Historicamente o mês de julho abre a temporada de queimadas na Amazônia. O período de poucas chuvas e vegetação mais seca propicia o uso e a propagação do fogo.

Só no primeiro semestre de 2018, já foram registradas mais de 15 mil detecções de queima de vegetação no país, dos quais, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), 41% no bioma Amazônia. Os números são alarmantes, ainda mais considerando que queimadas na região amazônica geralmente não são acidentais e sim provocadas pela ação do homem, que usa do fogo para desmatar grandes áreas, iniciar cultivos e renovar pastagens, entre outras atividades.

Só neste ano, até meados de junho, o Brasil é considerado o terceiro país da América do Sul com o maior número de queimadas e incêndios florestais. Com a persistência do ar seco e a diminuição dos volumes de chuva, o número de incêndios e queimadas de origem antrópica aumenta consideravelmente. O Estado de Roraima, por exemplo, no extremo norte brasileiro e no coração da Amazônia apresentou o maior número de registros no primeiro trimestre – dois mil focos, ou um terço do total do país, como aponta o INPE.

“Até o final de 2018, os registros aumentarão significativamente, atingindo algumas centenas de milhares de focos – e isso considerando apenas os dados de um único satélite, o AQUA, tido como “referência””, diz o pesquisador do INPE e coordenador do Programa Queimadas – Monitoramento por SatélitesAlberto Setzer. Os incêndios trazem graves danos à saúde humana, provocam grandes prejuízos à floresta, a fauna e a flora são imensamente afetadas e o fogo causa emissões de gases que agravam o aquecimento global.

O Programa Queimadas surgiu oficialmente em 1998, ampliando o monitoramento da Amazônia brasileira que o INPE começou a realizar em 1988, porém com olhar atento apenas ao desflorestamento da região. Com o programa se passou a identificar também ações de queima na floresta, bem como incêndios em qualquer parte do país. Com a melhoria das tecnologias, satélites mais precisos e acesso a dados em tempo real, o programa vem sendo constantemente aprimorado.

De acordo com Setzer, na década de 1980 as informações eram difundidas por meio do telex, com a internet hoje se tem o acesso a dados em tempo real. O Programa Queimadas trouxe consigo a possibilidade de por em evidência a relação entre as queimadas e as mudanças climáticas. Com ele se mostrou a dimensão das queimadas, do desmatamento no Brasil já décadas atrás, com impactos extremamente relevantes dos pontos de vista ambiental, climático e científico.

O monitoramento de queimadas através de imagens de satélites é indispensável em um país como o Brasil, com dimensões continentais e muitas regiões remotas, sem meios intensivos de acompanhamento. O Programa Queimadas atualiza informações a cada três horas, diariamente. No total, são processadas cerca de 250 imagens por dia, produzidas por dez satélites distintos. O programa consolida todas as informações em um relatório diário automático, com tabelas e gráficos que permitem o uso inteligente das informações para trabalhos de combate aos incêndios, especialmente por grupos de brigadas de bombeiros e por secretarias de meio ambiente.

No contexto do Projeto Monitoramento Ambiental por Satélites no Bioma Amazônia (MSA), financiado pelo Fundo Amazônia e executado pelo INPE em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Instituto proporcionou o aperfeiçoamento do seu monitoramento de focos de queimadas e incêndios florestais na Amazônia, Cerrado e países vizinhos, com a inclusão de novos satélites no sistema e da reconfiguração da maioria das dezenas de seus produtos. O trabalho de “Aprimoramento do monitoramento de focos de queimadas e incêndios florestais”, também foi coordenado pelo pesquisador Alberto Setzer.

“O refinamento desse monitoramento de queimadas na Amazônia foi feito com a inclusão de novos satélites no sistema (NOAA-20, MetOp-B e NPP). Para tanto foram adquiridas e instaladas quatro novas estações para rastreio, recepção e processamento dos sinais e dados – um par de antenas em Cuiabá (MT) e outro par em Cachoeira Paulista (SP)”, destaca Setzer. A aquisição e instalação dessas antenas equivalem à maior parte de investimentos deste subprojeto.

Segundo Setzer, como parte da execução do trabalho, o website do Programa Queimadas foi inteiramente atualizado para melhor oferecer toda e qualquer informação desde focos de calor, incluindo área queimada e risco de fogo. Foi reestruturado também para atender demandas específicas de usuários, como o CIMAN Virtual, sistema de monitoramento e apoio ao Centro Integrado Multiagências, de Coordenação Operacional e Federal em Brasília e que integra dados derivados de satélites com informações, fotos e detalhes das equipes que estão em campo combatendo o fogo, em tempo real.

Do mesmo modo, o Programa Queimadas também atende o Sistema de Informações Ambientais Integrado a Saúde (SISAM), do Ministério da Saúde, uma ferramenta de análise de dados ambientais cujo escopo principal é compor um sistema de informação que auxilie no programa de saúde, combinando monitoramento de focos de queimadas, estimativas das emissões de queimadas, emissões urbanas e industriais e uma base de dados meteorológicos.

O Projeto Monitoramento Ambiental por Satélites no Bioma Amazônia (MSA), teve início em 2014 e ocorreu para apoiar o desenvolvimento de estudos sobre usos e cobertura da terra no bioma Amazônia, bem como a ampliação e o aprimoramento do monitoramento ambiental por satélites realizado pelo INPE. Foi executado pelo Instituto através de sua instituição de apoio, a Fundação de Ciência, Aplicações e Tecnologias Espaciais (Funcate) e o BNDES, com recursos do Fundo Amazônia. Nos dias 13 e 14 de agosto, no INPE em São José dos Campos ocorre o seminário de encerramento do projeto, onde serão apresentados e discutidos os resultados obtidos durante sua execução.

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FONTE: CCST – Ciência para sustentabilidade