A cada ano a natureza apresenta surpresas quando o assunto é relacionado à cheia e à seca nos rios do Amazonas. A cota d’água do Alto Rio Negro foi tão insignificante que a seca naquela região preocupa muito mais a Defesa Civil do Amazonas que a enchente na calha do Madeira, termômetro para os níveis máximos em todo o Estado. A situação é tão crítica que está prejudicando a trafegabilidade, deixando comunidades praticamente isoladas. Agora que começou a chover, mas o nível do rio ainda é baixo.
“Tivemos um déficit de água no Norte do Amazonas fazendo com que São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel do Rio Negro, ambos na calha do Rio Negro, entrassem em situação de emergência e Barcelos em estado de alerta. O quadro é preocupante porque os comunitários ficam isolados. Eles dependem do transporte fluvial e os rios estão secos”, adiantou o secretário da Defesa Civil do Estado, Fernando Júnior.
Segundo ele, em São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros de Manaus) são nove comunidades ocupadas por 12.709 moradores. Em Santa Isabel do Rio Negro (a 629 quilômetros de Manaus), são 67 comunidades, totalizando 7.608 pessoas que estão amargando as consequências da seca.
O fenômeno está provocando tantos danos que a Defesa Civil já está se mobilizando para enviar mantimentos, água e remédios para as comunidades mais isoladas dos dois municípios. E pensar que o verão amazônico só começa em julho. “Já estamos nos preparando para levar sextas básicas, medicamentos e água para essas comunidades. O transporte deverá ser feito por via aérea e fluvial”, afirmou o Júnior.
Desastres
No mês passado, o Centro de Monitoramento e Alerta do órgão (Cemoa) já detectava “estado de atenção” para a calha do Alto Rio Negro devido um déficit significativo de chuvas na região. O “estado de atenção” é o primeiro estágio do desastre. Nesse momento, as Defesas Civis Municipais adotam os procedimentos preparatórios para um possível desastre, identificando áreas que podem ser afetadas, levantamento de possíveis afetados, isolamento de área, entre outras ações.
Ainda no mês de março foi observado 79 mm de precipitação, 29% abaixo do esperado para a primeira quinzena, que era de 112 mm de chuvas.
Segundo dados da rede de monitoramento da Agência Nacional de Águas (ANA), o rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira, registrou na metade do mês, o nível de 4,76m, faltando 1,46m para atingir a mínima histórica de 1992, que foi de 3,30m.
Situação atípica
Em relação à cheia, a situação é menos preocupante. Por enquanto está em estado de “Emergência” somente o município de Apuí, na calha do rio Madeira. O quadro positivo, pelo menos por enquanto. De acordo com a Defesa Civil do Amazonas, hoje, por exemplo, 18 municípios estão em situação de risco, provocada pela enchente. O quadro é totalmente atípico em relação ao do ano passado, quando eram 49 estavam nessa situação, no mesmo período. “O que ainda nos preocupa é a calha do Madeira. Todos estávamos esperando o fenômeno ‘El Niño’, que provoca as chuvas. Ele veio, mas não trouxe as características que sempre trás, que é de muita chuva”, disse o Secretário da Defesa Civil, Fernando Júnior.
El Niño
El Niño é um fenômeno atmosférico-oceânico caracterizado por um aquecimento anormal das águas superficiais no Oceano Pacífico Tropical. Altera o clima, mudando os padrões de vento a nível mundial, afetando assim, os regimes de chuva em regiões tropicais e de latitudes médias.
Nelson Brilhante
FONTE: A Crítica
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