O Brasil é o segundo país com a maior área florestal do mundo, possuindo mais da metade do seu território coberto por florestas. E é na região Amazônica que encontramos a maior parte de sua floresta nativa, sendo essa região responsável pelo fornecimento de um grande volume de madeira para indústrias brasileiras. 

Para levantar informações sobre a cadeia produtiva de madeira na microrregião de Tefé, no estado do Amazonas, a pesquisadora do Instituto Mamirauá, Viviane Marcos, desenvolve a pesquisa “Caracterização da cadeia produtiva de madeira da microrregião de Tefé”, que contempla as cidades de Alvarães, Tefé e Uarini, no estado do Amazonas.

De acordo com a economista, a pesquisa é importante para produzir dados concretos sobre a cadeia produtiva de madeira na região central do Amazonas. “Atualmente esse tipo de estudo se concentra na região metropolitana de Manaus, onde há os maiores índices de retirada de madeira. Por isso, é importante compreender a cadeia produtiva local e pensar em políticas públicas que funcionem de maneira mais eficiente para o cenário que temos aqui”, explicou Viviane.  

A pesquisadora busca também revelar o perfil socioeconômico dos principais integrantes dessa cadeia, analisar a viabilidade econômica da produção de madeira licenciada e não licenciada na região, além de estimar a quantidade de madeira explorada nas comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

Para isso, Viviane realiza atualmente entrevistas com serradores de madeira e moveleiros da região. “Em relação aos serradores, nós buscamos quantificar quanto e quais as espécies de madeira eles serram em sua cidade, quais as principais peças serradas e como eles fazem uso desse recurso. Se vendem ou prestam serviço, por exemplo”. Há também uma análise mais qualitativa, onde a pesquisadora investiga quais as principais dificuldades enfrentadas por esses profissionais e que medidas eles acreditam que poderiam ser tomadas para melhorar esse cenário.

Nas movelarias, Viviane busca descobrir o que é produzido em maior quantidade e o qual é o volume e espécies de madeira utilizada para isso. “Também queremos descobrir qual é a origem dessa madeira. Se ela vem de serrador, manejo ou até mesmo de uma extração própria”, disse. Na entrevista também são abordados os gargalos do setor e como se relacionam com demais atores da cadeia.

Parceria com o Programa de Manejo Florestal Comunitário

A pesquisa desenvolvida por Viviane anda lado a lado com as atividades do Programa de Manejo Florestal Comunitário do Instituto Mamirauá. “A minha pesquisa busca responder alguns questionamentos ligados ao manejo florestal. Como, por exemplo, quais são os fatores que dificultam a entrada da madeira manejada no mercado local e qual é o valor praticado no caso da madeira não manejada”.

Outro fator importante é o perfil do consumidor final. Nesse caso, o objetivo é descobrir se o uso da madeira manejada ou não influencia na hora da compra do produto. “Queremos descobrir o que o consumidor leva em consideração na hora de comprar a madeira e de que forma ela é utilizada”. De acordo com Viviane, esse tipo de informação é importante para fundamentar o planejamento de ações de manejo florestal economicamente viváveis para a população local. “A perspectiva do consumidor final é imprescindível para nortear os dados de produção e beneficiamento quando tratamos da regularização da cadeia produtiva de madeira, já que a comercialização, no contexto local, depende diretamente do consumidor”, afirmou.

Os próximos passos da pesquisa

A pesquisa desenvolvida por Viviane desde 2015 tem um cronograma previsto de três anos. Até o momento, a pesquisadora entrevistou 18 serradores e 14 moveleiros nas três cidades. Até setembro de 2018, mais 23 donos de movelarias devem ser entrevistados e pelo menos mais 04 serradores, além de intermediários da cadeia, como compradores de madeira para revenda, além dos extratores que trabalham com madeira manejada para fechar todos os pontos da cadeia produtiva. Para os consumidores finais, uma amostra da população de Tefé também será ouvida.

Com as informações coletadas, a economista espera fundamentar novas discussões a respeito da produção madeireira e o meio de vida dos atores que atuam neste setor. “Também esperamos contribuir com as comunidades da Reserva Mamirauá no processo de comercialização da madeira manejada, que hoje disputa mercado com madeira não licenciada”.

A pesquisa do Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), conta com financiamento da Fundação Gordon and Betty Moore.

Texto: Laís Maia

FONTE: INSTITUTO MAMIRAUÁ