Foram mais de 30 treinamentos e reuniões para conhecer e aprender a usar o Ictio, nas regiões do Médio e Alto Solimões, estado do Amazonas. O aplicativo, desenvolvido pelo projeto Ciência Cidadã para a Amazônia, permite o registro de atividades de pesca, com a criação de listas.

Comunidades no estado do Amazonas começaram a usar a ferramenta. Treinamentos estão sendo feitos pelo Instituto Mamirauá

O foco do trabalho são 20 espécies de peixes, escolhidas pela importância econômica e pelo tipo de migração que realizam. Para cada pesca, os usuários compartilham informações sobre locais, data e tipo de peixe pescado.

O Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), é um dos parceiros do projeto e está executando, desde julho de 2018, treinamentos nos municípios de Tefé, Alvarães, Uarini, Fonte Boa, Jutaí, Santo Antônio do Içá e Maraã. São várias comunidades, organizações de pescadores e até escolas envolvidas.

“Nessa primeira etapa estamos focando nosso trabalho em apresentar para os participantes as funcionalidades disponíveis no aplicativo Ictio. Em seguida, vamos avaliar junto com os nossos grupos de trabalho como essa ferramenta pode melhorar e ser cada vez mais útil para o dia a dia deles”, comenta Vanessa Eyng, analista de pesquisa do Instituto Mamirauá.

A comunidade Punã, próxima à cidade de Uarini, foi a primeira a receber o treinamento. Vários Agentes Ambientais Voluntários (AAVs) estão envolvidos no trabalho de registro da pesca pelo Ictio. E os pescadores e pescadoras da comunidade também gostaram muito da novidade.

A comunitária Ana Vieira Quinha ficou animada: “Daqui para frente tudo vai ser anotado, a quantidade, quantos quilos, qual a espécie de peixe que pegamos. E o aplicativo chegou bem a tempo! Estamos na época da seca, quando os peixes estão ‘arribando’ e pescamos muitos dos peixes que são importantes no aplicativo, como o surubim e o caparari“.

A Associação de Pescadores e a Colônia Z-54, ambas no município de Santo Antônio do Içá, também foram apresentadas ao Ictio. Françoise Souza, que trabalha no setor administrativo da Colônia Z 54, vê muito potencial para os pescadores que usarem o aplicativo.

 “O Ictio é uma maneira prática de registro, onde o pescador poderá ver a sua produção ao longo do tempo, quantos quilos de peixe ele pescou e até quanto ele gastou com esse trabalho”, avalia. “O uso desse tipo de ferramenta, o celular, não é muito comum para os pescadores mais velhos. Mas isso pode proporcionar interação entre eles e seus filhos, que geralmente fazem o uso mais frequente do celular. Uma boa oportunidade de diálogo entre pais e filhos, que é uma maneira dinâmica de desenvolver o projeto! ”.

No começo de outubro, foi a vez de comunitários que participam da Associação Comercial de Jutaí (ACJ) conhecerem o Ictio. Foram realizados dois treinamentos no município, envolvendo representantes das comunidades São Francisco da Ressaca Grande e Acapuri de Cima. Eles vão utilizar o aplicativo a partir de agora, por meio de um grupo de jovens e de pescadores mais experientes, especialmente indicados pelas comunidades para conversar sobre pesca e aprender com os jovens também.

Ocemir Gonçalves dos Santos, presidente da ACJ, ressalta a importância das parcerias que são estabelecidas em benefício da atividade de pesca. “A gente espera que esse projeto venha a ser um sucesso, porque juntos podemos saber mais sobre os peixes e suas migrações aqui na região”, aponta Ocemir.  

Quer conhecer o Ictio?

O Ictio foi desenvolvido pela equipe do Cornell Lab, da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. O aplicativo é compatível com Android 5.0 ou mais, e está disponível para download pelo Google Play.

O projeto Ciência Cidadã para a Amazônia

O projeto Ciência Cidadã para a Amazônia é resultado do trabalho associado da Wildlife Conservation Society (WCS) e atualmente é composto por Laboratório de Ornitologia de Cornell, Florida International University, Conservify, Instituto Mamirauá, Instituto del Bien Común, San Diego Zoo Global, Fab Lab Perú, Ecoporé, Sapopema, Universidad San Francisco of Quito, Rainforest Expeditions, Fundação Universidade Federal de Rondônia, Institut de Recherche pour le Développement, Universidad de Ingeniería y Tecnología, Instituto Sinchi, ACEER, CINCIA, ProNaturaleza, Instituto de Investigaciones de la Amazonía Peruana, Institute for Global Environmental Strategies, Earth Innovation Institute, FAUNAGUA, e Fundación Omacha.

Também, colabora com redes como a Iniciativa Águas Amazônicas, o Projeto Amazon Fish, Rios Vivos Andinos, Amazon Dams Network e International Rivers. O projeto é possível graças ao apoio da Fundação Gordon e Betty Moore.

Texto: Vanessa Eyng

FONTE: Instituto Mamirauá