Dados do Inpe mostram que 2.414 km2 de floresta tombaram na Amazônia entre junho e setembro; secura, câmbio, “efeito Bolsonaro” e estrada no AM podem estar entre as causas

A taxa de desmatamento subiu 36% na Amazônia entre junho e setembro, período da pré-campanha e campanha eleitoral. Foram 2.414 km2 de floresta derrubada nesses quatro meses, comparados a 1.769 km2 no mesmo intervalo do ano anterior.

Os dados são do Deter B, o sistema do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que monitora a Amazônia em tempo quase real por satélites. Embora não sirva para fazer cálculo de área desmatada, o Deter B tem uma correspondência alta com o Prodes, o sistema usado para computar a taxa oficial anual de desmatamento.

Isso significa que a tendência observada pelo método mais rápido de detecção, caso se confirme no restante do ano, provavelmente também será refletida no número oficial.

Para obter os dados no sistema, o OC considerou três categorias de dano à floresta que também são analisadas pelo Prodes: desmatamento com solo exposto, desmatamento com vegetação e mineração. O Deter B monitora também outras cinco categorias, entre elas degradação por fogo e extração de madeira. Nem todas essas, porém, se convertem no final em áreas de corte raso identificadas pelo Prodes.

O desmatamento na Amazônia é medido de agosto de um ano a julho do ano seguinte. A série de dados de 2018-2019 começou com forte alta na taxa: 79% de aumento nos meses de agosto e setembro em relação ao mesmo bimestre do ano passado. Quando se somam os meses de junho e julho a elevação cai para 36%.

A alta no ritmo das motosserras não é novidade em períodos eleitorais. Segundo Paulo Barreto, pesquisador do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), em ano de eleição os governos locais tacitamente diminuem a fiscalização. Na Amazônia, neste ano, as polícias têm reduzido seu apoio às operações do Ibama.

“A questão é se isso será um pico causado pela conjuntura da campanha, que depois suaviza, ou se é uma tendência”, disse André Guimarães, diretor executivo do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). “Um risco é [o desmatamento] mudar de patamar como mudou nos últimos anos. Ele pode sair de controle se não houver uma ação coercitiva forte, que o contexto político não favorece.”

Em 2018, o componente político é explosivo não apenas na esfera local, mas também na nacional. O candidato líder nas pesquisas de opinião, Jair Bolsonaro (PSL), tem feito campanha pela Amazônia prometendo extinguir o Ministério do Meio Ambiente, que seria fundido com o de Agricultura e entregue aos ruralistas, e “acabar com a indústria das multas do Ibama”.

Segundo um agente público ouvido pelo OC, há relatos de que em algumas regiões esse discurso esteja sendo levado a sério e grileiros e produtores rurais estejam desmatando confiando numa anistia futura.

Os dois candidatos que disputam o segundo turno, Bolsonaro e Fernando Haddad (PT), também prometeram pavimentar a polêmica BR-319, rodovia que liga Manaus a Porto Velho. O asfaltamento da estrada é uma reivindicação antiga dos amazonenses, mas até agora não saiu porque implicaria em muito desmatamento numa das últimas regiões intocadas da floresta. Dois dos três municípios mais desmatados no período (Porto Velho, 2o lugar e Lábrea, no Amazonas, 3o lugar) estão no eixo da rodovia, uma das novas frentes de ocupação da Amazônia.

Mas há outros fatores que podem explicar a alta. Um deles é o clima: no ano passado, o período chuvoso em grandes porções da Amazônia se estendeu até o meio do ano, normalmente época de seca. Neste ano, a estiagem está forte e favorece as derrubadas.

Outro possível motivo é o câmbio. Com o dólar no patamar dos R$ 4 durante quase todo o período eleitoral, as exportações foram favorecidas e os produtores, em especial em Mato Grosso e Rondônia, ficaram com mais dinheiro na mão para abrir novas áreas.

Fonte: Observatório do Clima

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