Pesquisadores associados do Instituto Mamirauá fizeram a descoberta e acreditam que a baixa ocorrência de predadores dos ninhos nas ilhas pode estar associada a esse comportamento

Para os jacarés, a escolha do lugar para construir o ninho é essencial. É preciso estar atento aos predadores, como macacos e lagartos, que podem estar à espreita dos ovos. Na Amazônia, as ilhas de rio não são conhecidas por serem nascedouros de jacarés, mas uma descoberta recente pode ajudar a rever esse status. Em nota publicada na mais nova edição da revista especializada Herpetological Review, pesquisadores associados do Instituto Mamirauá registraram a ocorrência de onze ninhos de jacarés em seis ilhas fluviais. As ilhas estão localizadas nos rios Solimões e Japurá, na Amazônia Central.

O último e, até o momento, único registro dessa natureza foi em 1997, com a descoberta de um ninho de jacaré-açu (Melanosuchus niger) no arquipélago do Parque Nacional de Anavilhanas, Amazonas. A mais recente descoberta, feita pelos pesquisadores Rafael Rabelo e Kelly Torralvo, aconteceu entre setembro e novembro de 2014, durante estudo que desenvolveram pelo Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

À época, o grupo percorreu quinze ilhas no entorno e na região da Reserva Mamirauá, também no estado amazonense. Os ovos encontrados pertenciam a répteis das espécies jacaré-açu e jacaretinga (Caiman crocodilus). Do total de ninhos de jacarés-açu, dois apresentaram evidências de terem sido alvos de predação, como escrevem os pesquisadores na nota científica, um deles por uma onça-pintada e o outro por um jacuraru. 

De acordo com a nota científica, uma das causas mais frequentes de mortalidade de jacarés no período de incubação (quando os espécimes estão dentro de ovos) é a predação por outros animais.  “A ocorrência de espécies predadoras, como macacos-prego e onças, pode ser menor nas ilhas do que na floresta contínua”, destaca o documento, “então essas ilhas fluviais são locais de nidificação potencialmente bem sucedidos para espécies de jacarés”. Os autores afirmam que esse registro de ninhos de jacarés fornece “novas evidências para o uso de ilhas fluviais como locais de reprodução de espécies de jacarés na Amazônia, destacando a importância destas ilhas para a conservação dessas espécies”.

Texto: João Cunha
FONTE: INSTITUTO MAMIRAUÁ