Reprodução/WWF Brasil/Peter Muller

O fim do desmatamento na Amazônia, algo que há alguns anos parecia irrealizável, hoje é possível e pode ser conquistado antes de 2030, para quando foi estabelecido o compromisso do Brasil para atingir a meta. Essa é uma das conclusões do relatório “Desmatamento zero na Amazônia: como e por que chegar lá” apresentado na manhã dessa quinta-feira (24) em seminário realizado em São Paulo por oito organizações ambientalistas: Greenpeace Brasil, ICV, Imaflora, Imazon, IPAM, Instituto Socioambiental, WWF-Brasil e TNC Brasil.

Relatório disponível aqui.

Depois de um período de redução nos índices, o desmatamento voltou a aumentar na região. A taxa média de corte da floresta entre 2013 e 2017 foi 38% maior do que em 2012. Do total desmatado, 65% são usados para pastagens de baixa eficiência, com menos de um boi por hectare. O retorno para a economia é ínfimo.

“A área desmatada da Amazônia já chega a 74 milhões de hectares. O que foi cortado entre 2007 e 2016 adicionou quase nada ao PIB, apenas 0,013%”, afirmou Paulo Moutinho, pesquisador sênior do Ipam. “Na Amazônia, uma árvore é capaz de reciclar 500 litros de água por dia. Esse gigantesco sistema de irrigação é fundamental. Desmatar é furar o regador do agronegócio”, disse.

De acordo com o pesquisador, zerar o desmatamento não prejudica o setor da agropecuária. “Essa atividade pode prosperar sem desmatar. O Brasil tem a chance única de ser o celeiro do mundo e, ao mesmo tempo, ter sua vegetação nativa preservada. Nossas florestas serão um grande ativo econômico em um mundo que sofre o processo de mudanças climáticas. Não temos o direito de perder esse ativo”, afirmou Moutinho.

Aproveitamento de áreas já desmatadas

Segundo o pesquisador da Embrapa Eduardo Assad, coordenador técnico nacional do Inventário Nacional de Gases de Efeito Estufa, é possível recuperar as áreas já desmatadas para atividades integradas de lavoura e pecuária. “Podemos usar essas áreas para aumentar a produção de carne sem desmatar nada. Na integração lavoura-pecuária, o boi engorda na sombra. É impressionante: chega a ganhar 300 gramas por dia. A produção de leite também melhora, aumentando de 3% a 4%”, afirmou Assad.

O professor titular do Instituto de Física da USP e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) Paulo Artaxo afirmou que é consenso na comunidade científica o entendimento de que, para diminuir emissões de gases de efeito estufa, não há nada mais barato que medidas para reduzir o desmatamento.

A diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade, Ana Toni, chamou atenção para a necessidade de se envolver a população da Amazônia no debate sobre o fim do desmatamento. “Sem olhar para a população local, sem olhar para os problemas locais, não vamos conseguir mudar esse quadro”, afirmou Toni.

O diretor de Sustentabilidade do Carrefour Brasil, Paulo Pianez, afirmou que a empresa, uma das maiores redes varejistas do país, tem, desde 2010, compromisso público pelo desmatamento zero. “Temos envolvimento com praticamente todas as cadeias críticas, como pecuária, setor sucroalcooleiro, soja, óleo de palma, madeira e carvão vegetal. Em certa medida, temos envolvimento direto com essas cadeias. Sob essa perspectiva, temos capacidade de sermos influenciadores do processo”, afirmou Pianez.

por Warner Bento Filho | WWF Brasil

(Foto da chamada: Reprodução/WWF Brasil/Peter Muller)

* Publicado em: WWF Brasil

FONTE: CCST – Centro de Ciência do Sistema Terrestre