Por meio de jogos e exercícios, os indígenas Waraos e Eñepas aprenderam como usar o equipamento de vídeo e escolheram temas e histórias que gostariam de registrar em seus filmes. Foto: OIM

Mais de 300 indígenas venezuelanos dos grupos étnicos Warao e Eñepas, autoridades locais e representantes de organizações não governamentais reuniram-se no fim de maio (31) no abrigo de Pintolândia em Boa Vista, Roraima, para uma edição especial do Festival Global de Cinema sobre Migração.

O evento foi realizado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), parceiros locais e autoridades para apresentar dois vídeos feitos por 20 migrantes indígenas após curso de quatro dias promovido pela OIM e pelo festival.

Os indígenas venezuelanos deixaram o país que enfrenta grave crise econômica e política em busca de alimentos e medicamentos, segundo a OIM.

Roraima registrou o maior fluxo de entrada de venezuelanos recentemente. De acordo com o governo brasileiro, até abril, mais de 40 mil venezuelanos entraram com pedidos de regularização de seu status migratório no país.

Por meio de jogos e exercícios, os indígenas Waraos e Eñepas aprenderam como usar o equipamento de vídeo e escolheram temas e histórias que gostariam de registrar em seus filmes.

Por meio de um processo de edição, produziram vídeos que foram apresentados à comunidade de Pintolândia, um abrigo estabelecido especificamente para migrantes indígenas e que atualmente abriga mais de 700 pessoas.

A iniciativa teve como objetivo empoderar e ampliar as vozes das comunidades afetadas e impulsionar a coesão social entre os diferentes grupos étnicos que vivem no abrigo.

De acordo com Madga Azevedo, representante da Secretaria de Trabalho e Bem-Estar Social de Roraima — que administra o abrigo — o método teve como objetivo fortalecer a integração dos dois grupos indígenas que dividem o espaço. “Foi emocionante ver as reações deles ao assistir aos vídeos. Foi sobre empoderamento e auto-reconhecimento”, disse.

Imediatamente depois da projeção, os indígenas falaram sobre o que sentiram ao assistir a obra que ajudaram a produzir junto com outros membros da comunidade. “Foi excelente porque nunca nos vimos desse jeito, por meio de uma câmera de vídeo. Foi como uma grande reunião entre as duas etnias que vivem ali. Foi maravilhoso ver isso acontecendo”, disse Baudilio Centeno, um participante Warao.

Karina Lopez, da etnia Eñepas, disse estar contente após a projeção. “Gostei de ver os dois vídeos e também gostei de que eles tenham sido feitos por nós”.

Aos 80 anos, Pillar Paredes foi a participante mais velha entre os dois grupos, e nunca tinha feito um vídeo na vida. Ela filmou um trecho em que apresentou uma dança Warao típica. Durante a projeção, ela se sentou ao lado de sua neta, que riu quando Pillar apareceu na tela grande cantando e dançando. “Decidi que vou ensinar as danças tradicionais para as crianças daqui”, declarou Pillar.

As duas facilitadoras do processo, Amanda Nero, oficial de comunicação da OIM, e Fernanda Baumhardt, do Norwegian Refugee Council, disseram que a iniciativa foi desafiadora, já que os dois grupos étnicos tinham formas muito diferentes de se expressar e comunicar. “Foi importante ter dois processos diferentes para cada grupo respeitar seu próprio ritmo e estilo”, disse Amanda. Fernanda observou que, apesar de vir de diferentes origens, os dois grupos também tinham similaridades. “Tinham histórias, necessidades e preocupações parecidas”.

A OIM realizou recentemente um estudo sobre os direitos e o status legal dos migrantes indígenas no Brasil, especialmente os Warao. Por meio do estudo, enfatizou as ferramentas legais disponíveis para conceder igualdade de tratamento a grupos indígenas brasileiros e venezuelanos e focou nas demandas dos Warao de reformular políticas públicas para suas necessidades específicas, salvaguardando sua identidade indígena. Mais informações sobre esta pesquisa podem ser encontradas aqui.

O curso de vídeo é uma iniciativa para ampliar vozes, empoderar e impulsionar a coesão social das comunidades que recebem fluxos de migrantes. O workshop começou em Amã, na Jordânia, em outubro do ano passado. Em novembro, a OIM foi para Malakal, no Sudão do Sul, para trabalhar com comunidades que fugiam da guerra e da violência e, em dezembro do ano passado, realizou um trabalho com um grupo de migrantes em Genebra.

A iniciativa é financiada pelo fundo de desenvolvimento da OIM e pelo NORCAP, braço de desenvolvimento do Norwegian Refugee Council (NRC).

Assista aos bastidores da produção dos vídeos:

FONTE: ONU – https://nacoesunidas.org/oim-promove-festival-em-roraima-para-apresentar-videos-feitos-por-indigenas-venezuelanos/