De acordo com o gerente do Proamazonia, coronel Dovanil, o próximo passo agora é consolidar o apoio aos pesquisadores.
Chegar a lugares remotos e nunca estudados da Amazônia para fazer pesquisas é extremamente difícil, ainda mais quando os recursos são escassos. Para realizar a tarefa, há dois anos, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) contam com o apoio logístico do Exército e da Força Aérea.
“O Proamazônia está atendendo plenamente aos objetivos para o qual foi concebido: ‘Conhecer para Proteger’. É um programa que não tem fim e é para continuar pela eternidade”, afirma o general Theophilo Gaspar de Oliveira, criador do programa.
Idealizado em 2015 pelo ex-comandante Militar da Amazônia, o Proamazônia foi concebido com o objetivo de dar apoio logístico aos cientistas para realizarem pesquisas nas mais remotas regiões da Amazônia. O apoio abrange desde o deslocamento aéreo, terrestre e fluvial, até alojamento, alimentação, comunicação, energia e assistência à saúde nas áreas dos Pelotões Especiais de Fronteira (PEFs).
Integração
“Estamos aperfeiçoando cada vez mais este programa”, diz o general Theophilo, ao destacar que o Proamazônia, hoje, está se integrando ao Sistema de Defesa, Inovação e Academia (SisDia), vinculado ao Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército. Além disso, o Exército realiza, dentro dos Comitês de Defesa e Segurança (Comdefesa), das Federações de Indústrias do Brasil, uma integração entre a academia, os empresários e a Defesa, formando uma “tríplice hélice”.
“Queremos que os frutos dessas pesquisas sejam divulgados pelas empresas em forma de produtos rentáveis para que possam lucrar a partir dos investimentos”, explica o general. “E, nós, do Exército Brasileiro, queremos continuar colaborando com essa tríplice hélice, gerando emprego, tecnologia e conhecimento para o Brasil”, destaca.
Para o diretor do Inpa, o pesquisador Luiz Renato de França, um dos maiores incentivadores do Programa e um dos que mais acreditou na ideia do general Theophilo, a parceria com o Exército é importante pela posição e pelo trabalho que Instituto desenvolve, além do interesse natural do Inpa de realizar pesquisas nas áreas dos Pelotões de Fronteiras.
“É claro que o interesse do Inpa é de que o programa tenha continuidade, mas queremos que continue com mais pujança”, afirma França. “Como o Proamazônia já é um programa conhecido no Brasil entre os órgãos de fomento à pesquisa científica e tecnológica, e de incentivo à formação de novos pesquisadores a exemplo do CNPq e a Capes, as boas ideias devem continuar”, acrescenta.
Próximos passos
De acordo com o gerente do Proamazônia, o coronel Dovanil, o próximo passo agora é consolidar o apoio que já vem sendo dado aos pesquisadores, com a tendência do Proamazônia se fortalecer cada vez mais. “A importância de tudo isso é que o Exército está contribuindo para a pesquisa na Amazônia e para a ciência no Brasil”, afirma. “Esse contato entre a Defesa e os cientistas é um apoio para um bem comum, que é de facilitar que estas descobertas sejam realizadas”, ressalta o coronel.
No dia 16 de março deste ano, o general César Augusto Nardi de Souza assumiu o comando do CMA, substituindo o general Geraldo Antônio Miotto, que estava no cargo desde 2016.
Pesquisas
Desde 2017 o Inpa utiliza o apoio logístico do Proamazônia para realizarpesquisas com insetos em três PEFs: Auaris, Querari e Palmeiras do Javari, situados na fronteira com a Venezuela, Colômbia e Peru, respectivamente.
“Estes locais são áreas de acesso dificílimo. Nós não teríamos condições de chegar lá se não fosse com o apoio de aeronaves da FAB e do pessoal Exército, tanto aqui no CMA como lá nos PEFs”, conta o pesquisador do Inpa, Marcio Oliveira. Segundo ele, os PEFs estão em áreas nunca amostradas e com o apoio dado pelo Proamazônia os pesquisadores tentam cumprir a tarefa de desvendar a enorme biodiversidade da Amazônia. “Por isso, é importante a continuidade deste Programa, que é uma oportunidade espetacular dada aos pesquisadores pela ideia visionária do general Theophilo”, diz o pesquisador.
Para Oliveira, o ideal seria que o Proamazônia fizesse parte do portfólio do CNPq, contando com financiamentos exclusivos, a exemplo do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), em vigor desde em 1982.
O trabalho de Oliveira e de sua equipe é conhecer as espécies de insetos que ocorrem naquelas áreas e também saber se existe alguma ocorrência de insetos causadores de doenças aos seres humanos e às plantas. Segundo Oliveira, quando se trata de insetos, os números são astronômicos e pode se chegar à casa de centenas de milhares ou mesmo de milhões de organismos, que demandarão um “bom tempo” para serem processados e identificados.
Espécies novas
Márcio Oliveira está otimista e apostando em muitas novidades, que no “devido tempo”, segundo ele, serão informadas à sociedade científica. Em 2016, graças ao Proamazônia foi possível realizar uma expedição científica de 25 dias para a Serra da Mocidade, em Roraima.
Desse maciço de montanhas de quase dois mil metros de altitude, situada num dos lugares mais isolados da Amazônia brasileira, os pesquisadores trouxeram só de invertebrados mais de 50 novas espécies. Uma delas foi um escorpião Tityus (Atreus) generaltheophiloi, batizado em homenagem ao general Theophilo.
Sonho
O pesquisador conta que a parceria entre o Inpa e o Exército é algo sonhado desde há muito tempo pela comunidade científica do Inpa. “Sempre quisemos ter acesso a essas áreas remotas, mas sabíamos das dificuldades e o general Theophilo nos abriu essa possibilidade”, comemora Oliveira, ao lembrar o desejo do general de o Estado Brasileiro marcar presença, não só com tropas, mas também com outras atividades e uma delas seria a pesquisa científica.
“Estamos conseguindo amostrar pontos da Amazônia inimagináveis até algum tempo atrás”, diz o pesquisador. “É por isso que digo que é importante a continuidade do Proamazônia e que outros pesquisadores também participem com outras linhas de pesquisas, a exemplo de plantas medicinais, cogumelos comestíveis, biocosméticos, dentre outros”.
Estratégia de trabalho
Para realizar as pesquisas nos PEFs, os pesquisadores contam com o apoio, na forma de insumos, do Projeto RedeBia (Biodiversidade de Insetos na Amazônia), financiado pelo CNPq e coordenado pelo Dr. José Albertino Rafael, do Inpa. Nos PEFs, os pesquisadores contam com a colaboração dos comandantes e dos soldados, na retirada das amostras das armadilhas.
“A estratégia encontrada, foi instalarmos armadilhas para realizar coletas permanentes por pelo menos um ano”, diz o pesquisador, ao comentar que grande parte das coletas ainda está por vir. “O potencial que pode vir com o nosso e com outros grupos de trabalho é enorme, podendo surgir resultados importantíssimos”, aposta Oliveira.
Por Luciete Pedrosa – Ascom Inpa
Fotos: Daniel Ferreira (CMA), Felipe Xavier e T. Mahlmann – Inpa