Pesquisa feita pelo Instituto Ibope Inteligência para o WWF-Brasil (Fundo Mundial para a Natureza) revela que o desmatamento, a poluição das águas, a caça e a pesca ilegais e as mudanças climáticas são, na opinião dos brasileiros, as principais ameaças ao meio ambiente.
A pesquisa foi realizada entre os dias 21 e 26 de junho com 2.002 pessoas de 16 anos ou mais, de diferentes classes sociais, em todas as regiões do país e divulgada hoje (4) na véspera do Dia da Amazônia, que se comemora amanhã (5).
Ao comparar os dados deste levantamento com outro realizado em 2014, a diretora de Engajamento do WWF-Brasil, Gabriela Yamaguchi, disse à Agência Brasil que o desmatamento das florestas se manteve com 27% das citações. “Esse indicador mostra como as pessoas percebem o desmatamento como principal fator de ameaça no país. O mesmo aconteceu com a poluição das águas”.
Para Gabriela, o fato de a poupulação estar mais bem informada, elevou a percepção em relação à ameaça das mudanças climáticas, cujas menções subiram de 13% para 16%. “São as pessoas começando a perceber mais a conexão das mudanças climáticas para ameaça não só à natureza, mas também no contexto urbano”.
Orgulho nacional
Gabriela destacou a ligação entre as ameaças apontadas pelos brasileiros com outra parte da pesquisa que é a questão do orgulho em relação ao país. Todos os indicadores mensurados tiveram queda, refletindo o momento de crise iniciado em 2014. “A ordem dos temas de que eles mais se orgulham se manteve. Meio ambiente permanece em primeiro lugar como principal motivo de orgulho nacional”. Apesar disso, o percentual apurado em 2014, que era 58%, caiu este ano para 39%.
Em 2014, o segundo maior orgulho do brasileiro era a diversidade da população e da cultura, que aparecia com 37% de menções. Esse percentual caiu em 2018 para 26%. Já a questão da qualidade de vida subiu no conceito dos brasileiros de 28% em 2014, para 30% neste ano. Os dados evidenciam a preocupação maior dos brasileiros com as condições em que vivem, não só nas áreas urbanas. “A nossa leitura desses dois dados – orgulho do meio ambiente e orgulho da qualidade de vida coloca as duas agendas como muito relacionadas. Ter melhor qualidade de vida é ter também maior contato com o meio ambiente e as riquezas naturais”.
Todos os demais indicadores caíram nesta última pesquisa em comparação a 2014: esporte, de 30% para 23%; característica pacífica do país, de 19% para 9%. “Mostra muito que se está vivendo uma realidade de insegurança. A gente não tem a guerra por si só, mas tem toda a questão da violência urbana acontecendo”, explicou Gabriela. O percentual das pessoas que não responderam sobre esse último tema subiu de 8% para 13%.
Responsabilidade
Esse dado é confirmado por outro tópico da pesquisa que revela que nove entre dez entrevistados querem ter maior proximidade da natureza. De acordo com o levantamento, cresceu o percentual de brasileiros que gostariam de ter mais contato com o meio ambiente (de 84%, em 2014, para 91%). Houve incremento também em relação aos brasileiros que valorizam lugares com paisagens naturais quando vão viajar (de 62% para 82%).
Embora a população continue apontando o governo como principal responsável por cuidar das unidades de conservação, com 72% de menções (contra 74% em 2014), aumentou de forma significativa o percentual de brasileiros que atribuem também aos cidadãos a responsabilidade pela defesa dos recursos naturais. O número evoluiu 20 pontos percentuais, passando de 46% das citações, em 2014, para 66%, na sondagem atual. As organizações não governamentais (ONGs) ocupam a terceira posição, com 23%. Em 2014, receberam 20% das menções.
“Por meio dessa pesquisa, tem um recado muito claro: os brasileiros querem ver mais responsabilidade de todos os atores da sociedade, governo principalmente, cuidando dos nossos recursos naturais, cuidando da natureza como um todo, em uma conexão clara da qualidade de vida, qualidade das águas, com o seu bem-estar”, afirmou a diretora do WWF-Brasil.
Agendas
“A gente quer do governo essa agenda das áreas protegidas, da natureza e dos recursos naturais preservados. Isso é muito relevante para a população brasileira”.
Gabriela acredita que, por meio da educação, pode haver um maior engajamento da população com esses temas relacionados à natureza, uma vez que existe o interesse das pessoas e conscientização de que elas devem fazer parte das soluções.
“Há uma conexão entre as agendas que são do entretenimento, do lazer em família, com a agenda também da consciência. Eu escolho áreas que estão sendo melhor preservadas, que precisam ser defendidas, como uma maneira de valorizá-las e de ter maior contato com a natureza”, disse a diretora. Segundo ela, isso vem ocorrendo no comportamento de famílias do Brasil, em todos os extratos sociais.
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