O projeto “Resex Solar”, conduzido pela WWF-Brasil e com participação do Instituto Mamirauá, foi apresentado nessa sexta (14/12), na conferência internacional, na Polônia. Durante o evento, plataforma digital do projeto foi lançada. Acesse .
O encerramento da 24ª Conferência de Clima das Nações Unidas (COP24) pôs em foco o grande desafio de acesso energia limpa e acessível na Amazônia. O evento “Unravelling the mystery towards green and universal energy access for the last mile áreas” foi organizado pela WWF e apresentou um panorama de organizações e iniciativas que trabalham com modelos de energia solar para comunidades rurais na Amazônia, entre elas as ações do Instituto Mamirauá. O painel aconteceu nessa sexta-feira, 14/12, no Pavilhão Panda da COP24 em Katowice, Polônia, às 10 horas do horário local (7h de Brasília) e teve transmissão pela internet.
Energia limpa e acessível é uma das metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Porém, ainda hoje, há no mundo cerca de 1 bilhão de pessoas que não têm acesso à energia elétrica, e um milhão delas vive no Brasil, especialmente na Amazônia. São indígenas e ribeirinhos que enfrentam o desafio de viver sem energia. Quando possível, gastam o pouco dinheiro que possuem abastecendo geradores com diesel ou gasolina.
No Brasil, a maioria das comunidades que não estão ligadas à rede de distribuição está na Amazônia. São milhares de brasileiros que sofrem com problemas econômicos e sociais provocados pela falta de eletricidade. Um exemplo é o acesso e a qualidade da água, buscada de balde em rios ou igarapés por falta de bombeamento. Além do cansaço e do incômodo de beber água em temperatura morna, a coleta sem filtragem provoca diversas doenças, em especial a diarreia, bastante presente na região.
“Quem não tem energia dorme às 6h, 7h da noite, no calor, e dentro do mosquiteiro, para se proteger dos piuns e carapanãs (como são chamados os mosquitos na região)”, comenta Antonia Lopes, de 22 anos, uma das moradoras da Resex do Médio Purus, no sul do estado do Amazonas. Antônia é uma das participantes do vídeo e da plataforma digital sobre o projeto Resex Solar – Reservas Extrativistas Produtoras de Energia Limpa, de autoria do WWF-Brasil e do ICMBio, com o apoio de diversas organizações, cujo lançamento será durante o evento na COP24.
“Resex Solar é um projeto que tem a ver com melhores condições de vida para as populações. Ter acesso à energia, à água gelada em casa são condições básicas de dignidade”, aponta a diretora de Manejo e Desenvolvimento do Instituto Mamirauá, Dávila Côrrea. “Participar desse projeto, que é encampado pela WWF-Brasil, coloca o Instituto Mamirauá no rol de reconhecimento por outras instâncias e instituições, de que estamos visualizando um conjunto de elementos, de aspectos que precisamos olhar quando pensamos em meio ambiente sustentável, do humano ao recurso natural”.
Story Map e vídeo Resex Solar
O Resex Solar é um projeto-piloto que começou em 2016 para levar energia solar para comunidades de reservas extrativistas no sul da Amazônia e capacitar seus moradores em instalação e manutenção de sistemas solares, visando auxiliar a produção local, como uma maneira de melhorar a qualidade de vida da população e combater o desmatamento.
O Instituto Mamirauá é parceiro do projeto e ofereceu assessoria técnica, com uma equipe especializada em tecnologias sociais. É o caso de Felipe Pires, do Programa Qualidade de Vida (PQV) do instituto. Ele explica que parte das atividades foram decididas pelos próprios moradores, a partir de encontros e mobilizações nas comunidades.
“Os comunitários definiram suas prioridades para instalações de energia solar fotovoltaica visando o uso coletivo e produtivo”, conta o analista do Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
A escolha dos tipos de sistemas elétricos com energia solar fotovoltaica para uso produtivo inclui bombeamento de água para produção de mandioca e proteção com manejo de quelônios (tartarugas, jabutis e afins), iluminação para escolas e centros comunitários e energia para despolpamento de frutas e refrigeração, possibilitando a venda dos produtos extrativistas.
A equipe do Instituto Mamirauá realizou oficinas para as comunidades localizadas nas Resex’s Médio Purus e Ituxi, além de outras comunidades próximas ao município de Lábrea. “Uma das temáticas abordadas durante as oficinas foi a gestão comunitária de tecnologias sociais, um ponto de extrema importância para que haja sustentabilidade aos projetos de extensão implementados nas comunidades. Além disso, as oficinas de instalação, operação e manutenção dos equipamentos corroboram para que as comunidades tenham maior autonomia e se familiarizem com as novas tecnologias apresentadas”, indica Felipe.
“Se as comunidades têm eletricidade para usar na produção de mandioca, de beneficiamento de polpa de frutas, para refrigeração de pescados e fabricação de gelo, além da iluminação noturna para atividades de artesanato e educação, os moradores permanecerão em suas reservas, terão aumento de renda com a diversificação dos produtos, ganharão em qualidade de vida e saúde. Guardiões que são da floresta, trabalharão ainda mais fortemente para combater o desmatamento ilegal na sua região”, comenta a analista do WWF Alessandra Mathyas, líder do projeto.
Até o momento, já foram instalados 20 sistemas em diferentes comunidades, possibilitando, além do bombeamento de água para produção extrativista, o ensino noturno e o monitoramento das tartarugas da Amazônia.
Segundo a coordenadora de Políticas e Comunidades Tradicionais do Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade (ICMbio), Mara Carvalho Nottingham, a energia limpa traz alternativas concretas de diversificação do extrativismo realizado pelos moradores das Resex, sendo fundamental para a redução do desmatamento ilegal, que muitas vezes acontece pela absoluta falta de oportunidades econômicas e de subsistência das populações tradicionais.
Um estudo, realizado em 2015, pelo ICMBio e pela Universidade Federal de Viçosa revelou que a renda média per capita nessas Resex é de R$465 por mês. De acordo com os moradores, o combustível, seja para o gerador, seja para os barcos de locomoção, é o principal gasto das famílias moradoras das Resex.
“O projeto Resex Solar foi inspirado em iniciativas semelhantes de organizações parceiras, presentes na Amazônia, e busca servir de inspiração para subsidiar políticas públicas na área de energia, mostrando que energia solar, além de gerar menos ruído e poluição, possibilita ganhos econômicos e sociais para as famílias que vivem remotas”, diz Alessandra Mathyas.
O evento Unravelling the mystery towards green and universal energy access for the last mile áreas acontece dia 14 de dezembro, às 10 horas horário local (7h de Brasília) e terá transmissão ao vivo na página de Clima e Energia do WWF internacional no Facebook. O story map e os vídeos do projeto Resex Solar estarão disponíveis, em inglês e português, no link www.wwf.org.br/resexsolar.
FONTE: Instituto Mamirauá
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