Periódico centenário de circulação internacional agiliza processos editoriais e pratica ciência aberta na mais antiga instituição de pesquisa da Amazônia brasileira.

Santarém ou Konduri. Culturas ancestrais da Amazônia brasileira são distintas, mas nem tão distantes. Em artigo publicado na mais recente edição do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, demonstra que elementos dos vasos de gargalo, típicos da cerâmica Santarém, são encontrados na produção cerâmica Konduri. Na análise de Marcony Alves em “Para além de Santarém: os vasos de gargalo na bacia do Rio Trombetas”, sugestões prévias de compartilhamento dos vasos de gargalo são reforçadas. Para Alves, as ocorrências são indicativas de interações de produtores cerâmicos. Este é apenas um dos destaques da mais recente edição da revista do Museu Goeldi, que, em 2018, completa 124 anos.

Da Antropologia, artigo argumenta que políticas públicas que investem consideráveis recursos na atenção à saúde indígena são as mesmas que permitem agressões a território indígena. A contradição e a desatenção marcam as ações do Estado brasileiro no trato da saúde indígena é o que demonstram pesquisadores em “A cosmografia Munduruku em movimento: saúde, território e estratégias de sobrevivência na Amazônia Brasileira”. Daniel Scopel e co-autores discutem no artigo o significado do ambiente na visão integrada de saúde dos Munduruku.

A construção de corpos femininos do século XVI ao início do XX, através do poder simbólico das contas de vidro na América do Norte sob domínio hispânico, é o que trata outro dentre mais de uma dezena de artigos publicados na edição. Andreia Torres analisou material encontrado no Convento da Encarnação na Cidade do México.

 “O sertão virou rio e o rio virou sertão: um cineasta alemão e o Cinema Novo brasileiro”, argumenta por uma inscrição cinemanovista glauberiana na obra do cineasta alemão. O trato da Amazônia pela estética do Cinema Novo de Glauber Rocha teria inspirado a incursão de Werner Herzog que filmou na região nos anos 1970. Esse é o argumento de Renan Reis em contribuição da área das artes visuais.

Para além das áreas dos tradicionais temas da Antropologia, da Arqueologia e da Linguística a edição traz ainda contribuições da fotografia e da história da economia extrativista a partir das observações de naturalistas.

Com 240 itens submetidos desde que inaugurou, em 2016, o uso de plataforma online para recepção de artigos, o Boletim Ciências Humanas ganhou agilidade e, hoje, o tempo médio do processo editorial é de até 90 dias. A esse cronograma mais curto uniu-se um alto grau de segurança no controle do ineditismo das contribuições. Uma ação de divulgação sistemática, com abertura de novos canais para atender à diversidade de públicos, permitiu que o Boletim ganhasse a marca de mil seguidores em seu perfil no Facebook. As práticas de ciência aberta é o que pratica a revista centenária do Museu Paraense Emílio Goeldi.

Jimena Felipe Beltrão, jornalista, analista em C&T do Museu Paraense Emílio Goeldi e atual editora científica do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas. Texto exclusivo para a Agência Museu Goeldi. Reprodução autorizada com os devidos créditos.

Agência Museu Goeldi