Encerra hoje (10) o XVI Congresso da Sociedade Internacional de Etnobiologia que ocorreu simultaneamente com o XII Simpósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia durante esta semana na cidade de Belém/PA.
Profissionais e pesquisadores de mais de 40 países se reuniram para o evento, organizado pela Universidade Federal do Pará e o Museu Paraense Emílio Goeldi, que teve como tema central Belém + 30. Os direitos dos povos indígenas e populações tradicionais e o uso sustentável da biodiversidade três décadas após a Declaração de Belém.
Após 30 anos do primeiro Congresso Internacional de Etnobiologia, ocasião em que foi assinada a Declaração de Belém (documento pioneiro que, ao evidenciar a relação entre povos tradicionais e biodiversidade, também reivindicou os direitos desses povos aos territórios, recursos naturais e conhecimentos ancestrais), o objetivo do XVI Congresso foi refletir sobre avanços e desafios científicos, éticos, jurídicos e políticos relacionados aos povos indígenas e populações tradicionais e o uso sustentável da biodiversidade ao longo desse período.
Lílian Brandt, indigenista especializada na Coordenação Regional Araguaia Tocantins, apresentou o trabalho da Fundação Nacional do Índio (Funai) com o povo Karajá, na Ilha do Bananal/TO, que objetiva proporcionar o envolvimento ativo dos indígenas nas decisões tomadas em relação ao manejo do fogo* em seu território, prática de queimas controladas que leva em consideração aspectos técnicos, ecológicos e socioculturais e tem alta relevância para preservação de áreas florestais.
Mifando a Ilha – o manejo do fogo entre os Karajá
Brandt explica que os povos indígenas do cerrado sempre souberam como manejar o fogo e assim o fizeram por vários anos até que, no final do século XX e início do século XXI, houve proibição de tais práticas por parte do Estado, por se acreditar que todo fogo deveria ser combatido, o que levou a atrofia de parte desse conhecimento nas comunidades. Agora, a ideia da indigenista é fazer com que os Karajá compreendam o posicionamento atual do Estado sobre o manejo do fogo e, munidos dessas informações, possam participar de maneira ativa das decisões relativas a ele no território a qual pertencem.
Atualmente, há um Acordo de Cooperação Técnica entre Funai e Ibama que envolve a formação de brigadas indígenas. Quanto a isso, Brandt declara: “Minha ideia é que eles não participem apenas como executores dessa política, mas que estejam envolvidos nas decisões também. Apesar de já haver essa proposta no discurso, agora que, de fato, ela está sendo implementada junto aos Karajá.”
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