É noite e centenas de tartarugas-da-amazônia (Podocnemis expansa) começam a emergir em faixas de areias às margens do rio Javaés, no estado do Tocantins.
Estamos no mês de setembro, em plena época de reprodução da espécie, e pesquisadores acompanham de perto os pequenos quelônios cavarem ninhos na praia para a desova. Em seguida, o grupo recolhe amostras de DNA de ovos e pedaços de tecido das fêmeas. O projeto faz parte do monitoramento de fauna nessa região da Amazônia e quer estabelecer a melhor hora para coletar o material genético de tartarugas em fase reprodutiva.
“A partir do momento em que a fêmea deposita os ovos, nós coletamos material genético em diferentes horários para avaliar a degradação do DNA e saber então a hora certa que temos que coletar o ovo e encontrar esse DNA da fêmea em estado preservado”, afirma Cristiane Araújo, membro do Programa de Conservação de Quelônios do Instituto Mamirauá.
A pesquisadora passou duas semanas no Parque Nacional do Araguaia, unidade de conservação com mais de 500 mil hectares por onde corre o rio Javaés, em companhia de especialistas da Universidade Federal do Tocantins (UFT), para fazer as coletas. Além do DNA extraído das cascas dos ovos de tartaruga-da-amazônia, material genético também foi recolhido de pedaços do tecido de patas de fêmeas da espécie.
As amostras estão em análise em um terceiro centro de pesquisa, parceiro do projeto, a Universidade Federal do Amazonas (UFAM), em Manaus. “Com os dados laboratoriais, queremos saber se as tartarugas desovam mais de uma vez na temporada nessa região”, conta a pesquisadora do Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Cristiane Araújo afirma que os testes atuais se aplicam para espécimes de tartaruga-da-amazônia, mas “de acordo com o avanço das pesquisas, vamos poder adaptar e reproduzir o método para outras espécies de quelônios amazônicos como a iaçá e o tracajá”.
Parceria amazônica, financiamento internacional
As coletas genéticas em tartarugas estão mobilizando três centros de ciência na região Norte do país: o Instituto Mamirauá e a Universidade Federal do Amazonas e a própria Universidade Federal do Tocantins. A WWF-Brasil também integra a cooperação. A Fundação Disney patrocina parte do intercâmbio entre as instituições e também financia ações de conservação de quelônios feitas pelo Instituto Mamirauá no estado do Amazonas, como monitoramento de ninhos e conservação comunitária de praias.
Texto: João Cunha
Foto: Cristiane Araújo
FONTE: Instituto Mamirauá
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