O setor agroindustrial é fonte de emprego e renda para milhares de famílias do campo e da cidade, que atuam com diferentes matérias primas. Para conhecer os desafios para o desenvolvimento de estabelecimentos de base familiar que realizam o processamento de frutas em municípios acreanos, a Embrapa estudou diferentes aspectos dessa atividade. Os resultados desse trabalho estão reunidos no livro “Perfil das Agroindústrias Familiares de Frutas do Acre”, lançado no dia 3 de novembro.

Disponível em versão impressa e em formato digital, a publicação é fruto do projeto “Ações de Transferência de Tecnologias para Modernização de Agroindústrias Familiares do Acre”, executado em parceria com agricultores e processadores de frutas, desde 2012. Produzida por profissionais da Embrapa, com atuação em diferentes áreas do conhecimento, a obra faz um diagnóstico preciso destes empreendimentos comerciais no Estado. “Os conteúdos abordam aspectos socioeconômicos de produtores rurais fornecedores de matérias primas e de ordem tecnológica, gerencial e legal da atividade agroindustrial, além de fatores que influenciam o estabelecimento e manutenção de agroindústrias de frutas no mercado acreano”, explica a analista Dorila Mota, uma das editoras técnicas da publicação.

Publicado em parceria com o projeto Bem Diverso, o livro “Bambus no Brasil, da Biologia à Tecnologia”, o livro é dirigido a diferentes públicos, incluindo produtores familiares, empresários e colaboradores de agroindústrias, profissionais e estudantes das áreas de tecnologia de alimentos, agronomia, administração, economia e ciências sociais e gestores governamentais. A publicação impressa será enviada a instituições parceiras, universidades, órgãos de pesquisa e fomento à produção agroindustrial e gestores de agroindústrias do Acre. A versão digital pode ser acessada aqui.

Fatores limitantes 

Desde 2012 a Embrapa investe em ações de pesquisa e capacitação para fortalecer o setor agroindustrial acreano. A partir de 2017, esse trabalho passou a ser executado por meio do projeto “Qualidade da matéria prima, do processamento de açaí e café e gestão de agroindústrias familiares do Acre – Fortalece”. Segundo levantamento realizado durante o primeiro projeto, 93% das agroindústrias pesquisadas se concentram nas regionais do Baixo Acre e Tarauacá-Envira e têm o açaí como principal produto. Muitas dessas estruturas passam parte do tempo ociosas, devido à sazonalidade na produção, que dificulta o acesso a matéria prima de forma contínua.

“Além disso, a maioria das agroindústrias familiares precisa de adequação nos espaços físicos e nos fluxos operacionais, para atender às boas práticas de fabricação preconizadas pela legislação. Esses empreendimentos se caracterizam também pela baixa adoção de ferramentas de gestão, instrumentos essenciais para aumentar a competitividade dos produtos no mercado, reduzir custos na produção e medir a rentabilidade do negócio. Entre os pontos positivos, destacam-se a disponibilidade de mão de obra nas comunidades rurais, especialmente os jovens, e a participação ativa das mulheres nas diversas etapas da produção”, afirma a pesquisadora Cleísa Cartaxo, uma das responsáveis pelo diagnóstico das agroindústrias familiares acreanas e editora do livro.

Para conhecer as dificuldades para o estabelecimento de agroindústrias familiares no mercado, a pesquisa ouviu gestores públicos e gestores destes empreendimentos comerciais. Do ponto de vista dos gestores governamentais, um dos principais fatores limitantes é a falta de clareza quanto ao papel institucional dos órgãos que atuam no segmento. A carência de pessoal técnico especializado para apoiar o trabalho das agroindústrias locais e a falta de articulação entre as ações das instituições de apoio e fomento e as instâncias de registro e regulação de processos agroindustriais também se configura como impedimento para o avanço da atividade.

Na perspectiva de empreendedores de agroindústrias, as principais limitações ao desenvolvimento da atividade são o desconhecimento das demandas de mercado, as dificuldades de atendimento à legislação, especialmente em função de normas federais descontextualizadas da realidade da Amazônia, a oscilação na oferta de produtos para o mercado, em função da escassez de matéria prima na entressafra, e as dificuldades de acesso a informações sobre fontes de financiamento, legislação e apoio técnico.

Para Cleísa Cartaxo, esse diagnóstico da realidade das agroindústrias familiares mostra, de forma clara, as demandas para os órgãos de apoio, oferecendo as ferramentas básicas para uma atuação focada nos principais entraves da atividade. “Qualquer política pública voltada para o segmento poderá munir-se das informações reunidas no livro para a elaboração de uma proposta plenamente coerente com a realidade local. Além disso, de posse desses dados, gestores do setor agroindustrial podem reivindicar dos agentes públicos a criação de instrumentos políticos para melhoria do setor”, diz.

Complexidades e potencialidades do setor 

Estudos revelam que a criação de agroindústrias familiares no Brasil é um processo demorado e complexo, em função das exigências da legislação envolvendo tanto a padronização da estrutura física destes espaços, que requer vultosos investimentos, como questões relacionadas à manipulação de matérias primas utilizada e qualidade do produto final disponibilizado para o mercado. Segundo Dorila Mota, tais exigências são pertinentes para garantir alimento seguro para o consumidor, entretanto, no Acre, a falta de apoio a este segmento impede a consolidação de agroindústrias base familiar.

“A maioria destes empreendimentos comerciais não sobrevive devido à forte cobrança por parte de diferentes instituições, que atuam mais na regulação da atividade agroindustrial e menos em ações educativas. Por outro lado, a forte demanda por qualificação, de diferentes atores, gera a necessidade de implementar processos educativos e instrutivos voltados para os diversos elos do setor. “Ao condensar as complexidades da atividade agroindustrial a obra revela também a necessidade de apoio ao segmento agroindustrial”, destaca a editora.

De acordo com o analista Francisco de Assis Silva, líder do projeto que deu origem à obra e autor de dois capítulos, o projeto teve como principal objetivo gerar subsídios para a elaboração e execução de um programa estadual para fortalecimento de agroindústrias familiares do Acre, ferramenta que tem como finalidade viabilizar os meios necessários para que pequenos empreendimentos agroindustriais contem com produção de qualidade, possam se adequar à legislação e tenham acesso a mercados.

“Em localidades como Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rondônia experiências no âmbito do Programa de Verticalização da Produção Familiar mostraram que com o devido apoio, esses empreendimentos são absolutamente viáveis. No Acre, a produção agroindustrial familiar é uma atividade promissora, mas carece de políticas públicas que garantam o seu desenvolvimento de suas potencialidades. Fortalecer esses empreendimentos trará benefícios para as comunidades rurais, uma vez que permitirá o aproveitamento de uma diversidade de frutas, reduzindo perdas na produção e proporcionando mais renda para as famílias de agricultores”, enfatiza Silva.

Sobre o projeto Bem Diverso 

Executado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com recursos do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), o Projeto Bem Diverso atua nos Territórios da Cidadania Alto Acre e Capixaba (AC) e Marajó (PA), no bioma Amazônia; Médio Mearim (MA) e Alto Rio Pardo (MG), no bioma Cerrado; e Sobral (CE) e Sertão de São Francisco (BA), na Caatinga.

A iniciativa visa contribuir para a conservação da biodiversidade brasileira, por meio do uso sustentável dos recursos florestais, visando garantir mais renda e qualidade de vida em comunidades tradicionais. No estado do Acre, as ações são desenvolvidas em comunidades rurais da Reserva Extrativista Chico Mendes, com foco na melhoria da produção de castanha-do-Brasil e ampliação do uso de sistemas agroflorestais envolvendo modelos que incluem espécies nativas como castanheira e seringueira e funcionam como alternativa para diversificar a renda familiar e conservar o meio ambiente. Clique aqui e saiba mais sobre o projeto.

Diva da Conceição Gonçalves (Mtb-0148/AC)
Embrapa Acre 
Colaboração: Luana Dourado
Embrapa Acre  – Livro apresenta diagnóstico da atividade agroindustrial familiar no Acre – Portal Embrapa