualidade de vida dessas populações”, conforme explica a bióloga Ana Harada.

Contribuições – O Museu Paraense Emílio Goeldi desenvolve estudos regulares na costa amazônica desde a década de 1960. A organização de um grupo pioneiro de pesquisas em Antropologia da Pesca, que mais tarde articulou o projeto Recursos Naturais e Antropologia das Sociedades Marítimas, Ribeirinhas e Estuarinas da Amazônia (RENAS), acumula décadas de estudos científicos sobre os aspectos socioculturais de comunidades de pescadores em vários municípios da Costa Norte – este projeto foi um dos âncoras para a criação do Programa de Estudos Costeiros no Museu Goeldi.

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A expertise dos especialistas do Goeldi contribuiu com diversas outras iniciativas de pesquisas na costa amazônica. Um exemplo é o projeto Potenciais Impactos Ambientais do Transporte de Petróleo e Derivados na Zona Costeira Amazônica (PIATAM mar I e II). Outra experiência que merece ser citada é o RECOS – Uso e Apropriação dos Recursos Costeiros e o Diagnóstico Socioambiental da Baía de Guajará -, desenvolvido no âmbito da Rede Cooperativa Norte-Nordeste de Monitoramento Ambiental de Áreas de Risco a Derrames de Petróleo e seus Derivados (PETRORISCO).

Também é notável o trabalho da Rede Interdisciplinar de Pesquisa Botânica na Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado, projeto voltado para o uso sustentável dos ambientes costeiros que teve a contribuição do PEC. Desenvolvido no período 1997-2016 e coordenado por pesquisadores de várias instituições estaduais e nacionais, o projeto atuou ao longo do litoral amazônico, priorizando a visão interdisciplinar na formação de recursos humanos.

Vários resultados dessas e de outras importantes atuações dos pesquisadores do PEC estão em mais de 165 artigos publicados em livros e periódicos científicos nacionais e internacionais. Desses, destaca-se o “Amazônia, zona costeira: termos técnicos e populares”, obra lançada em 2015 para difundir a singularidade do vocabulário do litoral amazônico e que encontra-se acessível na plataforma ISSUU. A publicação apresenta tanto os termos técnicos utilizados por pesquisadores de diferentes áreas quanto os termos populares usados por comunidades pescadoras da região. O livro permite conhecer as multifacetadas dinâmicas culturais e socioambientais das áreas costeiras e ainda proporciona a integração e troca de saberes entre pesquisadores e populações pescadoras.

Acesse aqui a integra do artigo “Science at the amazonian cost: Scientific production and training of human resources from the Coastal Studies Program – Museu Paraense Emílio Goeldi”.

 

Texto: Karolina Pavão e Phillippe Sendas.

FONTE: Agência Museu Goeldi  –   Página Inicial