USP instalou equipamentos para coletar informações sobre composição química dos poluentes; estudos já mostram danos ao ambiente e à saúde da população.
A pesquisa no Acre está sendo feita pelo Instituto de Física da USP em parceria com a Universidade Federal do Acre e a Universidade Mayor de San Andres, na Bolívia. Um dos objetivos do estudo é verificar como os poluentes atmosféricos afetam a saúde da população e o ecossistema de regiões distantes como os Andes Bolivianos e o Sul do Brasil – Foto: Reprodução / Hervé Théry / Geografia / FFLCH
Uma das principais fontes de poluição do ar no Brasil são as queimadas na floresta amazônica. Os poluentes atmosféricos avançam nas Cordilheiras dos Andes e viajam ao Sul do Brasil, alterando o meio por onde passam e afetando a saúde das pessoas. Para analisar a composição química destes poluentes durante a estação da seca, e poder entender os danos em maior profundidade, o Instituto de Física (IF) da USP, em parceria com a Universidade Federal do Acre (Ufac) e a Universidade Mayor de San Andres, Bolívia, instalou equipamentos de medidas de emissões de queimadas em Rio Branco, no Acre, e em Chacaltaya, nos Andes.
Já há estudos mostrando que as emissões de fuligem e de material particulado afetam a saúde de milhões de pessoas na Amazônia e no Brasil central. Mas segundo Paulo Artaxo, pesquisador do IF, até o momento não existiam medidas contínuas e regulares da qualidade do ar na região. No Acre, os instrumentos ficarão instalados por três meses e, em Chacaltaya, por um ano. Os equipamentos possibilitarão a análise de aerossóis e gases, medidas do balanço radiativo atmosférico e de compostos que sabidamente afetam a saúde da população – como o black carbono (produzido por combustão incompleta de biomassa), o ozônio e os óxidos de nitrogênio, dentre outros.
Os pesquisadores irão coletar ainda, como subsídio, dados de saúde pública e mapear a rota da fumaça para saber como ela afeta o ecossistema andino, em Chacaltaya, um dos pontos mais altos dos Andes Bolivianos, a cerca de 5.240 metros. “Na região amazônica, as concentrações de materiais particulados são extremamente elevadas, atingindo valores quatro a cinco vezes mais altos do que medimos na região central de São Paulo. No período de seca, de agosto a novembro, aumentam as internações hospitalares devido a doenças respiratórias e há aumento da mortalidade”, diz Artaxo.
A maioria das pesquisas científicas que relacionam poluição atmosférica à saúde humana enfoca, sobretudo, doenças respiratórias e cardiovasculares, mas já há evidências que demonstram que a poluição também acarreta outros problemas, pois vários compostos emitidos são cancerígenos. O artigo Biomass burning in the Amazon region causes DNA damage and cell death in human lung cell, de que Artaxo é coautor, aprofunda melhor esta questão. Neste estudo sobre queimadas da biomassa na floresta amazônica, os pesquisadores mostraram os mecanismos pelos quais as substâncias que entram nos pulmões causam inflamação e danos genéticos nas células pulmonares.
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Dos Andes Bolivianos ao Sul do Brasil
Os aerossóis atmosféricos são chaves na investigação científica quando se trata do entendimento das mudanças climáticas e do aquecimento global. O projeto temático Ciclos de vida de aerossóis e nuvens na Amazônia: emissões biogênicas, de queimadas e impactos nos ecossistemas, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), trata deste assunto. Os pesquisadores, sob coordenação de Artaxo, estão estudando como os aerossóis e os gases biogênicos (naturais) influenciam o clima e o ecossistema amazônico e regiões distantes, como os Andes Bolivianos e o Sul do Brasil.
Os aerossóis atmosféricos são pequenas partículas sólidas ou líquidas que ficam em suspensão na atmosfera e têm relação direta com o clima e a saúde humana. Alguns tipos de aerossóis, como a fuligem produzida pela combustão de biomassa, alteram o balanço de energia atmosférica porque estes refletem ou absorvem a radiação solar, além de interferir nos mecanismos de formação e desenvolvimento de nuvens e chuvas.
Tão importante quanto o estudo dos gases de efeito estufa, “as pesquisas com aerossóis atmosféricos poderão preencher lacunas no entendimento sobre o balanço da radiação solar e da fotossíntese da floresta amazônica”, afirma o pesquisador. Nas zonas urbanas, os aerossóis provenientes da queima de combustíveis fósseis e das indústrias são responsáveis por efeitos importantes na saúde da população. De acordo com estudos da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), há uma mortalidade adicional de cerca de 30 mil pessoas por ano associada à poluição do ar.
Segundo o professor Artaxo, a atmosfera é um sistema aberto e, portanto, as emissões da Amazônia afetam globalmente a sua composição. Nos Andes, “as plumas de queimadas sobem a mais de 4 mil metros de altura e se depositam na neve, acelerando seu derretimento e alterando o meio ambiente a milhares de quilômetros longe das emissões. Também são transportadas para o Sul do Brasil, onde afetam o ciclo hidrológico e as chuvas em extensas regiões com alta produtividade agrícola. As partículas de aerossóis também aumentam a radiação difusa, afetando a fotossíntese da floresta não queimada e dos campos agrícolas”, conclui.
Mais informações: e-mail [email protected] ou telefone (11) 3091-7016, com o professor Paulo Artaxo
FONTE: Jornal da USP
Por Ciências Exatas e da Terra, Ciências Ambientais – URL Curta: jornal.usp.br/?p=208564
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